O preconceito e a dificuldade em falar no tema suicídio ainda são entraves para a prevenção.
Doenças mentais estão presentes em 90% dos casos de suicídio, segundo o estudo mais atual da OMS (Organização Mundial da Saúde), realizado em 2002. Já a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) fala em quase 100% dos casos estarem relacionadas a doenças mentais. Entre essas doenças, os transtornos de humor – depressão e transtorno bipolar (alternância entre estado depressivo e de euforia) – lideram as mortes, com 35,8%. Entretanto, o preconceito e a dificuldade em falar no tema ainda são entraves para a prevenção.
“A depressão muda a visão de mundo, a pessoa deixa de acreditar na possibilidade de melhora, não vê luz no fim do túnel”, explica Neury Botega, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de pesquisa que mostra que 17% da população já pensou em suicídio no Brasil. “Quando, além da depressão há o desespero, surge uma dor psíquica insuportável, vista como interminável. A ideia de suicídio, antes assustadora, pode passar a ser vista como uma saída para cessar a dor.”
Cerca de 25% da população brasileira já teve um ou mais transtornos mentais ao longo da vida, diz a ABP. Já a OMS estima que 350 milhões de pessoas de todas as idades (4,7% da população mundial) sofrem de depressão em todo o mundo. Devido à alta abrangência da doença, a depressão é a doença mental mais associada ao suicídio, diz a ABP. São coisas completamente diferentes. Há sim um estigma, e o estigma dificulta a decisão de buscar ajuda”, lembra Botega. Ainda de acordo com a ABP, cerca de 50% a 60% das pessoas que se suicidaram nunca consultaram um profissional de saúde mental.
Mas isso não quer dizer que todos os deprimidos vão cometer suicídio, enfatiza Alexandrina Meleiro, professora da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da ABP. São necessários diversos fatores conjuntos para se chegar ao suicídio — problemas financeiros, como a perda do emprego; problemas conjugais, como uma separação; dificuldades relacionadas à aceitação da orientação sexual pela pessoa e pela sociedade; no caso de adolescentes, o desarranjo familiar é decisivo, além do modo que a pessoa leva a vida (se leva tudo para o extremo, 8 ou 80), por exemplo.