Em algumas famílias, um relógio é passado de pai para filho. Em outros, é a calvície que é passada. No caso de Josh Rivedal, foi o suicídio: seu avô tirou sua própria vida na década de 1960, embora isso nunca tenha sido conversado abertamente na família, e seu pai fez o mesmo em 2009. Dois anos mais tarde, o próprio Rivedal, agora com 30 anos, quase seguiu o mesmo destino.
Mas, embora triste e incomum, a história de Rivedal não é única. Vários estudos têm mostrado que aqueles cujos membros da família, particularmente os pais, se mataram são mais propensos a morrer da mesma maneira. Os homens também estão em risco muito maior de suicídio do que as mulheres: os números mostram, por exemplo, que 78% por cento de todos os suicídios na Inglaterra e no País de Gales são do sexo masculino e que o suicídio é hoje a principal causa de morte para homens entre 20-45 anos.
O que aconteceu para que Rivedal não tivesse o mesmo fim? O que fez para não sucumbir ao suicídio que levou seu avô e seu pai? Ele procurou ajuda!
“Não foi muito tempo depois que meu pai morreu e as coisas ficarem realmente difíceis com minha mãe – ela estava tentando processar a mim e a meus irmãos por causa de nossa herança – e minha namorada de vários anos me deixou”, disse Rivedal, que cresceu em Trenton, Nova Jersey, lembrando do ocorrido.
“Eu senti como se tivesse perdido três pessoas ao mesmo tempo e comecei a pensar em morrer.”
Sempre que o assunto da morte de seu avô – um norueguês chamado Haakon que emigrou no início da Primeira Guerra Mundial e serviu na Royal Air Force na Segunda – surgia em casa, o pai de Rivedal dizia que tinha sido causado por ferimentos de estilhaços. Foi somente quando ele era um adolescente que sua mãe revelou que seu avô tinha tirado sua própria vida 20 anos após o fim da guerra, perto de seu aniversário de 50 anos.
“Eu me lembro de fazer os cálculos e pensar – que deveria ter sido algum estilhaço muito estranho, para matá-lo 20 anos depois. Acho que ele estava sofrendo de transtorno de estresse pós-traumático, mas nunca foi educado para procurar ajuda por causa de todo esse estigma de que homem não fala de seus problemas emocionais.”
O pai de Rivedal tirou a própria vida pouco depois que sua esposa decidiu terminar seu casamento de 30 anos. “Quando eu perdi meu pai, acho que ele estava lidando com a perda de seu próprio pai, e o fato de nunca ter falado sobre isso.”
A decisão de procurar ajuda, em vez de seguir o caminho do suicídio, foi parcialmente, diz Rivedal, devido à sua personalidade: uma rebeldia que o empurrou para longe de seguir o caminho previsto para ele por seus antecessores do sexo masculino.
Como diz o Dr. Max Mackay James, de 63 anos de idade, um médico britânico aposentado e fundador de uma organização para a saúde masculina, The Conscious Ageing Trust, cujo trabalho está sendo divulgado por Rivedal, essa diferença de comportamento reflete uma diferença de gerações:
“Para nossos avós e pais era impossível conversar sobre problemas emocionais, mas no mundo de Rivedal e no mundo de meus filhos não deve haver nenhuma vergonha em falar sobre depressão e suicídio.”
O Dr. Mackay James tem também sua própria história familiar de suicídio: tanto seu avô, um veterano da Primeira Guerra Mundial, e seu irmão tiraram suas próprias vidas. “Meu avô, Fred, se matou em 1940, mas nunca falamos sobre isso, fomos informados de que ele era um herói de guerra. Meu irmão nasceu três anos depois e também foi chamado Fred.
“Quando você é um garoto, você pode sentir quando algo está errado, quando as pessoas estão se comportando estranhamente. Nós não sabíamos o que era, mas sabíamos que havia algo assustador em torno da morte de nosso avô.
Havia um silêncio à sua volta, nenhuma capacidade de comunicar. Não sabíamos nada sobre depressão. Então, quando meu irmão morreu por suicídio – quando eu tinha 21 anos e ele tinha 28 anos – nenhum de nós sabia o que dizer. ”
Ele sugere que o suicídio ocorre em famílias principalmente por causa de “modelagem emocional”, em vez de genética. “Os homens com os quais você cresce são o seu modelo para a masculinidade. Você aprende que tem que ser tudo ou nada. Você ou é um homem forte ou é um fracasso total. Se você está falhando, então você não é nada, essa é a mensagem. Que mensagem de merda. ”
Rivedal concorda: por causa do exemplo estabelecido por seu pai e avô, ele chegou a pensar no suicídio como um “método de enfrentamento de problemas – mas certamente não é”.
O Conscious Ageing Trust incentiva os homens acima da idade de 50 anos a falar sobre temas relacionados à morte, incluindo o suicídio. O recém-publicado livro de Rivedal, The Gospel According to Josh , e uma peça de teatro do mesmo nome, têm objetivos semelhantes , mas têm encontrado maior audiência entre estudantes e homens com idade em torno dos 20 anos.
“Você realmente não precisa ser um especialista para falar sobre isso”, diz Mackay James. “Você apenas tem que dizer como isso está afetando você. Um dos grandes mitos é que falar sobre suicídio pode incentivar a morrer. Não! É exatamente o contrário, falar sobre suicídio te ajudará a superar uma situação de crise. ”
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.
https://homemcontrasimesmo.blogspot.com.br/2017/05/o-suicidio-levou-meu-avo-e-meu-pai-por.html