Às vésperas do dia mundial de prevenção ao suicídio – 10 de setembro – duas lamentáveis notícias ocupam hoje os jornais, de homens com problemas financeiros e pessoais que se mataram – juntamente com o filho, em São Paulo, e com a família inteira, como possivelmente ocorreu no Rio de Janeiro.
Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio porque, apesar de ser uma das principais causas de morte no mundo todo, ele pode em boa medida ser prevenido. Para tanto é importante conhecer os três principais fatores ligados a esse comportamento.
1 – A presença de um transtorno mental – estima-se que 90% das pessoas que colocam fim à própria vida tenham algum transtorno mental, principalmente transtornos do humor (depressão e transtorno bipolar), transtornos psicóticos e dependências químicas. Ter alguma dessas doenças apenas não basta, normalmente há também:
2 – A sensação de estar sem saída – o gatilho usualmente é uma crise grave, um dilema pessoal muito importante, uma situação para a qual não se vê saída. Cientistas calculam que a crise econômica internacional levou a um aumento de casos, sendo responsável por 10.000 “suicídios econômicos” entre 2008 e 2010, por exemplo. Mas ainda assim é difícil que a pessoa se mate sem ter:
3 – Acesso a meios letais – diante do desespero da situação, com a qual não se consegue lidar por conta de um transtorno mental, atos extremos acontecem. Se for fácil ter acesso a formas eficazes de morrer, a chance de o suicídio é maior. Trabalhar armado ou ter arma em casa, não ter rede de proteção nas janelas, lidar com venenos ou drogas, são todos fatores que tornam um ato que talvez fosse impulsivo numa atitude fatal.
É a partir desse tripé que se pode elaborar estratégias de prevenção.
1 – Aumentar o esclarecimento da população sobre os transtornos mentais e disponibilizar tratamentos eficazes – quanto mais as pessoas conhecem depressão, bipolaridade, esquizofrenia etc., maior a probabilidade de procurar atendimento se necessário. Claro que é fundamental que encontrem ajuda quando procurarem.
2 – Oferecer esperança – iniciativas como o CVV (telefone 141), aconselhamentos e mesmo a famosa experiência da ponte coreana (veja) mostram que mesmo pessoas em crise podem ser demovidas do plano de morrer se vislumbram alguma saída, coisa que tais iniciativas conseguem fazer. A campanha americana It gets better (Vai melhorar, numa versão livre), para prevenção de suicídio entre adolescentes que sofriam preconceito por serem gays, baseava-se em vídeos de adultos gays que atravessaram essa fase de bullying e sobreviveram. Às vezes basta alguém dizer que vai melhorar para que o instinto de sobrevivência retome o controle.
3 – Restringir acesso a meios letais – essas iniciativas foram bem sucedidas de todas as formas que já foram implementadas. A troca do gás encanado por gás não letal, o banimento de pesticidas tóxicos, a construção de barreiras em pontes – tudo o que historicamente dificultou um pouco o ato de se matar reduziu as taxas de suicídio. As pessoas não mudam simplesmente de um meio para o outro, elas repensam a decisão.
Sempre que possível passe essas mensagens adiante.
Depressão é uma doença e deve ser tratada. Assim como transtorno bipolar, psicoses e dependências químicas. Não adie o tratamento.
Evite ter por perto coisas que matam. Coloque tela nas janelas.
Não estoque grandes quantidades de remédio.
E, principalmente, respire fundo e espere um pouco. As crises vêm em ondas. Essa também vai passar.