Um levantamento feito pelo Sindicato dos Servidores Públicos Civis Federais do Departamento de Polícia Federal do Estado de São Paulo (Sindpolf-SP) indicou que entre 1999 e 2015 houve 42 casos de suicídio entre os policiais federais.
Os dados foram entregues para a Polícia Federal e discutidos hoje (17) no 1º Encontro de Prevenção ao Suicídio, na sede da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo.
Mais da metade dos casos ocorreu em apenas em cinco anos: entre 2010 e 2015, foram 24 suicídios e sete tentativas.
Entre 1999 e 2004 foram oito casos e entre 2005 e 2009, dez.
Entre 2002 e 2004 não foram registados casos, mas o destaque fica para o período de 2010 e 1014 no qual foram 22 suicídios, sendo que só em 2012 oito policiais tiraram a própria vida.
“O suicídio é algo muito sensível na área da segurança pública e a Polícia Federal é o serviço onde há mais casos. Falar na razão que leva a pessoa ao suicídio é complexo porque é um conjunto de fatores, mas, sem dúvida, no caso da polícia federal, tivemos perseguição e briga interna por cargos e nós não temos plano de reestruturação na carreira. Isso faz com que o profissional se desmotive e há também o assédio moral”, disse o presidente dos Sindipolf-SP, Alexandre Santana Sally.
Além disso, Sally destacou o risco inerente à profissão e a percepção da sociedade sobre o trabalho do policial.
“Na época da repressão era um braço do governo e com a Constituição de 1988 começou a ocorrer uma renovação do quadro ao longo do anos. Houve uma evolução e a polícia hoje não é somente repressora e sim cidadã. [Tem papel] de proteção e prevenção, só que o cidadão ainda se atém na repressão e na tortura. Para nós, que estamos na rua, tem um reflexo emocional muito grande”.
Profissões de risco
Segundo o psiquiatra Roberto Tonanni de Campos Mello, que atua na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, médicos e policiais têm maior incidência de suicídio do que o restante das profissões porque ambos têm os meios para fazer isso.
“O médico sabe usar o remédio pra acabar com a própria vida e os policiais têm a arma como um recurso fácil. Aqui na Polícia Federal houve uma série de ocorrências que mobilizou a direção para fazer alguma coisa”.
Tonanni explicou que, desde 2014, foi estabelecida a regra que determinava o recolhimento da arma de qualquer policial que fosse afastado do trabalho por doença mental, como forma de prevenção.
“Muitos questionaram essa medida, porque consideraram que há outros meios para se suicidar, porém é aquele minuto que faz a diferença. Se ele não tem a arma, não usa e pode ser que depois consiga conversar com alguém ou alguém perceba que não está bem. Isso faz a diferença entre a pessoa se matar ou não”.
O presidente do Centro de Valorização à Vida (CVV), Robert Gellert Paris Júnior, ressaltou que 90% dos casos de suicídio são evitáveis. Atualmente há registro de 1 milhão de suicídios anualmente em todo o mundo, o que é um número subestimado, segundo ele.
“O suicídio é um estigma e as famílias não gostam de dizer que o familiar se suicidou. Uma morte a cada 40 segundos é um problema de saúde pública porque pode ser evitado se tivermos os cuidados relativos a essa emergência”.
Gellert disse que a presença de alguém que se importe ao lado da pessoa que está passando por problemas que podem levar ao suicídio é primordial, porque uma conversa pode mudar esse processo.
“A saúde mental e emocional tem a ver com escolhas e saber que tem saída. Quando se está desesperado não se enxerga mais nada. Por isso é necessário falar sobre suicídio, já que esse milhão de pessoas morre por ano e ninguém fala sobre isso”.
O presidente do CVV disse ainda que no mínimo 17% da população pensou ou vai pensar em se matar pelo menos uma vez na vida. “Não é uma anormalidade, é uma coisa que acontece na nossa vida.
Às vezes pensamos em desistir. É normal. E se não tem com quem falar e não procura ajuda a pessoa acaba se matando. O incentivo é para falar e procurar ajuda porque o suicídio é evitável”.