No espetáculo Perto do fim, que estreia nesta terça-feira na Capital, o espectador é convidado a entrar não em um teatro, e sim em um apartamento que recria aquele em que a poeta americana Sylvia Plath (1932 – 1963) viveu seus últimos dias, em Londres. Em cena, a atriz Gisela Sparremberger passa a poucos centímetros dos convidados enquanto revive a última hora de vida da escritora.
A ideia de montar a peça em um espaço alternativo, recebendo pequenos grupos de pessoas – são apenas 12 por sessão –, nasceu por acaso, quando o diretor Bob Bahlis se deu conta de que um apartamento disponível para aluguel em frente à sua casa tinha similaridades com aquilo que havia visto em fotografias sobre a vida de Sylvia Plath. Os ensaios já estavam ocorrendo, mas em janeiro passaram a ser no novo local, alugado em sociedade pela equipe.
– O espaço se tornou meio que um personagem na história. A atriz fica muito próxima do público e em um estado emocional muito intenso, o que tornou a direção muito difícil, mas com um resultado que considero muito satisfatório – conta Bahlis.
As pesquisas para o trabalho começaram em 2013, quando o diretor e Gisela descobriram o mútuo interesse pela autora de A redoma de vidro. Bahlis foi desenvolvendo o texto em diálogo com a atriz, usando na maior parte do tempo escritos da própria Sylvia Plath. Além de Gisela, entra em cena também o ator Bruno Palharini, fazendo sua estreia no teatro profissional ao encarnar o poeta Ted Hughes, pai dos filhos de Sylvia. O drama repassa os últimos instantes de vida da autora, que vedou com panos o quarto dos filhos e cometeu suicídio deitando a cabeça no forno da cozinha e abrindo a válvula do gás.
– Não é uma peça leve, mas nos faz pensar no que realmente valorizamos na vida. Além disso, Porto Alegre tem altos índices de suicídio. É preciso encarar de frente esse problema para resolvê-lo – avalia Gisela.
Para Bahlis, tratar de um tema difícil como o suicídio foi um estímulo para criar Perto do fim:
– Era um assunto que eu gostaria de tratar, pois há um tabu muito grande que o cerca. Nos últimos anos, estudando o assunto, percebi que é preciso tratá-lo de modo diferente, sem escondê-lo.
Por conta da densidade do tema, a peça é voltada para maiores de 18 anos. Há também um clima de mistério envolvendo a montagem. O endereço do apartamento onde tudo acontece não é revelado.
Mas a discrição não tem como objetivo proporcionar uma experiência diferente ao espectador, e sim zelar pela segurança do espaço. Apesar de ser encenado fora de um teatro, o espetáculo se dá de modo tradicional, com o público sentado em confortáveis poltronas – apenas em determinado momento, durante 10 minutos, os convidados precisam assistir a uma cena em pé.
– Em momento algum há contato dos personagens com o público. Não gosto muito de estar em uma plateia e ficar com aquela sensação de “vão me pegar” – explica Bahlis. – O espectador assiste a tudo como um fantasma que visita o local. A trágica vida de Sylvia Plath foi levada ao cinema em 2003, com Gwyneth Paltrow no papel principal, no filme Sylvia – Paixão além das palavras.
PERTO DO FIM – SYLVIA PLATH
De terça a quinta-feira, às 21h. Até 8 de setembro.
Classificação: 18 anos.
Local não identificado. Encontro do público no Restaurante Beverly Hills II (Bento Martins, 353), a 50 metros do local da montagem, entre 20h30min e 20h45min.Ingressos a R$ 40.
À venda pelo e-mail [email protected]ções pelo telefone (51) 9607.2322.
Preste atenção: Para assistir às sessões, que vão de terça a quinta até 8 de setembro, é preciso entrar em contato pelo e-mail [email protected].