“O que eu faço?”. A dúvida angustiada foi a primeira coisa que passou pela cabeça da tradutora paulistana Alessandra Siedschlag, 45 anos, ao ler no Facebook uma mensagem de despedida de Aline*. No post, a amiga de infância da tradutora deixava clara a intenção de se matar –“digam para minha filha que a amo”, foi o trecho que mais lhe chamou a atenção. Dos 60 amigos na rede social, só mesmo Alessandra não ficou parada. Primeiro tentou ligar para Aline que não atendeu o celular. Então chamou a polícia.
“Os policiais me informaram que eu deveria estar junto quando a viatura chegasse ao prédio. Só que eu morava do outro lado da cidade e tive medo de não aparecer a tempo para evitar o pior”, conta Alessandra, que pegou um táxi, desesperada.
“Chegando lá, o síndico não queria autorizar nossa ida ao apartamento, nem permitir que a porta fosse arrombada”. Depois de muita insistência, os policiais conseguiram subir e Aline foi encontrada no chão da sacada, desacordada. A tela de proteção da varanda do apartamento, no 13º andar, estava cortada.
“Ela foi levada para o hospital na própria viatura, não houve tempo nem para esperar uma ambulância. Lá foi atendida e sobreviveu”, recorda Alessandra, aliviada. “No dia seguinte, a Aline me agradeceu. Contou que havia sido um ato de desespero.”
Quem quer mesmo se matar manda aviso?
Mensagens como as de Aline vêm se tornado cada vez mais comuns nas redes sociais. São postagens em tom de desabafo, que sugerem a intenção de suicídio. Só este mês, três casos como o da amiga de Alessandra ganharam a mídia: dois em Santa Catarina e outro no Piauí. Felizmente, em todos o socorro chegou a tempo.
Segundo dados do Ministério da Saúde, um brasileiro comete suicídio a cada 45 minutos. No entanto, de acordo com o levantamento, 90% dessas mortes poderiam ser evitadas, se o resgate acontecesse em tempo hábil. Por isso, mensagens assim nunca devem ser ignoradas.
“Existe um mito de que quem realmente quer se matar não manda aviso. Mas todo comentário de suicídio deve ser levado a sério”, explica a psicóloga Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, de prevenção ao suicídio. “Em alguns casos, talvez seja mesmo um pedido de atenção. Mas é, sobretudo, a comunicação de um sofrimento extremo, que não deve ser desprezada.