A Golden Gate Bridge é uma ponte localizada no estado da Califórnia, nos Estados Unidos que se notabilizou pela trágica fama de ser um local que muita gente procura para se suicidar. Pessoas que queiram morrer precisam, definitivamente, estar muito mal a ponto de recorrer a Golden Gate Bridge para saltar.
Mas e se essas pessoas são impedidas de saltar? O que acontece com elas depois?
Você pode pensar que, uma vez libertos pelas autoridades que impediram seu suicídio na ponte, elas ainda viriam a tentar novamente o suicídio. Afinal, essas pessoas estavam decididas a morrer. Seria lógico então pensar que ser impedido de saltar simplesmente atrasou suas mortes.
O que você acha? Se teve tal suposição você está errado. Isso, errado!
Na década de 1970, um pesquisador chamado Richard Seiden resolveu investigar o que aconteceu com 515 pessoas que chegaram à Golden Gate Bridge para morrer nos 35 anos anteriores, mas que foram detidos pelos policiais da Patrulha Rodoviária da Califórnia. Ele publicou os resultados em um artigo intitulado “Where Are They Now?: A Follow-up Study of Suicide Attempters from the Golden Gate Bridge.”
O que o Dr. Seiden encontrou é um testemunho notável, e esperançoso, do fato de que uma crise suicida é frequentemente – muitas vezes – temporária.
Das 515 pessoas cuja tentativa foi interrompida, 35, de fato, vieram a morrer por suicídio. Considerando os relatos que os pesquisadores não incluíram, o Dr. Seiden afirmou que 90% das pessoas que tentaram saltar do Golden Gate Bridge não morreram por suicídio.
O que outras pesquisas mostram?
Esta pesquisa, embora com 35 anos, ainda é verdadeira. Apesar de uma tentativa de suicídio anterior aumentar drasticamente o risco de suicídio futuro, os estudos demonstram que a maioria das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não morre por suicídio:
Em um estudo da Finlândia, de 224 pessoas que tentaram suicídio e foram atendidas em um centro de saúde, 8% morreram por suicídio dentro de 12 anos.
Pesquisadores da Suécia seguiram 34.219 pessoas que foram hospitalizadas após um ato de automutilação intencional. Durante 3 a 9 anos de seguimento, 3,5% morreram por suicídio.
Um estudo seguiu 100 pessoas que sobreviveram a uma tentativa de suicídio por overdose. No final do seguimento de 37 anos, 13% morreram por suicídio. (A taxa de mortalidade deste estudo é maior do que outros, quase certamente por causa do longo período de acompanhamento e da natureza séria da tentativa, o que justificou a admissão em um hospital).
No geral, uma revisão recente de 177 estudos de pesquisa em todo o mundo descobriu que 4% das pessoas que sobreviveram a um ferimento ou intoxicação intencionalmente provocados se suicidaram em 10 anos.
Por que eles decidiram ficar vivos?
Existem diferentes possíveis razões pelas quais as pessoas que tentam o suicídio, ou fazem tal tentativa, decidem escolher depois se manterem vivas. A razão mais intuitiva é que as crises suicidas são, por sua natureza, temporárias. Na grande maioria das vezes, a crise passa, e passa a vontade de tirar a própria vida.
Além disso, as pessoas que tentam o suicídio podem receber a ajuda de que precisam depois. Amigos e familiares podem se reunir ao seu lado. Terapeutas e médicos podem ajudar a fornecer alívio. Os motivos da pessoa para morrer podem começar a desaparecer.
Outra possibilidade é que o instinto de viver passa a falar mais alto quando alguém se aproxima realmente da morte. Até então, esse instinto pode ter sido obscurecido e quase que anulado pela depressão, estresse, desesperança ou desespero.
O Instinto de Viver
A história de Kevin Hines demonstra com clareza como a vontade de viver pode aparecer quando a vida de alguém está próximo da morte. Em 2000, ele realmente saltou da Golden Gate Bridge. Poucas pessoas sobrevivem a uma tal queda. A água cerca de 200 metros abaixo age da mesma forma que o concreto quando uma pessoa cai sobre ela em alta velocidade.
Embora a depressão grave por que passava o tenha levado saltar da ponte, Kevin Hines afirmou :
“No segundo momento que eu soltei, eu sabia que cometi um grande erro”.
Para Kevin Hines, a vontade de viver surgiu no exato momento em que saltou. Ele conseguiu se endireitar nos poucos segundos que demorou para ele bater na água e desta forma evitou bater de cabeça. Depois que ele foi resgatado, ele continuou a viver, e vive ainda, servindo como um ardoroso defensor da prevenção do suicídio a nível nacional.
Lições de Vida
Obviamente, e infelizmente, a vontade de viver não se reafirma em todos os que tentam morrer. Não podemos ignorar que 10% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio continuam a morrer por suicídio. E para mais de metade das pessoas que morrem por suicídio, o ato fatal foi mesmo a primeira tentativa de morte.
A tragédia do suicídio é indiscutível. A sobrevivência dos que fazem uma tentativa de suicídio nem sempre acontece.
No entanto, me dá grande esperança saber que a grande maioria dos sobreviventes de tentativa de suicídio permaneça sendo apenas isso – sobreviventes. Este é talvez o melhor argumento para prevenir o suicídio. É verdade que o suicídio às vezes desafia mesmo os melhores esforços para combatê-lo . Mas, em geral, a evidência é que evitar o suicídio e a prevenção não é simplesmente um atraso temporário da morte.
A prevenção do suicídio pode salvar vidas. E para a maioria daqueles cujas vidas foram salvas, a vida continua por muitos e muitos anos.
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.