“Às vezes tem um suicida na sua frente e você não vê”. Foi o que escreveu, num pedaço de papel, o motoboy que se atirou dias atrás do 17º andar do Fórum Trabalhista de São Paulo. Ele levou junto o filho de quatro anos, para perplexidade da família e dos amigos.
O assunto teve ampla repercussão nas mídias, da mesma forma que outra tragédia ocorrida no mesmo dia no Rio de Janeiro, quando um empresário matou a família e se suicidou.
Curiosamente, os mesmos veículos de comunicação que abriram generosos espaços para essas histórias ignoram ou são extremamente econômicos na divulgação do Setembro Amarelo, a campanha internacional que promove a valorização da vida e a prevenção do suicídio.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, é possível prevenir o suicídio em 90% dos casos, por ser fruto de psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis, como a depressão. Entende-se, então, porque é caso de saúde pública no Brasil (32 óbitos por dia) e no mundo (2.200 casos por dia).
Ao passar dos 800 mil casos ao ano, já supera o número de mortes por homicídios ou conflitos armados em todo o planeta.
A OMS pede que se divulgue amplamente os fatores de risco associados ao autoextermínio e também os serviços de prevenção do suicídio, como é o caso, aqui no Brasil, do Centro de Valorização da Vida (CVV). Ainda assim, em muitas Redações, prevalece o tabu.
No último dia 10/9, por exemplo, apesar da pouca divulgação, várias ações marcaram o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, ponto alto do Setembro Amarelo.
Monumentos foram iluminados de amarelo, os jogadores de Flamengo e Vitória entraram em campo pelo Campeonato Brasileiro com camisetas e munhequeiras amarelas (além de uma faixa da campanha), e encontros foram organizados em todo o país para debater a prevenção do suicídio.
Está na hora de romper o silêncio e cobrar do governo a devida capacitação dos profissionais de saúde lotados nos CAPs (Centros de Atenção Psicossociais), a implementação da Política Nacional de Prevenção do Suicídio (aprovada em 2016 e que dormita em alguma gaveta do Ministério da Saúde), a inclusão da suicidologia nos cursos de formação dos médicos e a assistência adequada aos “sobreviventes de si mesmo” (e aos familiares do suicida), entre outras medidas. A mobilização em favor da vida é o que empresta sentido à palavra civilização.