A morte de uma adolescente e seu anúncio nas redes sociais impacta o México
O México ficou chocado pelo suicídio de uma jovem chamada Gabriela H. G., anunciado por meio da sua conta no Facebook. “Adeus a todos. Não tenho nada, já não tenho nada. Júlio, eu te amo. Nunca se esqueça disso. Parto com um sorriso, pela felicidade que você me deu enquanto durou. À minha família, peço perdão. Amo vocês. Gaby” foi a mensagem da jovem, que deixou uma fotografia sua com uma tira de tecido azul amarrada ao pescoço.
A jovem acabou se enforcando, não sem antes receber cerca de 20 mil “curtidas” em seu post de despedida, antes de que o Facebook detectasse e desativasse a conta. Mas ninguém fez o menor esforço por preencher o evidente vazio de Gabriela.
Gaby é parte de uma tendência crescente de suicídio juvenil anunciado por meio das redes sociais, que atinge muitos países. Talvez seja uma representação macabra do vazio que o mundo virtual pode produzir no usuários. Talvez sejam vítimas da solidão moderna: aquela solidão coletiva que se anunciava no começo da era das comunicações sociais, com o surgimento da televisão na vida cotidiana das pessoas.
Só no México, há quase 6 mil suicídios por ano, além de 10 mil tentativas de suicídio em crianças e adolescentes, que recorrem a armas de fogo, objetos cortantes, veneno de rato, enforcamento ou saltos de lugares altos para acabar com a vida.
Os elevados índices de suicídio no mundo passaram das pessoas mais velhas aos jovens. O suicídio juvenil é a terceira causa de morte entre as pessoas de 15 a 44 anos, segundo dados da OMS. Também é preocupante o aumento de tentativas anunciadas entre jovens, e muitas vezes propiciadas pelas redes sociais.
Casos como o de Gaby são mais frequentes do que se imagina, na opinião pública mexicana, que costuma qualificar o México como “um país da felicidade”. Rosário L., de 20 anos de idade, disse ao seu namorado “Não se preocupe; o que vou fazer não é culpa sua” justamente antes de enforcar-se, pendurada no varão de um guarda-roupa. E a lista de causas é imensa: desunião, incapacidade de dar sentido à ruptura, violência familiar etc.
Dom Pablo Galimberti Di Vietri, bispo de Salto (Uruguai), publicou em setembro, na revista “Cambio”, uma reflexão sobre os jovens e o suicídio. O bispo uruguaio se perguntava: “Por que há tão pouca capacidade de suportar uma frustração amorosa? (…) Isso pode ser consequência de uma cultura e mentalidade narcisistas, que levam a pensar que somos o centro de toda realidade – o que não favorece em nada a assimilação das adversidades”.
O prelado acrescentou algo determinante no caso do suicídio juvenil: “Este narcisismo fracassado nos recorda o falso sonho de uma civilização feliz, conseguida mediante a tecnologia e a abundância de bens. O crescimento tecnológico não pode ocultar a pobreza da vida interior, a perda de sentido de gratuidade ou de assombro, que é tão importante, segundo os antigos, como disparador de uma experiência espiritual”.