Nada torna mais fácil enfrentar a ideia de que alguém próximo ou mesmo um desconhecido cometeu suicídio. Usar expressões como tirar a própria vida ou ter vontade de morrer não deixam o tema menos doloroso. Conversar sobre o assunto é igualmente constrangedor. Como se fosse um desrespeito a quem se matou.
Mas todo o silêncio que cerca a questão protege uma realidade assustadora. No Brasil, segundo o Mapa da Violência do Ministério da Saúde, 25 pessoas tiram a própria vida por dia e outras 50 tentam fazê-lo. É um brasileiro que se mata a cada 45 minutos. A tendência já aparece em estudos acadêmicos. Um trabalho da Universidade Federal de Campinas mostrou que 17% dos brasileiros já pensaram seriamente em colocar um ponto final em sua vida. E o que é ainda mais preocupante – segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que há 53 anos se ocupa de atender pessoas em situação de vulnerabilidade que pensam em cometer suicídio – as taxas estão crescendo rapidamente entre os mais jovens no Brasil.
Trata-se de um problema de saúde mental de grande extensão e que, como tal, precisa ser abordado. Mas como ajudar a superar a vontade de se matar? Para as organizações de prevenção do suicídio e especialistas que atuam nessa área, o caminho mais imediato é começar a falar mais abertamente sobre esse drama. É, na verdade, o contrário do que a sociedade tem praticado ao permitir que os tabus acerca do tema se mantenham.
Com o suicídio, na prática, acontece o mesmo que ocorria no passado quando as pessoas queriam se referir aos pacientes com câncer e, mais recentemente, àqueles que vivem com a Aids.
“As pessoas não diziam câncer, era comum ouvir ‘fulano tem aquela doença lá’. Era como se, ao dizer a palavra, a pessoa estivesse chamando a doença. Com o suicídio, acontece o mesmo hoje”, diz o psiquiatra Carlos Felipe D’Oliveira, da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio e ex-coordenador do Programa Nacional de Prevenção do Suicídio do governo.
“É preciso dar visibilidade ao assunto porque indivíduos e familiares que estão enfrentando a situação se sentem muito isolados e não conseguem encontrar informações”, diz o psiquiatra.
Falar abertamente sobre o suicídio — segue tendências internacionais e reflete a experiência dos especialistas na prática clínica. “Você vê profissionais de saúde que não conseguem abordar diretamente quem está sofrendo, mas é preciso perguntar na lata se a pessoa está com vontade de se matar”, diz Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “O que eu percebo quando faço essa pergunta é o alívio imediato no semblante dessa pessoa que está visivelmente sofrendo por não poder falar sobre o assunto.”
http://brasileiros.com.br/2015/10/quando-vida-esta-por-um-fio-falar-e-melhor-solucao/