No mês que evidencia a defesa da vida, o debate sobre o que vem depois do suicídio também entra em pauta. Mais do que atenuar a dor de familiares e amigos, a posvenção ao suicídio é uma ferramenta para evitar que mais mortes aconteçam.
“Para suicídio, não se tem vacina. É necessário que se faça prevenção e posvenção”, defende o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção à Vida e Prevenção ao Suicídio do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre.
Autor do livro “Prevenção do Suicídio – Implantação de uma rede intersetorial”, Nogueira explica que, após um suicídio, muitos familiares, amigos e colegas de trabalho passam a se sentir culpados pelo fato, por não terem percebido sinais e evitado a morte.
Ao mesmo tempo em que há a necessidade de falar sobre o assunto, é comum que se coloque uma pedra sobre o tema. “O grande problema é que não se quer tratar do assunto. A dor é muito grande.”
De acordo com o profissional, com o aumento de casos de suicídio entre meninas de 14 a 19 anos – hoje, ele é a primeira causa de morte entre garotas desta faixa etária -, observa-se que muitas mães também tentam tirar a própria vida. “Já tinha-se notado isso entre irmãos, colegas de aula ou de trabalho que, até um ano depois do suicídio de um familiar ou amigo, também se suicidavam. A partir disso, viu-se o quanto é importante tratar o luto dos que ficam, o que chamamos de posvenção”, explica, ao lembrar que a existência de suicídios na família está entre os fatores de risco para o suicídio, assim como tentativas anteriores e doenças mentais como depressão e transtorno bipolar.
Pesquisa
Junto de Candelária, Santa Cruz do Sul e São Lourenço do Sul, Venâncio Aires foi alvo da dissertação de mestrado de Nogueira, na qual o médico analisou 180 suicídios. ‘Uma única família em Venâncio Aires tinha 17 suicídios’, comenta. “É muito importante buscar atendimento. Precisamos tratar o luto dos familiares.”
Quando acontece o suicídio, ninguém quer falar, mas é preciso criar uma consciência de resiliência, de suportar o luto”, Ricardo Nogueira, psiquiatra.
Segundo Nogueira, o trabalho com grupos de sobreviventes é uma das ferramentas efetivas de posvenção. Para isso, o psiquiatra destaca a importância dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e a necessidade de os serviços estarem acessíveis à população. “Precisamos capacitar os profissionais da rede de saúde para saberem lidar com isso, começando pelos agentes comunitários de saúde.”
Importante
– Especialistas atentam ao fato de que o suicídio não ocorre por um único motivo, mas, sim, é resultado de uma série de fatores biológicos, ambientais, psicológicos e sociais. Da mesma forma, vários fatores podem ajudar a prevenir o suicídio, como a convivência familiar, diálogo, hábitos de vida saudáveis e acompanhamento médico, em casos de doenças mentais.
– Frases como ‘Estou sendo um incômodo’, ‘Gostaria de sumir’, ‘Não sei mais o que faço’, ‘Queria dormir e não acordar mais’ podem indicar risco de suicídio. Nesses casos, é fundamental buscar atendimento médico o quanto antes.
Ajuda gratuita
– O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e escuta a pessoas que estão com pensamentos suicidas ou queiram conversar. Basta ligar de forma gratuita para o telefone 188 ou acessar o chat pelo site www.cvv.org.br, para conversar com um dos voluntários. O atendimento é sigiloso e ocorre 24 horas por dia.
– O Caps II de Venâncio Aires conta um grupo de luto para quem sofre com a perda de um familiar ou amigo. Os encontros, coordenados pela psicóloga Camile Luiza da Rosa, ocorrem quinzenalmente, nas sextas-feiras à tarde. Para participar, basta procurar o Caps, na rua Visconde do Rio Branco, 517, ao lado do posto de saúde Central.