Em 2013, a causa mais provável da morte de um homem entre 20 e 49 anos não era assalto, acidente de trânsito, drogas ou um ataque cardíaco, mas a própria decisão de não continuar vivendo.
Depois de anos de estudo, o professor Rory O’Connor, presidente da Academia Internacional de Pesquisa do Suicídio, descobriu algo surpreendente. É o chamado perfeccionismo social, e poderia nos ajudar a entender por que os homens tendem a cometer tantos suicídios.
Quando você é um perfeccionista social tende a se identificar com os papeis e responsabilidades que acreditar ter na vida. “Não se trata do que se espera de si mesmo”, explica O’Connor, “mas o que acha que os outros pensam. Que decepcionou os outros, que fracassou como pai, como irmão, ou o que quer que seja.”
Isso pode ser especialmente tóxico, pois está se fazendo jogos imaginários dos julgamentos de outras pessoas sobre si mesmo. “Não tem nada a ver com o que as pessoas realmente pensam sobre alguém”, diz. “Mas com o que alguém acha que eles esperam. O que é realmente preocupante é que isso é que está sempre fora de seu controle.”
A primeira vez que O’Connor soube da existência do perfeccionismo social estava lendo estudos feitos com universitários norte-americano. “Pensei que não seria o mesmo dentro de um contexto britânico, e que não funcionaria com pessoas procedentes de ambientes mais adversos, mas acontece que sim. É um efeito surpreendentemente robusto. Temos estudado nas áreas mais necessitadas de Glasgow.” Seu primeiro estudo foi realizado em 2003, com 20 pessoas que tinham acabado de tentar o suicídio, além de um grupo de controle. Eles foram avaliados por um questionário de 15 perguntas para medir a concordância com afirmações como: ‘O sucesso está em trabalhar ainda mais para agradar os outros’, ou ‘as pessoas não esperam de mim menos que a perfeição’. “A relação entre perfeccionismo social e tendências suicidas está presente em todas as populações com quem temos trabalhado”, diz O’Connor, “tanto entre os desfavorecidos como entre os ricos”.
O que ainda não sabemos é por quê. “Avaliamos a hipótese de que os perfeccionistas sociais são muito mais sensíveis aos sinais de fracasso dentro do ambiente”, diz.
Mas há uma falha percebida, quando se ajusta às expectativas, e sobre quais são os papéis que os homens sentem que devem se ajustar, pais? provedores? “A sociedade está passando por mudanças”, responde O’Connor, “agora você também tem que ser o Sr. Metrossexual. As expectativas são ainda maiores, há mais oportunidades para que um homem possa sentir que fracassa”.
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