Nesta semana, o Brasil presenciou um triste capítulo adicionado a uma história já muito difícil. No dia 16 de fevereiro, uma criança de seis anos faleceu após um procedimento cirúrgico. O médico responsável foi indiciado pelo crime de homicídio culposo. Paralelamente à realização das investigações realizadas pelos órgãos competentes (Ministério Público, Conselho Regional de Medicina), o caso repercutiu fortemente na televisão e na internet e o profissional foi muito atacado. No dia 29 de junho, ele morreu por suicidio.
⬛ É um caso muito complexo e que deve ser olhado com muito cuidado. Primeiramente, marcamos nossa solidariedade às famílias e amigos tanto da paciente quanto do médico, pois essas pessoas experienciaram duras perdas. E deixamos alguns pontos para reflexão:
1️⃣Existem diferenças entre complicações cirúrgicas e erros médicos. Essa diferenciação pode não necessariamente amenizar a dor de uma perda para os entes queridos de alguém que faleceu após um procedimento médico, mas para a população geral, que recebe e repassa notícias, este é um tópico ao qual temos de atentar. A medicina não é uma ciência à prova de falhas, e para cada procedimento existem riscos previstos e descritos em livros.
2️⃣Por isso é muito importante, nestes casos, aguardar o julgamento vindo das autoridades competentes antes de repassar informações de acusação adiante. Novamente: a dor da perda é imensa e é compreensível que ela suscite naqueles que ficam sentimentos de indignação ou mesmo de raiva. Porém, enquanto sociedade, é importante entendermos nossas responsabilidades enquanto agentes da informação quando repassamos notícias.
3️⃣Nosso uso de redes sociais não pode ser apenas pautado por querer reproduzir de maneira viral as notícias mais chocantes da semana. Isso pode ter efeitos muito complicados em processos que já estão sendo muito difíceis para aqueles que estão diretamente envolvidos com eles.
4️⃣Profissionais da saúde não tem consigo o poder infalível de cura. Sim, existem profissionais antiéticos e que agem irresponsavelmente diante de seus deveres, e para esses casos devemos estar sempre atentos. Porém é essencial que o furor indignado por compartilhar notícias chocantes não tome o lugar de nosso senso crítico para diferenciar uma denúncia de uma acusação. Falta de cuidado quanto a isso pode apenas servir para contribuir para o adoecimento mental de profissionais da saúde.
5️⃣Por fim, é sempre importante lembrar que o suicídio é um fenômeno multifatorial e que não há uma causa única que explique uma morte deste tipo. E lembre-se: se você está precisando de ajuda, você não está sozinho! O CVV atende ligações gratuitamente pelo número 188, e busque também conhecer o Mapa da Saúde Mental, serviço online que reúne recomendações de serviços de saúde mental.