“Eu fiquei sem ver o mundo. Eu rezava para que chegasse a noite, para dormir. Era uma coisa horrível quando o dia amanhecia, porque eu não sabia como eu ia enfrentar aquele dia. As cores não existiam, o sabor da comida também não existia. Eu procurava o porquê daquele medo e não achava”. Esse é o depoimento da aposentada Francis Almeida, que mostrou um pouco do que foi conviver com depressão no JPB 1ª Edição desta terça-feira (25). O telejornal exibe, até o fim da semana, uma série de reportagens sobre a depressão.
Para Francis, a doença, que não aparece em exames de imagem ou de laboratório, era devastadora. “Eu fui dormir me sentindo um pouco só, sentindo tristeza sem saber o porquê. Até que quando acordei, já acordei sem vontade de comer, sem vontade de nada, de nada”, lembrou Francis Almeida. “Eu chorava, eu pedia pra Deus me levar”.
Segundo a psicóloga Ana Sandra Fernandes, é preciso saber distinguir uma tristeza comum da depressão. “O que diferencia essa tristeza, que é comum, que é absolutamente compreensível, esperada na vida de todas as pessoas, é a duração e a intensidade dessa tristeza. Se essa tristeza é persistente, ela dura por muito mais de duas semanas e ela acaba trazendo dificuldades outras na vida da pessoa, uma ausência de sentir prazer com situações que anteriormente dava prazer em fazer, isso pode sugerir que a gente esteja falando de um quadro de depressão”, esclareceu.
O cérebro é formado por neurônios, células que, normalmente, se comunicam através de neurotransmissores. Porém, quando a pessoa está com depressão, esses neurotransmissores não funcionam como deveriam e essa comunicação entre os neurônios fica prejudicada e os sintomas começam a aparecer.
Hipócrates já falava de depressão no ano 400 antes de Cristo. Ele chegou a descrever os sintomas e chamava o problema de melancolia. Na Idade Média, a depressão era atribuída aos demônios. As pessoas que sofriam com a doença eram excluídas.
Só no século XVIII, a ciência começou a despertar mais interesse sobre o assunto. Foi nessa época que o compositor Beethoven foi diagnosticado com depressão. No século XX, começaram a surgir os primeiros remédios para combater a doença. O mais famoso deles, a fluoxetina, só entrou no mercado na década de 80 e ficou conhecido como a “pílula da felicidade”.
“Foi a revolução porque não tinha nenhuma medicação agindo sobre a serotonina, que era, até então, o neurotransmissor mais envolvido. A serotonina está baixa, por um mal funcionamento, e a fluoxetina fez com que aumentasse essa serotonina e de repente vem essa alegria, essa energia, essa felicidade de volta”, explicou o médico psiquiatra, Estácio Amaro.
“Quantas vezes ela se agarrou comigo e dizia ‘me deixe morrer’, ‘fique comigo’, ‘me ajude pelo amor de Deus’ e eu respirava fundo e dizia: ‘olha a vida com outros olhos, minha mãe’. Porque a gente não entende, sabe, por que a pessoa está daquele jeito. Isso é uma coisa complicada”, contou a filha de Francis, Gerlane Dantas.
Porém, ela explicou que há como superar a doença. “A gente tem que esquecer, deixar de lado essa coisa de querer saber tanto o porquê. Oferece o teu amor, oferece a tua atenção, oferece o teu carinho. Porque naquele momento é o que ela tá precisando”, disse. “A gente conseguiu resgatar mainha com o apoio da psicóloga e da psiquiatra, a religião e o apoio da família”.