Vamos falar sobre o luto?
Assim como a Internet subverteu o conceito de espaço (conectando tudo e todos independentemente de onde estejam), a morte tende a transformar a noção do tempo. Quanto tempo tem a saudade? Quanto tempo vou levar para melhorar pelo menos um pouquinho? Quanto tempo vai ser necessário até que eu consiga voltar para a vida? E para sorrir, quanto tempo leva?
Essas são as questões iniciais que nossa tristeza nos leva a pensar frente ao luto. Após o susto inesquecível da partida do meu filho Paulo, quando encontrava alguém que tinha passado por algo parecido eu perguntava: “essa dor vai melhorar”? Interessante que a resposta era sempre a mesma: “a saudade nunca passa”. E estavam certos, a saudade nunca passa, só dá uma trégua e volta rapidinho. Todas as horas e todos os dias são oportunidades de nos lembrarmos de quem fazia (e ainda faz) parte da nossa vida e da nossa alma. Tá, já entendi, a saudade nunca passa. Nunca é uma medida de tempo então o tempo da saudade é eterno.
Quanto à outra resposta, a que ninguém ousa arriscar, o meu percurso me levou a acreditar que sim: o tempo tudo melhora e isso também é verdade no luto. Mas o tempo de melhora não é linear. Há tempos em que nos sentimos fortes e outros em que retrocedemos em nossa compreensão sobre a falta que tanto dói.
E são tantos os tempos.
O tempo da notícia, o tempo da revolta. O tempo do choro, o tempo da aceitação e também o da negação. O tempo de levantar e (tentar) refazer o caminho que segue agora bem diferente. O tempo de trabalhar e o de falhar. O tempo de continuar.
Existe tempo de sorrir, por exemplo: quando eu vou dar o meu primeiro sorriso? E o tempo de mostrar que estou sorrindo? Este tempo não tem tempo. Sorrir não é sinal de não sofrer, sempre é tempo de sorrir e escolher ser feliz mesmo que, por um tempo, isso seja quase impossível. Com o tempo, a felicidade começa a chegar pertinho e a mostrar algumas possibilidades, cada uma no seu tempo.
Tempo de continuar não significa esquecer. Às vezes, muito tempo depois, a gente sente como se fosse um tempão antes. O mesmo amor, a mesma sensação de felicidade nas lembranças de um abraço, de um almoço de família alegre, de palavras trocadas ou de um instante inesquecível.
De tempos em tempos o tempo fica suspenso. Um tempo que não se conta, não se breca e nem se acelera. É o tempo da alma, aquele tempo-espaço de convivência mágica que conseguimos alcançar com quem se ama e que, há algum tempo, convive com a gente de um jeito diferente. Hoje, quando me perguntei se 5 anos é pouco ou muito tempo, eu entendi que é apenas o tempo que o tempo tem. Com meu filho eu cultivo, acima de tudo, uma linda medida do tempo, a do meu amor infinito e eterno.
Por fim, penso no tempo mais precioso de todos, o tempo do agora. E de novo me lembro do Paulo e sua partida precoce aos 28 anos. Isso é pouco, por ter partido tão jovem. E é tanto na riqueza de cada instante da sua breve existência.
É, os tempos do luto parecem confusos mas não tenho qualquer intenção de organizá-los. Me misturo aos seus diferentes tempos. Assim aprendi a respeitar os momentos difíceis, aproveitar os momentos das boas lembranças e buscar o tempo do conforto que, de tempos em tempos, ainda bem, também aparece. E então chega o tempo de agradecer o privilégio de ser sua mãe, Paulo e amá-lo eternamente nessa confusão de tempos e sentimentos.