Há 56 anos, o CVV (Centro de Valorização da Vida) se dedica a atender pessoas carentes de apoio emocional e com ideações suicidas. Desde a sua criação, os voluntários atenderam, em média, um milhão de pessoas por ano. Mas, em 2017, o serviço bateu recorde. Pela primeira vez, foram registrados 2 milhões de atendimentos, segundo levantamento divulgado ao UOL. O crescimento significativo tem raiz em dois pilares importantes, segundo a instituição: o primeiro deles foi o convênio fechado com o Ministério da Saúde, que promoveu uma expansão e a gratuidade de rede 188, primeiro telefone sem custo de ligação para a prevenção do suicídio, que chega a sete novos estados brasileiros no dia 30 de março — Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Com isso, aumentou para 22 mais o Distrito Federal aqueles que agora oferecem esse acesso à população
Já a segunda razão diz respeito ao lançamento, em maio, da série da Netflix “13 Reasons Why”, cujo enredo gira em torno do suicídio da jovem estudante Hannah Baker. “O mundo moderno tem feito com que a ansiedade e depressão cresçam cada vez mais. Então, a ampliação das condições de acesso contribuiu muito para o aumento dos números”, diz Robert Gellert Paris Junior, presidente do CVV. “Mas a chegada da série teve um grande impacto também. Nossos gráficos registraram picos de atendimento na época.”
A crise econômica tem a ver com isso? Segundo Robert, queixas relacionadas a problemas financeiros e desemprego sempre foram comuns. “Mas existe hoje uma sensação de desesperança muito forte nas pessoas que nos ligam. E isso tem, sim, a ver com a conjuntura econômica atual”, diz.
O que as pessoas que procuram o CVV têm em comum? Apesar de o perfil dos atendidos não ser revelado, suas motivações para a procura do serviço já foram mapeadas. Sensação de solidão, não-pertencimento e dificuldade de desabafar são três fatores comuns àqueles que procuram a ajuda de um voluntário. “Há jovens que nos ligam dentro das festas, porque estão se sentindo sós no meio da multidão”, conta. “E a queixa da falta de escuta por parte de amigos e familiares tem sido cada vez maior entre jovens. Enquanto cresce a facilidade de se expor na internet de maneira superficial, aumenta na mesma proporção a dificuldade de comunicação real e séria. A gente ouve com muita frequência: ‘Vou contar uma coisa que nunca disse a ninguém’.” A garantia de sigilo contribui muito para a confiança.
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