Os jovens LGBT têm cinco vezes mais chances de se matar. Ficou assustado? E é mesmo para ficar. Tudo passa pela lógica heteronormativa e, claro, pela ausência completa de respeito pelo próximo. Segundo a advogada Marina Ganzarolli, os estereótipos de gênero são a causa do crime de ódio contra LGBT. Roraima é o Estado onde há mais agressões motivadas por esse preconceito. Segundo o Grupo Gay da Bahia, o Brasil é campeão no assassinato de homossexuais e transgêneros e a faixa etária que mais morre é dos 19 aos 30 anos. Por outro lado, os casos de suicídio na adolescência têm sido cada vez mais comuns. Esses e outros dados alarmantes foram apresentados na segunda edição do Fórum da Diversidade, organizado pela Secretaria da Mulher de Barueri, na Grande São Paulo, na semana passada.
A preocupação com os adolescentes LGBT que têm cometido suicídio se justifica, muitas vezes, pela falta de amparo diante de um momento de intenso conflito em uma sociedade heteronormativa. Misturam-se as dúvidas com relação a condição com a qual nasceu com insatisfações comuns de todo adolescente, pronto: está criado o cenário para que o sofrimento sem precedentes encontre apenas como saída a própria morte. A médica Fabíola Lopes lembra que até 2000, a homossexualidade era considerada doença. “É uma loucura pensarmos que há apenas 16 anos, a comunidade médica falava em cura homossexual”, desabafa. Durante muitas décadas, os LGBT eram levados para manicômios. “Em 1952, por exemplo, gays eram diagnosticados com transtorno de personalidade sociopata. O termo ‘transtorno’ foi usado até pouco tempo e denota um imenso preconceito. Muitos diziam que transexuais, por exemplo, eram vítimas de um transtorno severo causado pela pobreza e a desestruturação familiar”, explica Fabíola Santos Lopes.
Em 1961, a primeira cirurgia de redesignação sexual para trans foi realizada por mutilação. Apenas em 2008, o SUS passou a custear esse tipo de procedimento. Ainda sobre isso, a advogada Marina Ganzaroli chama a atenção para a necessidade de os pais aguardarem a formação completa do filho e o processo de aceitação, já que erros podem acontecer. E podem ser irreversíveis. “Há um caso, que a pessoa nasceu intersexo, ou seja, tinha os dois genitais. O médico perguntou ao pai se queria que fosse menino o menina e o cara disse que queria um menino. A vagina do bebê foi costurada, uma mutilação, e a criança cresceu como menino, mas sempre foi mulher. Já mais velha foi fazer o procedimento cirúrgico para então coadunar o órgão genital com o que ela realmente era”. O gênero, nesse caso, tinha sido construído socialmente.
Outro tema discutido foi o nome social e o uso do banheiro, dois temas que sempre geram polêmica. Há uma resolução do dia 16 de janeiro do ano passado, que aponta que o uso do banheiro tem que respeitar a identidade de gênero de cada um, ou seja: de como a pessoa se vê, se sente. Sobre a identificação, além de ser direito constituído transexuais serem chamados pelo nome social – e não pelo de batismo – em qualquer serviço público, no caso de uma abordagem policial, o agente tem o dever de se referir ao abordado acompanhando a identidade de gênero, ou seja, se for uma mulher trans, deve se referir a ela, dela, senhorita ou senhora. O contrário também se aplica. Na lavratura do boletim de ocorrência, a mesma regra deve valer. Contudo, não é o que vemos e isso pode ser aferido em notícias. Recentemente, uma travesti havia sido encontrada morta em uma viatura e, além de usarem erroneamente o artigo “o” para se referir a ela. Não raro, ocorrência policiais que envolvem transgêneros, o delegado ou policial responsável pela ocorrência divulga o nome de batismo, fazendo com que o erro seja publicizado pelos jornalistas mais distraídos.