No início deste ano, em uma noite de segunda-feira em abril, Andy Roberts, cunhado do jogador de rúgbi britânico Luke Ambler, se suicidou.
Ambler e sua família ficaram arrasados com a notícia. Dois dias antes, Roberts havia estado na casa de Ambler, brincando e sorrindo — ele até mesmo jogou futebol no domingo. Mas, agora, havia partido.
Foi em resposta a esse trágico acontecimento que Ambler, que tem dois filhos, lançou o Andys Man Club — um espaço seguro para que homens em crise se abram com outros em situação semelhante.
Embora o clube tenha sido lançado em julho, já é um enorme sucesso, ajudando homens que atingiram o fundo do poço para superar obstáculos pessoais e que também se transformaram em âncoras de apoio para outros em posição semelhante.
Ambler diz que seu grupo de apoio começou como um “clube do café” para homens, mas também com chá, biscoitos e a oportunidade de falar sobre problemas que os estão oprimindo. Mas, rapidamente, se transformou em uma sessão de grupo, onde eles discutem acontecimentos recentes da vida e falam sobre estratégias para enfrentar esses obstáculos.
Ambler, de 26 anos, também lançou recentemente a campanha #ItsOkayToTalk (não há problema em falar), com o objetivo de derrubar o estigma de que homens não falam sobre sentimentos, e que recebeu apoio de celebridades do Reino Unido, como o comediante Ricky Gervais e o jogador de rúgbi Danny Cipriani.
“Aquele sentimento, de ajudar alguém, eu colocaria apenas abaixo do nascimento de minha filha em termos de importância e impacto”, Ambler disse ao The Huffington Post UK.
“Nunca poderia equiparar isso ao nascimento de minha filha, mas estamos falando de vida aqui — quando alguém nasce, é vida, e, quando alguém decide ficar nesta terra, é vida também. Para mim, nenhum valor monetário ou qualquer coisa nesta terra poderia ser comparado a isso.”
No Reino Unido, o suicídio é a causa número 1 de mortes entre homens com menos de 45 anos, com uma taxa de 12 homens se matando todos os dias.
A taxa de suicídio masculino é atualmente três vezes maior do que a das mulheres e, embora esse número tenha diminuído um pouco em 2014 — de 17,8 para 16,8 mortes para cada 100 mil habitantes —, ainda é um problema muito grande.
O Andys Man Club faz parte de um esforço contínuo para ajudar a diminuir esse número.
“Cerca de 22 homens entraram em contato nas últimas três semanas [depois do lançamento do site]”, afirma Ambler. “O grupo está realmente forte agora, e existem pessoas que são âncoras de apoio e pessoas que precisam de ajuda. Mas todo mundo lá veio do mesmo lugar sombrio.”
Segundo Ambler, “há um amplo espectro de problemas que podem levar as pessoas para esse lugar: términos de relacionamento, direito de ver as crianças, desemprego, dívidas, apenas se sentir para baixo e não ser capaz de se expressar porque você é homem e sente que falar é um sinal de fraqueza”.
As sessões podem durar de uma a três horas. Os participantes precisam ter mais de 18 anos, e o serviço atualmente está disponível apenas na cidade de Halifax, na Inglaterra. No entanto, o sonho de Ambler é lançar mais grupos de apoio em todo Reino Unido.
“Tem sido muito poderoso ver as mudanças nas pessoas que já vieram”, diz Ambler. “O poder do Andys Man Club está nos homens que se sentam e ajudam uns aos outros em momentos difíceis.”
O sucesso da campanha #ItsOkayToTalk colocou o grupo de apoio de Ambler no centro das atenções — e provou que existe uma enorme demanda por grupos semelhantes no Reino Unido.
“Recebi centenas de e-mails e mensagens de pessoas dizendo o quão poderosa a campanha #ItsOkayToTalk tem sido”, diz Ambler.
“Um rapaz mandou uma mensagem para dizer: ‘Você me salvou’. Ele viu a campanha justo no momento certo. Na verdade, cerca de dez pessoas me mandaram e-mails para dizer que a campanha as havia ajudado a enfrentar momentos muito sombrios”.
Ambler diz que não esperava que a campanha nas redes sociais, criada por ele em sua sala de estar, tivesse um impacto tão grande.
Mas teve, e no prazo de quatro dias varreu a Internet e ganhou atenção nacional — com atletas olímpicos, comediantes e todos os tipos de celebridades mostrando apoio.
Para os que não viram a hashtag #ItsOkayToTalk nas redes sociais, a campanha envolve tirar uma selfie e fazer um sinal de “OK” com a mão. Depois, a imagem é compartilhada nas redes sociais e cinco amigos são marcados para fazer o mesmo.
A CALM, organização de apoio à saúde mental do Reino Unido, elogiou a eficácia da campanha. O presidente da instituição de caridade, James Scroggs, disse ao The Huffington Post UK: “A CALM está entusiasmada em apoiar Luke na fantástica campanha #itsokaytotalk”.
“Acreditamos que os rapazes podem compartilhar essa mensagem positiva com outros; e também ouvi-la de seus modelos nos mundos do esporte e do entretenimento”, disse Scroggs. “Enquanto o suicídio for a maior causa de mortes em homens com menos de 45 anos no Reino Unido, essa mensagem precisa ser espalhada.”
Em resposta ao sucesso da campanha, Ambler diz: “É espantoso ver tamanho impacto criado, a partir de uma pequena cidade em Halifax, por uma família que é muito preocupada com a saúde mental e com o suicídio”.
“Desde então, tenho recebido e-mails de grandes instituições de caridade e profissionais de saúde que querem que estejamos a bordo com eles.”
Agora, Ambler espera criar grupos de apoio em toda a Inglaterra — e depois outros países. Também há planos de criar um “Andys Club” para garotos com menos de 18 anos.
“Meu objetivo é reduzir a estatística do suicídio masculino pela metade em cinco anos em todo o país”, diz Ambler.
Seu conselho sobre homens que se encontram em um lugar sombrio no momento é simples: “Procure alguém e converse — eles não vão julgá-lo, como você acha que irão. As pessoas são mais compassivas do que achamos; há muito amor lá fora”, afirma Ambler.
“Procure os serviços locais ou [as organizações] Samaritans ou CALM [no Reino Unido]. Eles podem ajudar a acalmá-lo imediatamente”, acrescentou.
“Apenas lembre-se: não há problema em falar.”
Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 141, para o CVV – Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar. O movimento Conte Comigo oferece informações para lidar com a depressão. No exterior, consulte o site da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio para acessar uma base de dados com redes de apoio disponíveis. O HuffPost Brasil possui também uma série de reportagens sobre a prevenção do suicídio.