Considerando o aumento dos casos de suicídio de indígenas da etnia Karajá, na região de Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, o Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF-MT) instaurou procedimento para apurar os motivos dos casos registrados. De acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Araguaia, 49 índios tiraram a própria vida, entre os anos de 2002 e 2017. Desse total, 46 são homens e três são mulheres.
O documento é assinado pelo procurador Rafael Guimarães Nogueira. No despacho, ele cita como maior preocupação do MPF-MT, o “aumento de casos de suicídios” entre os índios jovens.
Em um ofício, como resposta ao órgão, o coordenador do Dsei Araguaia, Antônio Fernando Ferreira, afirmou que a instituição, tem tomado providências diante dos casos registrados.
No documento, ele cita a realização de eventos nas comunidades indígenas para “reduzir o uso abusivo de álcool e outras drogas e a incidência de tentativa de suicídio”. Ele alega ainda que uma equipe de saúde mental foi contratada para trabalhar nas comunidades.
Ao todo, na região moram cerca de 5 mil habitantes indígenas, distribuídos em sete etnias e cerca de 39 aldeias. O Dsei Araguaia, com sede em São Félix do Araguaia, a 1.159 km de Cuiabá, atende municípios de Tocantins, Mato Grosso e Goiás.
Para a professora do curso de ciências sócias da Universidade Federal de Goiás (UFG), Mônica Thereza Soares Pechincha, a causa dos suicídios ainda não é muito clara. No entanto, em estudo publicado por ela, a “entrada da globalização” nas aldeias é apontada como possível motivo.
No artigo, “O suicídio Karajá fora da lei: reflexos acerca da vinculação entre norma civilizatória e vontade de existir”, a professora entrevista professores indígenas da etnia Karajá sobre a ‘epidemia’ dos suicídios. Para eles, o acesso aos meios de comunicação, a intensificação da educação escolar abriram portas com o mundo dos brancos e os modelo de consumos.
“Como dizem, o dinheiro está criando classes sociais nas aldeias e não poder adquirir certos bens estaria tornando os jovens entristecidos e levando-os a não desejar viver”, diz trecho do artigo.
Ainda no estudo, a professora afirma que o alcoolismo não é colocado como causa inconstestável das mortes. Segundo ela, nem todos que se suicidaram faziam o uso de bebidas alcoólicas. “Ao contrário, muitos dos jovens que morreram eram quietos e comportados”.
Um dos professores entrevistados compara os suicídios com uma epidemia. “Como a gente vai controlar isso? A primeira pessoa que se suicidou foi na minha família. Depois de Itxalá [nome da aldeia], parecia gripe, aconteceu uma epidemia. Houve um tempo que era um atrás do outro, parecia que o mundo estava se acabando”.