A matéria revela o desespero de Sheryl Sandberg ao tentar reanimá-lo, descreve sua impotência diante daquilo que não poderia mudar, o último abraço no corpo sem vida do pai de seus dois filhos, os seus gritos lancinantes no corredor do hospital. A dor devastadora da morte de uma pessoa amada nos iguala no luto, não importa a posição, a riqueza, o sucesso.
Sheryl Sandberg, que encampara há 4 anos a batalha da equidade de gênero nas carreiras e cuja trajetória fora sempre marcada pela determinação de enfrentar os obstáculos de sua história pessoal e profissional, sentiu, pela primeira vez, o que é ser engolida pelo vazio, “uma sensação que comprime o peito e não nos deixa respirar”, como ela descreve. Habituada a resolver “qualquer coisa”, viu que nem todas as coisas podem ser resolvidas. Mas podem, como ela mostra no livro que escreveu com seu amigo e cientista social Adam Grant, ficar melhor. “Se não temos mais a Opção A”, diz a executiva “vamos fazer o melhor possível com a Opção B”.
Um mês depois de ter ficado viúva, Sheryl Sandberg fez o primeiro desabafo pelo Facebook: “Eu acho que quando uma tragédia acontece, você tem uma escolha. Você pode se lançar no vácuo, no vazio que se instala no seu coração, nos seus pulmões, contrai sua capacidade de pensar ou até de respirar. Ou você pode tentar achar um significado. Nestes últimos 30 dias, eu passei a maioria dos meus momentos perdida nesse vácuo”.
A executiva emergiu do vácuo com a uma corajosa Opção B: um livro e um site dedicado a acolher, inspirar e compartilhar experiências de quem enfrenta o luto e outros dramas pessoais. Com a ajuda de Grant, professor da Wharton School e phd em psicologia, ela propõe, em primeiro lugar, quebrar os três mitos que tornam mais difícil a recuperação diante da adversidade. O primeiro é pensar que de alguma forma, somos responsáveis pelo que nos aconteceu. O segundo é que a tristeza deve cobrir todo o espaço da nossa vida, de parede a parede. O terceiro é o que nunca mais nos sentiremos melhor. Seu maior ensinamento é a mudança de olhar e atitude sobre as inevitáveis perdas e decepções. Não nascemos com cérebros naturalmente resilientes, mas podemos treinar a nossa mente para evitar a armadilha do pessimismo. Sheryl Sandberg recorre à teoria do psicólogo Martin Seligman cujos estudos mostram que as pessoas que conseguem dar a volta por cima são as que superam os três Ps, como ele classifica esses comportamentos nocivos.
1- Personalização – fuja da tentação de achar que é sempre sua culpa. Assuma a responsabilidade sobre seus atos, mas entenda que nem tudo é sobre você. Sem a personalização, fica mais fácil aceitar erros e não ser abatida por eles.
2- Pervasiveness– a palavra em inglês não tem uma única tradução em português mas pode ser bem compreendida como “prevalência” ou “contaminação”. Não deixe que um acontecimento negativo prevaleça e contamine toda a sua vida. Mesmo diante dos piores obstáculos pessoais conseguimos encontrar alegria em alguma esfera. Sheryl conta que, ao voltar ao trabalho, 10 dias depois da morte do marido, conseguiu por alguns ínfimos segundos ter sua atenção captada por algum tema em uma reunião e desviada fugazmente da sua dor. “Aqueles breves segundos” , abriram uma janela de perspectiva futura. Eu me apeguei e me apoiei neles”.
3- Permanência – tendemos a achar que tudo o que está acontecendo conosco vai durar para sempre. Que os dias ruins permanecerão. Nossa ansiedade nos conduz a mais ansiedade. “Sentimos tristeza”, diz Sheryl e depois ficamos tristes por estar tristes…”. A sabedoria está em apenas aceitar que estamos tristes naquele momento. E basta. Ter consciência de que nada será permanente nos leva a aproveitar todos os minutos da nossa vida. E ser grata por todos eles.
Estas lições, ela conta, não foram fáceis de ser aprendidas . O primeiro sintoma do seu luto foi perder completamente a auto-confiança: “Eu achava que nunca mais poderia ser uma boa amiga, não seria mais capaz de fazer bem o meu trabalho”. Em seu primeiro dia de volta ao trabalho depois da morte do marido, ela pegou no sono durante uma reunião, confundiu-se e não reconheceu um colega e saiu às duas da tarde para buscar os filhos na escola. À noite, ligou para o chefe, Mark Zuckerberg (fundador e presidente do Facebook) e disse a ele que não sabia se ela deveria estar lá. “Mark respondeu, ‘fique em casa o tempo que precisar. Mas, na verdade, eu gostei muito de tê-la aqui hoje, você trouxe dois pontos muito importantes para a reunião‘”. Esse pequeno voto de confiança teve um grande efeito sobre Sheryl e mudou a sua forma de proceder consigo e com os outros diante de uma adversidade. Hoje, diz, ela não dispensa do automaticamente do trabalho uma pessoa em sofrimento sem antes perguntar o que prefere. Entendeu que ao tentar proteger alguém da dor eximindo-a de suas responsabilidades, podemos às vezes estar impedindo a pessoa de encontrar a melhor forma de enfrentar o seu processo.
Com o tempo, relata a matéria da Time, Sandberg emergiu da neblina: sua mãe não precisa mais se deitar ao seu lado todas as noites enquanto ela chorava até pegar no sono. Ela dançou em uma festa e se sentiu momentaneamente feliz. Não viaja tanto e evita muitos jantares de trabalho, mas tem saído de casa. Voltou a tocar piano, pedalar com os filhos e, encorajada pelos cunhados, até a namorar. Todos os dias, porém, seu coração se aperta por saber que nada fará com que seus filhos tenham o pai de volta. Poucas semanas depois que o marido morreu, houve um evento para os pais na escola e um amigo sugeriu designar um “pai substituto” para eles. Sandberg protestou que não seria o mesmo que ter Dave lá. O amigo a abraçou e disse: “A opção A não está disponível. Vamos fazer o melhor possível com a Opção B”
Assista também à comovente entrevista que Sheryl Sandberg concedeu, a respeito da sua experiência com o luto ao programa CBS News