O luto do suicídio geralmente demora mais para passar e é mais intenso do que o luto por outros tipos de morte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, para cada caso de suicídio, cinco a dez pessoas próximas são extremamente afetadas. Familiares e amigos de pessoas que se suicidaram são chamados de “sobreviventes” do suicídio e o risco de essas pessoas próximas também repetirem o ato suicida é maior.
Neury Botega, pesquisador do tema na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que geralmente há uma combinação de sentimentos que confundem e acabam calando as pessoas e dificultando o processo de luto: pena, tristeza, raiva, vergonha, humilhação, culpa. “A família se cala, a sociedade se cala.”
Não falar faz com que pareça que a pessoa assumiu alguma culpa pelo suicídio, segundo Maria Helena Pereira Franco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo especializada em luto.
Para Maria Julia Kovács, professora do Laboratório de Estudos da Morte da USP, essa culpa tem várias facetas: acreditar-se culpado pelo ato suicida do outro, por sentir que provocou ou que não cuidou, ou que não percebeu os principais sinais. “É muito importante no trabalho para abrir a possibilidade de legitimar os sentimentos, cuidar da pessoa e ajuda-la a lidar com o estigma social.”
Os especialistas são unânimes sobre a necessidade de falar sobre o assunto. No país, existem alguns grupos que se reúnem para trocar experiências e para que os sobreviventes se apoiem mutuamente (veja lista abaixo). A psicóloga Karen Scavacini, que coordena um desses grupos no Instituto Vita Alere e fez mestrado em pósvenção do suicídio na Suécia, avalia que quanto maior for o segredo e o tabu dentro da família mais difícil de lidar. “Muitas vezes a família sofre por gerações”, diz.
Conversa vale também para crianças
Karen também defende a conversa com crianças. A autora do livro “E agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio” afirma que a criança precisa saber o quanto antes sobre o suicídio de alguém próximo, mas com linguagem e detalhes apropriados para ela. “Se não ela vai ter que lidar com o luto duas vezes, uma da morte e uma de que foi por suicídio. Além disso, manter segredo abala a confiança da criança.”
Geralmente, a criança faz perguntas, e é preciso não dar muitos detalhes de como o suicídio aconteceu, mas também não pode fugir da realidade e falar que a pessoa “dormiu” ou “foi viajar”, pois isso faria a criança ficar com medo toda vez que vai dormir ou alguém viaja. “É importante usar a palavra morte e explicar o que é morte para a criança, pois geralmente ela não sabe. Explicar que a pessoa não sente mais dor, que não vai voltar e até mesmo incluir sua visão religiosa sobre o assunto”, diz. Também vale afastar a culpa que a criança, assim como qualquer outra pessoa, pode sentir.
De acordo com Karen, uma boa saída é fazer uma comparação com uma doença física. Por exemplo, explicar que, assim como a gripe que pode piorar, se tornar uma pneumonia e causar a morte, o mesmo pode acontecer com a depressão que, quando fica grave, a pessoa faz alguma coisa para morrer. “Podemos explicar que é um sofrimento, que a depressão não deixava a pessoas ver o amor e as possibilidades que ela tinha nem que outras pessoas poderiam ajudá-la.”
A psicóloga listou impactos do luto por suicídio sobre sobreviventes. Veja na lista abaixo:
Físicos
Insônia, agitação, fadiga, tontura, queda do apetite sexual
Cognitivos
Dificuldade de concentração, angústia, pensamento rígido (não para de pensar no assunto)
Sociais
Isolamento, mudança na dinâmica familiar ( datas de festas e aniversários passam a ser muito difíceis, ao mesmo tempo em que família quer ficar sozinha, pessoas sentem-se excluídas do convívio social), aumento do número de pedidos de licença médica, dificuldades financeiras, prejuízo escolar, aumento do uso de álcool e drogas
Psicológicos
Aumento dos transtornos de ansiedade, sintomas de estresse pós-traumático (imagens e sons voltam à memória) e depressão (diferente da tristeza do luto), aumento da automutilação, do sentimento de culpa e responsabilidade pelo que aconteceu, raiva, medo de perder outras pessoas próximas
Atendimentos e grupos de apoio
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
São centros do Ministério da Saúde em que trabalham profissionais da saúde mental. Existem 2241 no país. Para saber o mais próximo, entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde
Centro de Valorização da Vida – CVV
A entidade oferece apoio emocional a pessoas que sentem a necessidade de conversar de forma aberta e acolhedora, sem receber críticas, julgamentos ou cobranças. Telefone: 141. No Rio Grande do Sul: 188, e-mail, chat e Skype: www.cvv.org.br
Alagoas
Centro de Amor à Vida – CAVIDA
Endereço: Rua Valter Ananias, 441 – Jaraguá – Maceió – AL
Quando: segunda à sexta, das 8h às 12h e das 14h às 17h
Informações: (82) 3326-2774 e (82) 8801-3035, [email protected], http://projetocavida.blogspot.com.br/
Atendimento psquiátrico e psicológico gratuito para pessoas com pensamentos ou risco de suícidio, pessoas que perderam parentes ou amigos por suicídio, pessoas depressivas, problemas relacionados as drogas com problemas de autoestima e baixa motivação, que sofrem com dívidas ou desempregadas, em luto, com problemas conjugais e pessoas que desejam desabafar
Ceará
PRAVIDA
Hospital das Clínicas – Unidade de Saúde Mental
Endereço: Rua Cap. Francisco Pedro, 1290 – Rodolfo Teófilo Fortaleza – CE, 60430-370
Quando: toda quinta, a partir das 14h
Informações: (85) 3366.8149 – falar com Eliane
Atendimento gratuito para pessoas que sobreviveram ao suicídio e familiares e amigos enlutados
Espírito Santo
Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis – API
Endereço: Av. Fernando Ferrari, 1358 – Boa Vista, Vitória – ES
Informações: (27) 3225-1776, [email protected], www.redeapi.org.br
Quando: terceira quinta-feira do mês, às 19h
Encontros gratuitos para pessoas em luto
Minas Gerais
Projeto Apoio a Perdas Irreparáveis – API
Endereço: Rua Espírito Santo, 2727 / sala 1205 – Lourdes – Belo Horizonte – MG
Informações: (31) 3282-5645, www.redeapi.org.br
Quando: primeiro domingo do mês, às 18h. No mês de dezembro, no 2o. domingo do mês
Encontros gratuitos para pessoas em luto
API Belvedere (Belo Horizonte)
Endereço: Paróquia Nossa Senhora Rainha – Rua Modesto Carvalho Araújo, 227 – Bairro Belvedere – Belo Horizonte – MG
Quando: primeira terça-feira de cada mês, às 18h
Informações: (31) 3282-5645, www.redeapi.org.br
Encontros gratuitos para pessoas em luto
API Divinópolis
Endereço: Paróquia Santuário de Santo Antônio – Rua 21 de abril, 655
Quando: terças-feiras, às 19h30
Informações: (37) 8825-0512, www.redeapi.org.br
Encontros gratuitos para pessoas em luto
API Sete Lagoas
Endereço: Rua José Duarte de Paiva, 282 – Sete Lagoas – MG
Quando: última quarta-feira do mês
Informações: [email protected], com Mariana, www.redeapi.org.br
Encontros gratuitos para pessoas em luto
API Ouro Preto
Endereço: CESFO – Praça Monsenhor Castilho Barbosa, 30 – salão de festas – Bairro Pilar – Ouro Preto – MG
Informações: [email protected], com Isabella, www.redeapi.org.br
Quando: primeira reunião em 31/10/15, às 15h
Encontros gratuitos para pessoas em luto
São Paulo
Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio Anônimo ? GASSA
Endereço: Rua Abolição, 411 ? Bela Vista ? São Paulo
Quando: toda primeira quarta-feira do mês, das 19h30 às 21h30
Informações: (11) 98318-9663 e [email protected]
https://www.facebook.com/CVV-GASSA-Grupo-de-Apoio-aos-Sobreviventes-de-Suic%C3%ADdio-An%C3%B4nimo-163058233863461/
Encontros gratuitos para pessoas que tentaram suicídio, e familiares e amigos
Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Endereço: Rua Almirante Pereira Guimarães, 150 – Pacaembu – São Paulo
Informações: (11) 3862-6070
Atendimento: psicoterapia com pessoas enlutadas. Individual e em grupo. Gratuito
Instituto Alere
Endereço: Rua Uananá, 200 – Moema – São Paulo
Quando: Quinta-feira do mês próximo ao dia 15
Informações: (11) 5084-3568, www.vitaalere.com.br
Encontros gratuitos para familiares e amigos
Rio Grande do Sul
Grupo de Apoio Mútuo ao Sobreviventes de Suicídio – GAMSS
Endereço: Rua Almirante Barroso, 261 – Plenarinho da Câmara –
Novo Hamburgo – RS
Quando: primeira terça-feira do mês, das 19h30 às 21h30
Informações: (51) 9236-7971, [email protected]
Encontros gratuitos com pessoas que já tentaram suicídio e amigos e familiares enlutados
No exterior
Estados Unidos – Nova York
Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis – API
Endereço: 347 5th ave. Room 1208 New York, NY 11217
Informações: (212) 545-1496, com Andrea Fiuza Hunt – www.redeapi.org.br
Atendimento: grupo para pessoas em luto