Em SC, garotas tentam suicídio mais vezes do que meninos, diz Dive
Foram 140 meninos e 404 meninas de 10 e 14 anos entre 2010 e 2015. Para crianças e adolescentes, escola tem papel especial na prevenção.
Entre 2010 e 2015, 140 meninos e 404 meninas, com idades entre 10 e 14 anos, tentaram suicídio em Santa Catarina, segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive/SC). Destes, 23 morreram. Segundo especialistas, no caso de crianças e adolescentes, a atenção da família e da escola é fundamental para evitar mortes.
“Na maioria das vezes, crianças e adolescentes que cometem suicídio estão expostos a situações de violência, presenciam agressões entre os pais ou enfrentam situações como a perda dos pais, até suicídio deles. Além disso, dificuldade financeira da família ou então bullying também são comuns”, explicou a psiquiatra Deisy Mendes Porto, da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP).
Sinais subestimadoos
Conforme Deisy, em geral, a criança e o adolescente dão sinais que costumam ser subestimados pelos adultos. “Às vezes, as tentativas de suicídio são interpretadas pelos médicos e familiares como um acidente. Os adultos devem ficar atentos a declarações do tipo: ‘não vale a pena viver’, que querem dormir e não acordar mais, inclusive adolescentes que dormem demais também podem estar dando um sinal de distúrbio”, explicou.
Segundo a médica, a escola tem um papel fundamental nessa prevenção. “As famílias, às vezes, acham que os adolescentes estão tentando chamar atenção e desconsideram sinais importantes. Por isso, professores e outros profissionais da rede de ensino têm um papel de extrema relevância, no sentido de encaminhar o aluno ao conselho tutelar, ao atendimento em saúde”, explicou a psiquiatra.
Mulheres tentam mais
Ainda conforme o órgão, 3.403 pessoas morreram no estado vítimas de suicídio nos últimos cinco anos, a maioria homens com idades entre 40 e 49 anos. No mesmo intervalo, 10.771 pessoas tentaram o suicídio, a maioria delas mulheres entre 20 a 29 anos.
Entre os meios mais usados pelos homens para cometer suicídio estão armas de fogo, enquanto as mulheres optam, em sua maioria, por uso de medicamentos, informou a Dive.
“As mulheres tentam o suicídio quatro vezes mais que os homens, mas eles são os que mais cometem efetivamente, porque usam os métodos mais agressivos”, e inclui crianças e adolescentes.
De acordo com a psiquiatra Deisy Mendes Porto, 90% das pessoas que tentam suicídio têm algum transtorno mental.
Geralmente, os sinais vão desde um pedido de ajuda, até tristeza, mudanças de comportamento, irritabilidade e descaso nos cuidados pessoais.
“Já a criança não ficará triste ou chorosa. Ela para de gritar, não apresenta resposta, e, por vezes, começa a dizer que é um peso, que só atrapalha e a se questionar como seria se ela morresse,por exemplo”, disse.
Como buscar apoio
“Precisamos falar mais sobre esse tema e trabalhar na perspectiva de rede, mobilizando as instituições governamentais e não governamentais para desenvolvermos ações mais concretas com relação à prevenção ao suicídio”, ponderou Gladis Helena da Silva, gerente de Vigilância de Agravos da Dive/SC.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente, de forma voluntária, 24 horas, por telefone, e-mail ou chat pelo site da entidade.
Serviços
Atualmente, o estado dispõe de 99 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em diversos municípios e outros 23 estão sendo implantados. No local os pacientes recebem uma avaliação médica e psicológica.
Nesta rede, há cinco Serviços Residenciais Terapêuticos, com moradias para tratamento de longa permanência, localizadas em São José, na Grande Florianópolis, Monte Castelo e Joinville, ambas no Norte do estado. Ao todo, são 630 leitos hospitalares para portadores de transtornos mentais e 350 em hospitais psiquiátricos.