A importância do apoio social no comportamento suicida
Nos casos de pessoas com ideação suicida que acompanho no consultório e no meu trabalho no serviço público, tenho observado cada vez mais a importância do suporte da família e de amigos como um fator de proteção, dado que sempre aparece nos estudos relacionados a este tema.
Ressalto logo de início que isso não quer dizer que quando ocorre um suicídio completo ou uma tentativa de suicídio houve uma falha nesta rede de apoio. Como falamos sempre, o comportamento suicida é resultado de um conjunto complexo de fatores, que varia em cada caso. Nos grupos de apoio, sabemos de muitas histórias nas quais as famílias estavam muito próximas, acompanhando seus entes queridos em todos os atendimentos e tentando suprir todas as suas necessidades, e ainda assim, o suicídio aconteceu.
Porém, também sabemos que ainda há um estigma em relação ao sofrimento emocional e muitas vezes é difícil para as pessoas próximas lidarem e acolherem seus entes queridos quando há uma depressão intensa ou a expressão do desejo de morrer, por exemplo.
A importância:
De acordo com o Dr. Neury Botega, no livro “Crise Suicida – avaliação e manejo” (2015, p. 168):
“Quando a família entra em contato com a crise suicida de um de seus membros, há uma explosão de sentimentos e de reações, geralmente de natureza contraditória: preocupação, medo, raiva, acusação, frustração, banalização, esperança, culpa, disponibilidade, superproteção, cansaço, irritação e hostilidade. Ao mesmo tempo em que amigos e familiares se preocupam, eles podem se sentir muito desconfortáveis diante do comportamento do paciente. É normal a ambivalência, é normal não saber ao certo como agir, e também é normal dizer ou fazer algo para logo depois se arrepender”.
Quase sempre, a primeira tentativa de ajuda vem em forma de conselhos que têm a intenção de fortalecer (“Não fale isso”; “Tenha força de vontade”; “Você não pensa no que isso vai fazer com as pessoas que te amam, que egoísmo!”; “Você tem que querer se ajudar”), mas podem acabar por fazer com que a pessoa que está em sofrimento sinta-se ainda mais incapaz ou culpada por não conseguir lidar com as situações de outra forma.
É importante lembrar que os profissionais de saúde também devem olhar para os familiares, seja no Pronto-Socorro, serviço de saúde mental ou clínica, orientando sobre os cuidados necessários (como o acesso a medicamentos e como ajudar a identificar alguns sinais de alerta), desmistificando o sofrimento emocional e encaminhando para o suporte adequado sempre que for indicado. Nos meus atendimentos, sempre existem sessões com esse objetivo, para pelo menos um familiar que o meu cliente escolheu, sempre com a presença deste, para que não existam mal-entendidos. Esta pessoa será a minha referência caso eu precise fazer um contato de emergência; nada mais justo que ela também seja cuidada e preparada para lidar com situações de crise da melhor forma possível.
Se você tem um familiar ou amigo que está passando por uma situação difícil, o primeiro passo é se aproximar e se colocar disponível para ouvir sem fazer julgamentos. No canal do Vita Alere no Youtube, você encontra o vídeo “Como ajudar alguém que quer se matar” e muitos outros que também podem ajudar.
Até mais.