Considerado tabu pela sociedade e um problema de saúde pública, o suicídio ainda é um tema delicado. Buscando auxiliar na prevenção do ato extremo e sua desmistificação, o Centro de Valorização da Vida (CVV) de Criciúma, além de oferecer ajuda emocional através de uma escuta – por telefone, online ou diretamente – de forma anônima e sigilosa, realiza um trabalho de conscientização acerca da importância de falar sobre o assunto.
Devido ao receio de abordar o tema, conforme a psicóloga Carina Mengue, o suicídio é associado à motivo de vergonha e/ou condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com a família, amigos e até mesmo com o terapeuta.
“É comum escutarmos que quem ameaça se matar não o faz, ou que não devemos falar sobre suicídios para não aumentar o risco de novos casos. Ambas as afirmações são falsas sob o ponto de vista científico. A maioria dos suicidas verbaliza ou dá sinais sobre suas idéias de morte. Conversar a respeito do problema alivia a angústia e tensão de quem sofre com esses pensamentos”, ressalta.
“A quebra de um tabu começa com a informação, para que, em seguida, novas atitudes sejam tomadas. O silêncio que gira em torno do suicídio agrava ainda mais a situação. Falar sobre o assunto pode salvar vidas”, frisa a psicóloga.
Pessoas em situação de vulnerabilidade emocional encontram nos CVVs acolhimento sem julgamento. “Quem pensa em acabar com a vida não quer conselhos ou soluções, quer alguém com quem possa desabafar, sem opiniões, pois a intensidade da dor dada ao problema é muito particular”, explica Carina.
No núcleo familiar e comunitário, a melhor forma de prevenção é dialogar e saber reconhecer um pedido de socorro. “Ninguém precisa dar soluções para os problemas do outro, é preciso aprender a ouvir. O indivíduo encontra a resolução de seus problemas dentro de si quando conversa e reflete sobre seus conflitos e emoções”, instrui.
O suicida em potencial, segundo a psicologia, concentra-se num obstáculo ou numa dor específica e não consegue pensar no futuro. Foi o que aconteceu com o advogado Fernando Silveira, há 11 anos. “Na época tinha um padrasto opressor, sofria xenofobia no colégio por morar em outro país e, por consequência, não tinha amigos. O suicídio parecia a melhor saída para que todos entendessem como me sentia”, conta.
A instabilidade emocional pode ser trabalhada com o apoio – de amigos, parentes, psicoterapia, e, no caso do CVV, de voluntários. A válvula de escape para o advogado até retornar ao Brasil foi o vídeo game. “Encontrei conforto jogando online com outras pessoas”, complementa.
De acordo com a psicóloga Carina, dentre os principais indícios de que uma pessoa cogita suicidar-se estão os verbais – ‘eu desisto’, ‘já não me importo mais’, ou mesmo ‘estou pensando em acabar com tudo’ – que devem ser levados a sério.
“Raramente a decisão é tomada de repente. Nos dias e momentos anteriores ao suicídio o indivíduo apresenta manifestações que indicam a idéia”, alerta. “Por trás de um comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos.
O suicídio é considerado o desfecho final de um processo complexo multifatorial, não podendo ser considerado apenas resultado de eventos pontuais na vida do indivíduo”, afirma Carina.
Fale com os voluntários do serviço de atendimento do CVV sob total sigilo, 24 horas através do telefone 141, todos os dias. O CVV de Criciúma fica localizado no Centro, na Rua Cel. Pedro Benedet, nº 46, Edifício Martinho Acácio Gomes, sala 321. O atendimento presencial é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, ou pelo telefone (48) 3439 0222.