“Se a vida de alguém é tão horrível a ponto de querer morrer, por que impedi-lo?”
Muitas vezes me fazem essa pergunta ou alguma variação desta questão. Pois bem, devo já ir dizendo que sou um apaixonado pela prevenção do suicídio. Eu sei que minha posição muitas vezes desencadeia a contrariedade de alguns que pensam que as pessoas deveriam ter o direito de acabar com sua própria vida sem interferência de outros bem-intencionados. Entretanto, em minha opinião, existem muitas razões para impedir alguém de suicídio.
O motivo mais importante para evitar o suicídio é que as crises suicidas, embora terríveis e dolorosas, são quase sempre temporárias. Considere que 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não morrerão por suicídio. Repito: 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não virão a morrer por suicídio. Esse número é muito revelador. Mesmo entre as pessoas que desejaram morrer tão fortemente a ponto de tentar acabar com suas vidas, a maioria vai escolher viver.
Enquanto uma pessoa estiver viva, as coisas podem mudar para melhor. As situações mudam. E mesmo que sua situação externa seja imutável, é possível sim descobrir coisas que tornem sua vida digna de ser vivida. Existe sempre a possibilidade de encontrar formas de lidar com essa situação, ou é possível passar a apreciar coisas diferentes na vida. É possível até encontrar um propósito na vida que dê um significado a uma perda ou a um trauma sofrido.
Kevin Hines é um defensor da prevenção do suicídio que, anos atrás, saltou da Ponte Golden Gate, o local em que vem ocorrendo a cada ano a maioria dos suicídios nos Estados Unidos. A morte é quase certa quando se pula da ponte. É sabido que mais de 1.500 pessoas já pularam, e apenas 30 ou mais são conhecidas por terem sobrevivido. Então, quando Kevin pulou da Ponte Golden Gate, ele estava absolutamente decidido a morrer. E, no entanto, mesmo com essa intenção, no momento em que ele pulou da ponte, ele se arrependeu instantaneamente de sua decisão.
Sua experiência é uma das muitas (incluindo minha própria história) que ilustra que o desejo de morrer é fluido. Vem e vai. Vem e vai em graus variados. A grande maioria das pessoas que são salvas do suicídio ficam agradecidas, mais cedo ou mais tarde, por estarem vivas.
Outra razão importante para evitar o suicídio é porque, apesar do que afirmam os defensores do suicídio racional, em quase todos os casos, o suicídio é um ato decididamente irracional. A pesquisa indica consistentemente que 90% das pessoas que morrem por suicídio estavam com uma doença mental diagnosticável e possível de ser tratada no momento da morte. A doença mental distorce o pensamento. O que é ruim pode tornar-se bom e vice-versa. Muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, quando a saúde mental de uma pessoa melhora, o desejo de morrer desaparece por completo.
Algumas pessoas contestam as altas estimativas de doenças mentais no suicídio. Mas ainda que presumamos que nem todos os que morrem pelo suicídio tenham uma doença mental, temos que considerar que outras coisas além da doença mental também podem distorcer profundamente o pensamento de alguém, como uso de substâncias, a privação de sono e uma experiência traumática.
Muitas pessoas que abordam essas questões reconhecem que também já consideraram seriamente o suicídio ou fizeram uma tentativa, mas atravessaram essa difícil fase e hoje se juntam, numa comunidade de esperança, para contar sobre isso.
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.
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