A cada 40 segundos, no mundo, uma pessoa tira a própria vida . O levantamento é da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados semelhantes também foram divulgados em publicação do Conselho Federal de Psicologia, que afirma que, anualmente, mais de um milhão de pessoas cometem suicídio. Segundo o CFP, uma grande questão vinculada ao suicídio é que a prevenção, de forma global, é possível. Logo, os comportamentos suicidas podem ser contextualizados como um processo complexo, que pode variar desde a ideia de retirar a própria vida, que pode ser comunicada por meios verbais e não verbais, até o planejamento do ato, a tentativa e, no pior dos casos, a morte.
A prevenção do comportamento suicida, inclusive, conseguiu diminuir seus números em alguns países europeus, mostrando, assim, a eficácia de um bom programa, com profissionais qualificados. Outro dado estatístico mostra que a idade média das pessoas que cometem suicídio vem diminuindo, além de mostrar também que mulheres apresentam o maior índice de tentativa de suicídio, apesar de os homens liderarem a consumação do ato. Mais do que polêmico, o tema requer cuidados em qualquer tipo de abordagem.
De acordo com o livro “Suicídio e os Desafios para a Psicologia”, que é fruto de dois debates onlines promovidos pelo Conselho, além de ser um tabu, o assunto praticamente permanece velado entre os profissionais da área de psicologia e psicanálise e requer análise a respeito de como lidar com a dor dos familiares que já enfrentaram esse tipo conflito. “Uma questão que me parece ser fundamental de se pensar, é o fato do suicídio não ser qualquer morte, é uma morte em específico, é uma determinada morte. E eu não estou falando de um suicídio em qualquer momento histórico, mas em um momento histórico específico, na sociedade capitalista”, afirma o psicólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Nilson Berenchtein Netto, que participa da elaboração de um dos capítulos do livro.
Na visão de pesquisadores e profissionais, um dos desafios em relação à prática do suicídio é a prevenção. “Há 22 anos trabalho com pessoas em risco de suicídio no Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (Neps), uma instituição pública que faz parte do Centro de Informações Antiveneno (Ciave), centro de referência em toxicologia ligado à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia”, explica a coordenada do Neps, Soraya Carvalho. Segundo ela, para o paciente, o Neps disponibiliza acompanhamento psicológico, psiquiátrico e terapia ocupacional e, com a família, promove reuniões informativas sobre depressão e suicídio, colhendo queixas, informando e construindo alternativas para lidar com a depressão e a tentativa de suicídio do familiar.
Estudos apontam caminhos para lidar com a dor dos familiares
Mais do que polêmico, o tema requer cuidados em qualquer tipo de abordagem. Além de impactante, um suicídio deixa profundas marcas, principalmente nas pessoas mais próximas. “A dor é indescritível e causa sequelas para o resto da vida de quem fica”, explica uma professora que recentemente perdeu o marido por meio da morte voluntária. “Ele brincava muito com nosso filho mais novo. Sempre foi um pai presente.Nunca imaginei que fosse capaz de cometer um ato de extrema gravidade”, conta a professora.
No entendimento da psicóloga Leslye César Barbosa,que atua em Dourados, em determinadas situações é possível, através de acompanhamento clínico, identificar traços suicidas ainda na infância. “Os sintomas de depressão em uma criança é diferente da fase adulta. Quando ela está muito agitada ela ainda sabe lidar com tristeza, com a raiva. Ao invés de ficar deitada, ela faz uma opção pela hiperatividade, que também é um sintoma da depressão”, pondera Leslye.
“Esse assunto envolve muita dor e precisa ser melhor discutido com a sociedade”, explica a psicanalista Isloany Machado. Segundo ela, o principal é a escuta da dor. “Quando uma pessoa fala, ela simboliza a situação e pode ser uma chave importante para que, tanto o profissional quanto a família, seja capaz de entender o porquê”, explica Isloany.
Segundo o CFP, os comportamentos suicidas podem ser contextualizados como um processo complexo, que pode variar desde a ideia de retirar a própria vida, que pode ser comunicada por meios verbais e não verbais, até o planejamento do ato, a tentativa e, no pior dos casos, a morte.
O impacto da perda acontece de maneira imediata nos familiares e amigos em todas as sociedades. “Esse impacto é mais evidente nos óbitos por suicídio comparados com outros tipos de morte. Esse é um fenômeno multiforme, complexo, construído e manifestado social e culturalmente”, diz outro trecho do livro “Suicídio e Luto”.
Na publicação são identificados sete componentes no processo de elaboração do luto no âmbito familiar: estado de choque, alívio, catarse, depressão, culpa e preocupação com a perda e raiva.
“Deixaremos de ver o suicídio como um tabu, quando pudermos falar sobre ele de uma forma mais tranquila e “natural”, com maior respeito, sem tantos juízos de valor, sem tanta valoração, valoração negativa especificamente, a respeito desse fenômeno. Pensá-lo de outra forma permite que lidemos com ele também de outra forma. Mudar as nossas práticas sociais, permitindo que vejamos esse fenômeno de uma maneira distinta, já é uma contribuição para desfazer esse tabu que circula em torno da morte em geral e do suicídio em específico”, justifica o psicólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Nilson Berenchtein Netto.
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