A cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio em algum lugar do mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ele é a segunda maior causa de mortes em jovens de 15 a 29 anos, e acredita-se que para cada adulto que põe fim à própria vida há mais de 20 que tentaram.
A OMS chegou a conclusões estatísticas de que nos países ricos o suicídio é uma das principais causas de mortes. Comprovou também que os homens se matam mais que as mulheres na proporção de 3 homens para cada mulher. Contudo, nas tentativas, as mulheres lideram: elas são 67% dos casos, ao passo que os homens totalizam 33%. Por faixa etária, os idosos se suicidam mais, porém os jovens são aqueles que mais tentam por fim à vida.
Apesar desses números alarmantes, pouco se fala sobre o tema. Muitos acreditam que falar seja ruim, pois em vez de combatê-lo, encorajaria as pessoas a praticarem esse ato infeliz. Porém, a nosso ver, o silêncio da sociedade pode ser pior, dado que a maioria das pessoas com pensamentos suicidas não tem com quem conversar ou falar abertamente, e tratar do tema permite que eles contemplem outras soluções para seus problemas dando tempo de repensarem suas decisões.
O comportamento suicida é – importa dizer – uma desordem com origem múltipla e ocorre em pessoas que estão profundamente infelizes, talvez passando por momentos de ansiedade, depressão, desesperança e que acreditam não haver outra opção. Vários fatores influenciam neste comportamento como doenças graves, problemas psiquiátricos, problemas sócio-familiares (separações, isolamento, perda de emprego etc.).
Desta forma, não se pode acreditar que os pensamentos e o comportamento suicida ocorram somente nas pessoas com “doenças mentais”. Na maioria das vezes, o indivíduo que tem ideias suicidas dá sinais dessa intenção. Ele fala coisas como “não aguento mais” ou “quero morrer”, por isso é necessário ficar atento a essas falas e alarmes, pois o suicídio pode ser prevenido, e todas as pessoas que apresentam sinais de comportamento suicida não podem ficar ignoradas, mas devem, sim, ser encaminhados a um serviço médico e psicológico.
Feito todas essas considerações, é necessário ressaltar que temos em mãos um importante instrumento para o combate e a prevenção do suicídio: a religião. Um estudo publicado em 2004, na American Journal of Psychiatry, a avaliar pessoas com depressão, demonstrou que homens e mulheres sem nenhum vínculo religioso tiveram mais tentativas de suicídio ao longo da vida. O estudo também revelou que os indivíduos sem religião apresentavam menos objeções morais para o suicídio e menos razões para viver, além de comportamentos mais impulsivos e agressivos. Daí, o estudo concluir que ter uma religião poderia ser fator protetor contra tentativas ou concretização de suicídio. A partir desse dado, duas considerações podem ser feitas:
1) É preciso não descuidar, mas auxiliar na caridade as pessoas que pedem ajuda diante do propósito de tirar a própria vida. Pensamos, ademais, que toca aos sacerdotes e profissionais da saúde atender com paciência a quem os procura com o intento de se suicidar, buscando ajudá-los a superar esse intuito mórbido, bem como apoiar os solitários a fim de não sucumbirem ante os embates da vida.
2) Em um mundo secularizado como o nosso, faz-se urgente lembrar às pessoas os verdadeiros valores morais dentre os quais o que ensina que, objetivamente falando, o ato de tirar a própria vida é pecado grave a levar o suicida ao risco iminente da perdição eterna, embora, do ponto de vista subjetivo, ninguém possa afirmar quem se salva ou se condena, dado que a justiça e a misericórdia de Deus nos são insondáveis, bem como e é difícil saber o estado psíquico, atenuante de culpa, de quem comete esse desatino (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 2280-2283).
É necessário, pois, falar do suicídio, não para fomentá-lo, é evidente, mas, sim, para combatê-lo com todos os meios lícitos, na teoria e na prática. Hoje e sempre.
Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo; Igor Precinoti é médico, pós-graduado em Medicina Intensiva (UTI), especialista em Infectologia e doutorando em Clínica Médica pela USP.