Depois do Azul: Cada suicídio (e cada luto) tem sua história
A cada suicídio consumado, surgem várias perguntas e algumas explicações, estas, quase sempre, apenas hipóteses e dúvidas que frequentemente nunca serão confirmadas. O impacto na família é sempre grande, mas o modo com que cada membro irá lidar com seu processo de luto pode variar. No livro “Depois do Azul”, a partir do suicídio de uma garota, Geneviève, vemos que cada suicídio (e cada luto) tem sua história e permite diferentes pontos de vista.
Na primeira parte, acompanhamos a própria Geneviève, decidida a colocar um ponto final em sua vida na véspera de seu décimo quinto aniversário e já temos um flash de um momento de angústia da mãe desta, quando estava grávida das gêmeas Geneviève e sua irmã, Lou-Anne. Seria o “peso de viver” algo possível de ser herdado? Isso é algo que a avó das meninas também busca compreender e assim talvez resgatar a filha que sofre.
Os pais de Geneviève também demonstram seu pesar a seu modo. E Lou-Anne vai aos poucos tentando montar o complexo quebra-cabeças que ficou depois da morte da irmã. A partir da segunda parte do livro, é em seu diário que ela registra como vê o mundo depois desta perda.
“O que se diz a um pai e uma mãe que acabaram de perder uma filha que, por si só, escolheu morrer? Há, de repente, uma escassez de palavras”.
Lançado no Brasil em 2017 pela Editora Plataforma 21 em parceria com o CVV (Centro de Valorização da Vida”, “Depois do azul” foi escrito por Èlaine Turgeon, premiada autora de livros infantis que quis escrever para adolescentes abordando este tema. O título original da obra é “Ma vie ne sait pas nager” (trecho de uma canção, “Dans un océan”), que seria, em uma tradução literal, “Minha vida não sabe nadar”.
Em uma nota no final do livro, Èlaine revela que aos quinze anos de idade (como Geneviève) teve pensamentos suicidas e, ao escrever este texto, dezessete anos depois, esperava ajudar outras pessoas a escolherem amar a vida. Ao refletir sobre o sofrimento de todos os envolvidos, parece que a autora parece apostar na sensibilização, no diálogo sincero e no fortalecimento de laços como forma de cuidado.
Texto de Luciana Cescon, Psicóloga da Equipe Vita Alere