Não é só sua imaginação: a mídia associa de forma desproporcional as doenças mentais a um comportamento violento, foi o que descobriu um novo estudo.
Os pesquisadores da Universidade de Johns Hopkins examinaram 400 exemplos aleatórios de notícias das últimas duas décadas que falavam sobre doenças mentais. Eles descobriram que mais de um terço de todas as histórias sobre os distúrbios mentais era associado a violência contra outras pessoas.
Este número não reflete as taxas atuais de violência interpessoal onde existe envolvimento das doenças mentais, de acordo com os autores do estudo. As informações sugerem que somente 3 a 5% dos atos violentos podem ser atribuídos a doenças mentais sérias.
Porém, sugerir que os problemas mentais sejam um dois principais fatores na violência cria um estigma naqueles que lutam contra essas doenças.
“Nas pesquisas reunimos bastante evidência de tais representações nos meios de comunicação e como criam um estigma em relação aos indivíduos com doenças mentais”, disse a líder do estudo e autora Emma McGinty, professora assistente da Escola Bloomberg de Saúde Pública do Johns Hopkins, ao The Huffington Post. “Na realidade, grande parte da violência não é causada por pessoas com doenças mentais”.
McGinty e sua equipe analisaram noticiários e artigos impressos com alto nível de audiência e circulação e publicaram seus resultados na Revista Health Affairs. Mais da metade das histórias de doenças mentais mencionavam algum tipo de comportamento violento, incluindo violência contra outros ou suicídio e automutilação.
É importante apontar que o estudo não inclui noticiários locais na TV, blogs e outras fontes online, que podem ser contabilizados como grande parte da dieta midiática típica americana. É difícil analisar se isso faria ou não a diferença, disse McGinty.
No entanto, o estudo encontrou que havia pouca mudança no conteúdo e o tom das histórias que os pesquisadores de fato examinaram, o que sugere que a mídia como um todo não está melhor no geral quando se trata de cobertura de doenças mentais
Os resultados são uma espantosa lembrança que a sociedade tem um longo caminho a percorrer quando se trata de erradicar estereótipos negativos sobre a saúde mental.
Pessoas que sofrem com doenças mentais são 10 vezes mais propensas a serem vítimas de crimes violentos do que o resto da população — uma estatística que muitas pessoas, inclusive repórteres de notícias não têm familiaridade.
Entretanto, histórias violentas geram muita atenção do público. O que facilita que o número pequeno de casos onde existe envolvimento de um doente mental ganhe mais atenção, disse McGinty. Mas, obviamente, aquele comportamento é dificilmente representativo de uma em quatro pessoas afetadas por um distúrbio de saúde mental.
É por isso que a educação é tão crucial, diz McGinty. Pode ajudar a reduzir o estigma social anexado aos distúrbios de saúde mental e uma das muitas formas que fazemos isso é destacando o apoio bem-sucedido dado àqueles que sofrem com o distúrbio— mas apenas 14 por cento das histórias midiáticas analisadas no estudo de Johns Hopkins mencionaram tratamento eficaz para as doenças mentais.
“Por exemplo, quando há uma história que envolve doenças mentais e violência, que pode ser uma realidade infeliz, os repórteres deveriam também oferecer exemplos que mostram como é uma recuperação e tratamento bem-sucedido”, diz McGinty.
Afinal, a conversa em torno das doenças mentais deve ser transmitida de forma que as doenças mentais não sejam um sinônimo de comportamento destrutivo. Os meios de comunicação podem cumprir um papel importante fazendo com que isso aconteça.
“Esse diálogo que nós, como nação, temos — espelhada na cobertura midiática — que as doenças mentais são a causa de violência interpessoal não tem o apoio de evidências baseadas em pesquisa e acaba estigmatizando demais”, diz McGinty.
“Podemos associar isso com efeitos bem negativos, como com aqueles indivíduos que não procuram ajuda ao passar por discriminação. É algo com que nós realmente precisamos nos preocupar”.