“Vou aproveitar que todo mundo está falando sobre o assunto. Acho que é o momento de contar.” Foi isso que pensou a empresária paulista Carla Hidalgo, 25 anos, ao ver a repercussão de 13 Reasons Why nas redes sociais. Mais de dez anos depois de ela ter tentado se matar, muitas pessoas próximas ainda não faziam ideia de que isso havia acontecido. “Sempre me incomodou o fato de não poder falar a respeito. Não era por mim, mas pelos outros”, conta. “As pessoas ficam com medo de falar sobre suicídio. Mas essa sou eu, independentemente de qualquer coisa. Isso aconteceu e não me transformou em um monstro ou em uma pessoa louca.”
Durante a pré-adolescência, Carla se cobrava muito. “Não queria ser mais um problema para os meus pais”, relata. Descobrir que tinha tirado (pela primeira vez) uma nota baixa em matemática quando estava no sétimo ano do Ensino Fundamental pareceu a gota d’água. A tentativa ocorreu em dezembro de 2004. Desde então, Carla se recuperou fisicamente, começou a fazer terapia (“Terapia tinha que ser igual a ir ao dentista, todo mundo precisa conversar sobre o que está sentindo”), fez intercâmbio e se formou em Administração, como sempre quis.
Do episódio, ela guarda algumas cicatrizes — a maior delas no braço esquerdo, ao lado da qual tem tatuada a frase “Happiness is only real when shared” (“A felicidade só é real quando compartilhada”, referência ao livro Na Natureza Selvagem) — e a certeza de que conversar sobre os sentimentos é essencial. “Eu tinha várias questões que não sabia como resolver na época. Precisamos falar sobre esses sentimentos, para não deixar que ninguém chegue ao ponto de pensar em se matar”, destaca.
A dificuldade em processar algumas emoções e falar sobre elas é comum na adolescência. “É um período no qual você começa a se tornar um indivíduo fora da família, e que é cheio de novas responsabilidades. Surge uma série de sentimentos com os quais os adolescentes não sabem como lidar”, explica a psicóloga Karen Scavacini. “Com isso vem uma impulsividade muito grande. O adolescente é bem imediatista, busca o prazer instantâneo e tem dificuldade em tolerar a frustração.”
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de morte de pessoas com idades entre 15 e 19 anos no mundo. No Brasil, números do Mapa da Violência de 2014 mostram que, entre 2000 e 2012, a taxa de suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos aumentou em 40%, enquanto entre jovens de 15 a 19 anos o índice cresceu 33%.
“Muitas vezes esse adolescente está sofrendo e não se dá conta da dor, não tem instrumentos para sair da situação”, explica Scavacini.