Era noite de Ano Novo de 2011. Do lado de fora da minha casa, eu ouvia as comemorações, os fogos, a música alta, as pessoas rindo. Mas, pra dentro da minha porta, só tristeza e muitas lágrimas. Eu estava no ápice da minha depressão, não conseguia ver nada positivo na minha vida. Decidi, então, pôr um fim naquele sofrimento todo. Amarrei uma corda no teto e deixei uma escada bem embaixo. Subi os degraus e já estava prestes a me despedir deste mundo quando ouvi pequenos passos atrás de mim…
Meu bichinho mordia meu vestido e minhas pernas para me deter
Quem tinha me visto e subido a escada também era o Negão, um dos muitos gatos que tenho em casa. Ele me cutucou com as patinhas nos pés e começou a miar bem alto, sem parar. Meu bichano também mordiscava meu vestido e minhas pernas, como se tentasse impedir que eu fizesse aquilo. A mensagem foi clara: ele queria me salvar. Interpretei que meu gatinho dizia: “Sua covarde! Como vai me abandonar? Seus outros gatos podem sair daqui e sobreviver, mas vou acabar morto sem seu cuidado…”. É que o coitadinho é cego, e mesmo assim conseguiu sentir que eu estava prestes a fazer aquela loucura e tentou me salvar! Quando vi o Negão ali, mesmo sem enxergar e me puxando pra longe da escada, não tive dúvida: minha hora ainda não tinha chegado. Eu precisava viver pra cuidar dos meus gatinhos!
Depois da morte da minha filha, comecei a acumular gatinhos
Minha filha Dione faleceu há 21 anos depois de ter uma parada cardíaca durante uma viagem. Ela sempre dizia que só se separaria de mim se morresse, e assim foi feito. Não conseguia aceitar ter perdido minha filha, não é justo que nenhuma mãe passe pelo que passei!
A cicatriz que essa perda deixou em mim nunca se fechou, mas os bichanos que fui juntando desde então me ajudam diariamente a superar a morte dela. Fiquei muitos anos deprimida e sempre pensando em me suicidar, mas, depois daquele episódio com o Negão, nunca mais pensei nisso.
Sempre gostei de gatos e cuido de pelo menos um desde os 8 anos de idade. Depois de me separar do meu marido, há quase 30 anos, e da morte trágica da Dione, meus bichinhos se tornaram o foco de toda minha dedicação e cuidado.
Hoje já acumulo quase 200 gatos na minha casa e, mesmo não tendo condição financeira de cuidar deles e nem muito espaço aqui, não me arrependo de ter acolhido os bichanos.
Não é fácil conviver com tantos bichos. Passo o dia limpando a casa e dando assistência a eles. Já tive que vender objetos pessoais como roupas e móveis para conseguir comprar mais ração para os meus queridos, mas não consigo nem pensar em ficar longe deles!
O gesto do meu gato me fez enxergar minha missão de vida
As pessoas da vizinhança largam os coitadinhos na minha porta, sem cuidado algum. Não se importam nem um pouco com os pequeninos! Ai se eu vejo quem maltrata um animal desse jeito… Com muita pena, acolho todos e guardo comigo. Faço o melhor que posso para que eles fiquem bem.
Mesmo com tantas dificuldades, tenho certeza de que, se não fossem meus gatos, eu não teria mais motivos para continuar viva. Apesar de todo o trabalho que tenho, são eles que me trazem alegria e fazem com que eu me sinta útil. O Negão me salvou e abriu meus olhos para minha missão de vida: cuidar dos meus bichanos! – ROSA DOMINGUES MORINI, 68 anos, aposentada, Tatuí, SP