É bem provável que em Mato Grosso do Sul muita gente conheça um lado dolorido das memórias de Ilmar Renato, o Mamão, representante de Mato Grosso do Sul no BBB 17: o advogado publicou em seu perfil no Facebook, em novembro de 2016, o relato emocionante de quando a vida lhe distanciou do pai, que se matou quando Mamão tinha apenas 5 anos de idade.
E muito embora o relato do advogado tenha sido reproduzido em um site de Campo Grande, com o intuito de prevenir o suicídio (o desabafo foi feito logo após um caso de suicídio na cidade), é sempre surpreendente quando alguém se expõe dessa maneira, ainda mais em rede nacional, como fez mamão na noite da última terça-feira (31). A revelação ocorreu logo após a eliminação de Gabriela Flor do jogo, enquanto o ‘brother’ conversava com outros participantes. “Ele não deixou carta, nada. Não sabemos o que aconteceu”, contou o advogado.
Aos colegas, Ilmar destacou que superar o fantasma da perda do pai ocorreu quando ele visitou a família paterna. “Eu me reencontrei como homem, fiquei mais sensível e tento não julgar”, afirmou. “Foi passando com o tempo. Foi libertador”, contou Ilmar, relembrando o episódio.
Companheira de confinamento, a para-atleta Marinalva, que também já morou em Campo Grande, completou: “Você conseguiu aflorar esse sentimento de perdão”, disse. “Todo mundo olha o cara brincalhão, mas ninguém sabe a dor que eu carrego”, conclui Ilmar.
Com o intuito de contextualizar a circunstância na qual o participante abriu-se sobre a morte do próprio pai, reproduzimos a seguir, com autorização da família, o relato de Ilmar nas redes sociais:
SUICÍDIO – A DOR DE QUEM FICA
“Mais um suicido em Campo Grande, um jovem de 19 anos se joga do viaduto, ano passado dois suicídios me causou um sentimento de angustia e de muita reflexão, os casos do rapaz que se jogou de um hotel e da menina que se jogou de uma universidade. Ví como as pessoas não para pensar na dor da pessoa e muito menos aos que ficam, tiram fotos, fazem comentários absurdos nas redes sociais, disseminam vídeos de um ato de extrema dor como se fosse um show de espetáculo. Fiquei mal, angustiado, triste, meu sentimento como humano era de dor, assim pensei na dor desta pessoa, na dor da sua família. Comecei a escrever este texto ano passado, termino hoje com o mesmo sentimentos passado.
Minha relação com o suicídio vem de tenra idade, tinha 5 anos de idade, meu irmão 7 anos, no dia 28 de julho de 1984, meu pai Ilmar Pedro Fonseca coloca em pratica a Teoria do Absurdo ou o suicídio, na casa do meu avô paterno meu pai julgou que não merecia mais viver, preparou-se para o ato planejado a tempos, ligou o som com sua música favorita, cortou a fio elétrico da enceradeira, preparou o laço com o fio, posicionou a escada embaixo da viga principal da varanda dos fundos da casa, subiu na escada, colocou o fio no pescoço e chutou a escada, morreu asfixiado por auto enforcamento, este termo só fiu descobrir aos 15 anos quando de fato soube a causa morte do meu pai. Minha mãe nos disse quando criança que papai tinha morrido de câncer na cabeça, não a julgo pela mentira, sua intenção era nos proteger.
Quando criança sentia uma saudade enorme do meu pai, sabia que ele tinha partido, mas não sabia da sua dor, da sua angustia, da solidão, aos 15 anos descobri de uma forma abrupta, não foi minha mãe que falou, encontrei o atestado de óbito. Um choque no meu ser adolescente. Aos vinte fui conhecer a família do meu pai e buscar entender os motivos que levaram ao meu pai a 4 dias de completar 30 anos ser tomado pelo sentimento do absurdo. Foi umas melhores coisas que fiz na minha vida, nesta viagem eu o perdoei e voltei de Minas gerais mais humano, mais reflexivo e principalmente sensível a essa dor, meu irmão se recusa a conversar sobre o assunto, eu respeito, tento entender a dor dele, não o julgo, cada perdão no seu tempo certo.
Gostaria de ter convivido mais com pai, ter recebido seus carinhos e cuidados, ter apresentado a ele meu filho o Igor, dele participar a minha formatura, de saber que ele poderia ter orgulho de mim, e tantas outras coisas que poderíamos ter feito juntos. Sinto saudades, mesmo tendo poucas lembranças dele, o tempo apaga as lembranças, mas não diminui a dor. Resolvi escrever este texto para ao menos compartilhar esse sentimento, daqueles que ficam, e têm que conviver e viver com essa dor e muitos com as dúvidas e questionamento do o porque.
A minha reflexão neste texto é humana, é real, é sensível, é filosófica, é amor, gostaria de poder ter tido a oportunidade de dizer para meu pai que eu o amava, que esse amor deveria ter sido compartilhado entre nós, que a sua ausência causa um vazio e uma saudade daquilo que não tive, o amor parteno, gostaria de dizer e fazer chegar aos que pensam e convivem com o sentimento do absurdo, que sua ausência será motivo de muita dor, de muita angustia, sofrimento, o fardo de carregar a tristeza no coração e as perguntas na cabeça.
Quero dizer que sua dor é minha dor, quero ser seu guia, sua luz, quero muito poder ajudar a compreender a sua dor, ao menos podemos tentar juntos vencer esse sentimento do absurdo e o questionamento de que a vida merece ou não ser vivida? Segundo o filosofo Albert Camus, o único problema filosófico verdadeiramente sério é o SUICÍDIO.
Acredito nesta premissa, eu vivi isso, meu sentimento de pertencimento a este mundo já foi colocado em debate comigo mesmo, resolvi viver e conviver com quem amo, através de muita reflexão e vivencias sociais, mesmo com os perrengues da vida, ela vale a pena, assim quero dizer sua falta será sentida, sua dor será sentida, mas de outra forma, muitos não compreenderam e não perdoaram, pelo contrário julgaram, mas eu vou te amar, preciso dizer isto, não é piegas, é dor, e com dor e sentimentos não se brinca.
Quero dizer a todos que de alguma forma pensou em colocar em prática a Teoria do Absurdo, peça a você como se eu fosse aquele criança de cinco anos, eu vou sentir a sua falta, mesmo não te conhecendo, insisto sentiremos sua falta, muitos te amam, mesmo não te aceitando, mesmo que você não tenha mais motivos para querer conviver conosco, só quero cinco minutos do seu tempo para dizer que vou sentir sua falta.
A minha dor é tão quão desesperadora como a sua, mas eu não posso compartilhar ela com você, você escolheu ir, eu não tive a escolha de ficar. Mas a dor da sua ausência ficou.”