Campanha inclui vídeos e recursos automatizados produzidos por youtuber, cineasta e especialista em suicidologia. Twitter também lançou iniciativa em parceria com o CVV.
O Facebook Brasil lança, nesta quarta-feira (12), uma ferramenta para auxiliar na prevenção do suicídio. Batizado de #EuEstou, o projeto foi idealizado pelo youtuber PC Siqueira juntamente com o cineasta M. M. Izidoro, e tem consultoria da psicóloga Karen Scavacini, especialista em suicidologia e cofundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.
A iniciativa é a segunda a ser lançada por redes sociais dentro do “setembro amarelo”, que é uma campanha de prevenção ao suicídio iniciada em 2015. Durante todo o mês, orgãos de saúde e empresas são convidados pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria a fazer projetos para evitar doenças como a depressão, um dos principais catalisadores de um pessoa que pensa em se matar.
Na última segunda-feira (10), Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o Twitter anunciou parcerias para a prevenção do suicídio. A rede social passou a oferecer um novo serviço de notificação, o #ExisteAjuda, em parceria com o CVV. O objetivo é promover um suporte aos usuários que estão em uma situação de risco de suicídio ou de automutilação (veja mais abaixo).
Estratégia no Facebook
No Facebook, a campanha vai oferecer aos usuários da rede e do Instagram uma série de vídeos educativos voltados a pessoas que estejam passando por problemas de depressão ou com comportamentos suicidas, mas também é voltada a pessoas que tenham parentes ou amigos nessa situação.
O projeto surgiu de uma conversa entre PC e M.M. sobre suas próprias experiências pessoais. “Eu já passei por situações parecidas, já fiz um monte de vídeos sobre o tema”, afirmou o youtuber.
Com mais de 2,3 milhões de seguidores no YouTube, ele afirma que sua abordagem sobre o assunto fez com que muitas pessoas passassem a procurá-lo para falar sobre o tema, mas que nem sempre é possível ajudar a todos.
“É frustante pra mim, é frustrante pras pessoas”, explicou ele. Juntos, os dois decidiram elaborar uma campanha para oferecer conteúdo a todos interessados em buscar ajuda.
“A gente tem que usar nossos super-poderes para o bem, e a gente tem o poder da comunicação”, disse M.M, que tem 20 anos de carreira como roteirista e diretor de cinema.
Veja abaixo um dos vídeos de apresentação da campanha, produzido e divulgado pelo Facebook:
Conteúdo voltado para jovens
A dupla procurou Karen Scavacini para produzir o conteúdo e passou seis meses trabalhando com uma equipe de criação do Facebook, que encampou o projeto.
“Isso é uma prioridade para o Facebook”, afirmou Daniele Kleiner, gerente do Facebook para Programas de Segurança na América Latina. De acordo com ela, o objetivo do projeto é “ajudar as pessoas a se expressarem e ampliar a mensagem de prevenção”.
A ideia, segundo Karen, é unir as pesquisas científicas que mostram as melhores maneiras de abordar o assunto e os canais capazes de atingir o público jovem que, segundo ela, também é um dos mais vulneráveis quando o assunto é a saúde mental.
“Se a gente não fala, a gente não tem como resolver. E existe uma explosão de suicídio de jovens, então a gente tem que falar com o jovem”, diz Karen.
Outro público-alvo da campanha são os pais, que, segundo Karen, também enfrentam dificuldade em aceitar que os problemas de seus filhos podem se tratar de uma doença, e não de frescura. Além disso, a campanha pretende mostrar aos usuários das redes sociais mantidas pelo Facebook onde encontrar tratamento gratuito nas cidades brasileiras, como os centros de atendimento psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS) e as faculdades de psicologia pelo país.
Segundo M.M., a campanha incluiu a produção de mais de 30 vídeos que serão distribuídos em formato vertical no Instagram e quadrado no Facebook. Também estão em produção tirinhas sobre o tema, redigidas por Fabio Yabu e Adélia Jeveaux e desenhadas por Bruna Saddy.
A linguagem, segundo Karen, segue os princípios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e segue critérios que já tiveram efeito comprovado na mudança de como as pessoas enxergam a depressão e o suicídio. A psicóloga afirma que o conteúdo passa por três etapas: a conscientização, a competência e o diálogo.
Ajuda automatizada
A campanha #EuEstou também oferece recursos automatizados para os usuários. Dois endereços de e-mail foram criados para enviar informações e números de telefone tanto para pessoas apresentando comportamento suicida como para quem quer ajudar alguém com problemas.
Para pedir informações sobre como buscar ajuda emergencial, é preciso enviar uma mensagem para [email protected].
Caso o usuário queira informações sobre como ajudar alguém em perigo, o endereço é [email protected].
“A pessoa que está em sofrimento não tem muito tempo para ficar pesquisando no Google”, explica a psicóloga. “A gente quer oferecer vários caminhos, porque é para você encontrar o seu.”
M.M. explica que as informações são sigilosas e que o sistema não guarda o endereço ou os dados pessoais dos remetentes, além de enviar automaticamente uma resposta com as informações para quem precisa.
“Só esse clique pode ajudar mudar a vida da pessoa”, resumiu o cineasta.
A campanha ainda pretende lançar outras duas ferramentas: um manual para influenciadores que queiram aprender sobre como falar com pessoas que estão expressando sintomas de depressão, e a adesão de instrumentos do WhatsApp, como os grupos, para auxiliar as pessoas em necessidade.
Setembro Amarelo
No Twitter, o #ExisteAjuda funciona assim: tuiteiro que fizer uma busca com palavras associadas ao tema receberá um primeiro resultado como a seguinte frase: Você pode obter ajuda. Veja abaixo:
O projeto é uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Em abril deste ano, o Ministério da Saúde ampliou o rede de apoio pelo número 188. Agora, ele está disponível de graça na maioria dos estados brasileiros.
“São mais de 30 brasileiros mortos diariamente vítimas do suicídio, o que demonstra que ações como esta do Twitter são urgentes e necessárias. O CVV atua gratuita e voluntariamente há 56 anos, e sabemos muito bem que quebrar os tabus em relação ao suicídio exige coragem e força de vontade”, afirma Adriana Rizzo, voluntária e porta-voz do CVV.
O #ExisteAjuda também está disponível nos Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Irlanda, Reino Unido, Hong Kong, Coreia do Sul, Japão e Austrália.
O Twitter também disponibiliza um formulário para pessoas que identificarem alguém que pode estar em situação de risco. As denúncias são avaliadas por uma equipe de profissionais, que entra em contato e fornece recursos disponíveis e incentiva a procura por apoio.
Programa nas escolas
Além da campanha dentro da própria plataforma, o Facebook Brasil também patrocina um projeto da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC). Desde agosto e até novembro, o projeto, chamado “Passaporte: Habilidades para a Vida”, está sendo implementado com alunos de dez escolas públicas em dez estados brasileiros.
Indicadas pelas secretarias estaduais de Educação, as escolas tiveram um orientador e um professor para serem capacitados segundo um programa desenvolvido no Canadá para ensinar aos alunos habilidades emocionais e sociais para lidar com problemas e reduzir os casos de bullying e de suicídio.
Tania Paris, fundadora da ASEC, afirma que “problemas como bullying na escola, dificuldade de relacionamento com os amigos, excesso de timidez, baixa aceitação da própria aparência física, trazem muito sofrimento, que nem sempre é facilmente percebido pelos pais, professores e responsáveis”. A ideia do projeto é abordar, em sala de aula e usando histórias em quadrinhos e atividades lúdicas, questões como emoções, relacionamentos, situações difíceis, justiça, equidade, mudanças e perdas.
Participarão do programa até novembro cerca de mil alunos de 11 a 14 anos de Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Duque de Caxias (RJ), Gaspar (SC), Goiânia (GO), Manaus (AM), São Luís (MA), São Paulo (SP), Salvador (BA) e Vila Velha (ES).
“Acreditamos que esforços educacionais como esse são uma ferramenta essencial para a segurança de crianças e adolescentes, bem como para a prevenção do bullying e suicídio”, afirmou Daniele Kleiner.
Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/09/12/no-setembro-amarelo-facebook-lanca-ferramenta-de-prevencao-ao-suicidio.ghtml