Macarena Cabrillana parecia uma brasileira tamanho assédio que recebeu logo após vencer Chia-Yi Lu, de Taipei, na estreia da Paralimpíada do Rio. Precisou que o treinador Aldo Sepulveda a chamasse, aos gritos, para deixar a Quadra 7 do Centro Olímpico de Tênis. A verdade é que ela estava tão feliz que perdeu a noção de tempo – foram quase 15 minutos atendendo torcedores depois de aplicar 2 sets a 0 (6/4 e 6/3) no começo da noite de sábado. Explica-se: a chilena aprendeu a valorizar cada momento que o tênis em cadeira de rodas lhe deu. É um novo sentido de vida após ter ficado paraplégica, resultado de uma tentativa de suicídio aos 16 anos.
Nascida em Santiago, Macarena desenvolveu uma personalidade introvertida. Familiares e amigos não perceberam os sintomas de depressão, achavam que tudo não passava de timidez. O silêncio e o isolamento, porém, escondiam uma vida sem perspectiva. Ela, então, em 2008, decidiu se jogar do quinto andar do prédio em que morava. A queda foi severa. Passou cerca de um mês internada. Resultado: escapou da morte, mas a lesão lombar a levou a viver em cadeira de rodas.
– Não tenho problema em falar do que aconteceu comigo. A tentativa de suicídio, obviamente, não foi a melhor decisão diante das minhas inseguranças. Aconteceu e, obviamente, me marcou. Nunca imaginei que passaria por aquilo, não desejo a ninguém. Aprendi muito, me fez crescer mais rápido. E, sem querer, abriu a oportunidade de me dedicar ao esporte de forma profissional. Agora, aproveito tudo. Vivo intensamente. É, por isso, que adoro o Brasil, é um dos meus países favoritos. As pessoas são carinhosas, parece o Chile. Me sinto muito bem aqui – disse a sul-americana, aos 24 anos.
A reabilitação não foi fácil. Apresentada ao tênis, como uma maneira de intensificar o tratamento, apaixonou-se pela modalidade. Virou sua profissão. Deu novo sentido à vida. Conseguiu até bater bola duas vezes com Rafael Nadal, seu ídolo, em eventos em Viña del Mar e Santiago. Mas também gerou decepção: a maior delas no Jogos Parapan-Americanos de Toronto, ano passado. A queda na primeira rodada foi um duro golpe.
– O tênis é um esporte muito individual. Se passa muito tempo fora de casa, longe da família. Então, há momentos ruins com as derrotas. O jogador se questiona muito, se é capaz de fazer aquilo. O Parapan foi um exemplo: tinha muita expectativa e caí na primeira rodada. Amadureci muito desde então. Um ano atrás não sabia lidar com isso, com a pressão. Esse período foi importante para crescer. Hoje posso dizer que o tênis é tudo para mim. Não é só minha profissão, é a minha vida. É o que amo fazer, é o que me fez recuperar depois do acidente em 2008. Quero continuar fazendo por um bom tempo – contextualizou.
Até o Rio, o auge da carreira havia sido em 2014, ao ser campeã de duplas e ter conquistado o terceiro lugar em simples nos Jogos Para-Sul-Americanos. Como caiu na primeira rodada em Toronto, ano passado, a vitória na estreia em Paralimpíada é histórica.
Atual 28º lugar no ranking mundial, tentará ampliar a campanha neste domingo. Terá uma parada complicada: encara a japonesa Yui Kamiji, a número 2 do mundo. A partida, na Quadra Central, é a segunda da programação, que começa às 11h (de Brasília). À tarde, não antes das 17h30, estreará nas duplas feminino: ao lado de Francisca Mardones enfrentará as britânicas Lucy SHuker e Jordanne Whiley.