Semana passada ganhamos 2 ingressos, do banco que temos conta, para vermos o Lollapalooza na 6ª feira. E aí, senta que lá vem história:
Primeiro: Me senti uma velha, não conhecia nenhuma das bandas (exceto pela Pablo Vittar) e achei que conhecia a Marina (sim, estava pensando que era a Marina Lima meus amigos – para quem não lembra dela, uma cantora carioca que fez muito sucesso).
Ligo para dois sobrinhos e ofereço o convite, um já tinha comprado o dele e me fala “mas tia, é o melhor dia e você não vai?”. Lá vou eu de novo olhar as bandas, as fotos… e só de pensar em chegar em Interlagos numa 6ª feira, não ter onde parar e enfrentar 200 mil pessoas em um só ambiente, me dava vontade de correr. Apelei para meu espírito aventureiro e desbravador dos shows de heavy metal da minha adolescência, Metálica, Iron Maiden, Sepultura e muitos outros em ginásios de futebol lotados.
Balancei a cabeça e não, não estava a fim de encarar a maratona do festival com bandas que eu não conhecia.
Ligo para outro sobrinho que animado chama o irmão e dizem que podem ir. Minha filha de 14 anos escuta a conversa e fica indignada com o fato de os ingressos não irem para ela. Começa uma ladainha enorme de como isso seria importante para a vida dela e 50 minutos depois ela vai dormir achando que você é pior e mais careta mãe do mundo que a privou de ir ao melhor show que ela poderia ir na vida.
Então descubro que a Marina que ia tocar não era a Marina Lima, risadas internas por me sentir velha mais uma vez. E sim, eu ia adorar ver um show da Marina Lima.
Nada contra a velhice não, deixo bem claro.
Começa o festival e as redes ficam inundadas de posts, stories e tudo mais. Pessoas descoladas, com roupas bacanas, tirando fotos bonitas e curtindo em espaços oferecidos por patrocinadores. Me lembro da revista de fofoca semanal da minha adolescência, onde víamos na manicure uma vida que não era a nossa.
Percebo que durante o final de semana, olho muitas postagens sobre o festival e começo a querer estar lá, afinal, devia ser muito maravilhoso, só eu que não estava percebendo isso.
Falo com os sobrinhos que foram na 6ª feira, chegaram na hora da chuva em um lugar que não tinha onde se proteger, ficam completamente encharcados até o resto do dia. Por causa da chuva, o wifi falha por horas e não dá para comprar nem uma cerveja, pois as pulseiras não funcionam. Respiro aliviada e penso em como me livrei de um perrengue.
Fico muito triste em saber do David Grohl e indignada com os posts da Lorena Eltz.
Assisto o show do Emicida no domingo pela manhã (sim, do conforto da minha casa e pela televisão – as maravilhas do streaming) e fico maravilhada com ele e emocionada com o Pastor Henrique Vieira que falou no final. Abro as redes, vejo inúmeras postagens… Ahh será que não está legal? Acho que deve ser legal afinal…
Resumindo:
Meu pai riu muito com a história da minha filha esbravejando que queria ir ao show e disse que isso era vingança divina (contém ironia), pois ele passava exatamente a mesma coisa comigo e ainda se sentia um carrasco de não deixar. Eu eu tentava insistentemente até conseguir.
Me dou conta de uma coisa, me peguei desejando algo que eu não queria e sentindo que queria fazer parte de um mundo que não é o meu, e isso mexeu comigo, pois foi uma sensação muito subliminar, só comecei a achar que podia ser legal por causa das postagens de pessoas que receberam para estar lá, que ganharam convites vips para estar lá e que não eram os pobres mortais no meio da galera.
Tenho certeza que teve muita gente que foi sem essa mordomia toda e amou!
O uso inconsciente das redes pode nos fazer querer algo que não gostamos e no fim compramos esse estilo de vida descolado e legal dos influenciadores (não falarei da saúde mental deles aqui – o que é outra história) e o pior, nem notamos!
É uma relação estranha… porém fiquei feliz de ter percebido e de cada vez mais procurar ter uma relação legal com ela. Mais consciente de mim e dos outros. E sim, acho que tem muitos influs legais com conteúdo bom. Talvez participar do projeto #ainternetqueagentefaz está me ajudando a olhar atentamente a tudo isso.
E quanto me sentir velha, há isso não tem problema nenhum, fiz o que queria no final de semana e pensei que posso tentar conhecer novos estilos de música – mas ainda estou longe de pensar em ir ao próximo Lollapalooza.
Por: Karen Scavacini – CEO do Instituto Vita Alere
PS: Meu sobrinho acaba de me avisar que a Marina que tocou na 6a não foi nem a Lima e nem a Sena (rindo muito aqui) e sim a Marina Diamandis (Valeu Artur!).