“Suicídio é uma palavra cercada por estigmas e até a própria imprensa – por entender erroneamente que silenciando sobre os casos desestimula novas tentativas – posiciona-se mal em relação ao assunto. Informação, neste contexto, é imprescindível. Porém, quando ocorre uma morte de grande repercussão na sociedade, consumada assim, o fantasma duplica de tamanho, passando a ser considerado ameaça concreta. O problema é que o número de ocorrências só cresce, em escala global. Deixaram de ser consideradas “administráveis” e passaram a ocupar lugar importante na pauta das autoridades de saúde. Há exatamente um ano, relatório da OMS dava sonoro alerta assinalando que, em 2015, esta havia se revelado a segunda maior causa de morte no planeta e entre jovens na faixa etária dos 15 aos 29 anos. Por que estariam tão inclinados a por fim à própria vida quando o mais lógico seria lutar por ela, enxergando no futuro possibilidade de vivê-la intensamente? Natural que a juventude se mostre o apogeu do otimismo. No entanto, há neste caminho uma palavra igualmente estigmatizada, que já afeta 4,4% da população total (quase 325 milhões de pessoas) e, no Brasil, 5,5% (11,5 milhões de habitantes), a maior prevalência entre os países da América Latina. Chama-se depressão.
Fazendo coro às vozes que se somam apontando a depressão como maior causa do suicídio, a psicóloga pernambucana Elizabeth Pimentel, dona de vasta e rica experiência com deprimidos, aponta, como fator de prevenção, um olhar mais cuidadoso sobre quem manifesta tais sintomas. “Não dá para negligenciar, pois a pessoa emite sinais claros de que precisa de ajuda e não recebê-la na medida e no tempo certos pode ser fatal”, afirma. De fato, embora não seja esta uma regra e embora haja tentativas mal sucedidas de colocar o tal ponto final em tudo. Existe, inclusive, quem já não seja levado a sério diante de algumas experiências frustradas, logo vistas apenas como tentativas de chamar a atenção. De qualquer forma, suicídios consumados ou não significam apenas que as vítimas não foram entendidas na busca desesperada (muitas vezes silenciosa) por socorro.
Se este olhar a que se refere a psicóloga Elizabeth Pimentel for realmente exercitado, a OMS acredita que nove entre dez ocorrências poderão ser evitadas, interrompendo uma tendência crescente de casos (32 por dia, 11 mil ao ano, no Brasil, segundo a Organização), cujo aumento, entre 2011 e 2015, foi de 12%. A propósito, a criação da campanha Setembro amarelo, em 2014, foi justamente uma tentativa do poder público de conscientizar o país sobre a gravidade da situação, facilmente identificada e entendida como um problema de saúde pública. Naturalmente, a expectativa de entidades a exemplo do Centro de Valorização da Vida (CVV) – que se utiliza de profissionais treinados para ouvir, via ligações telefônicas gratuitas, pessoas aflitas/deprimidas – seria ver o governo criar políticas públicas voltadas para garantir assistência psicológica e todo o suporte necessário à recuperação das vítimas. Estamos muito longe disto.
Admitindo que qualquer pessoa com desequilíbrio emocional importante é candidata em potencial a cometer suicídio e que por isso deve ser acompanhada de perto por uma equipe multidisciplinar, o governo estaria de fato se comprometendo a diminuir números tão dramáticos. Todavia, nada há que leve a crer na existência de um Brasil comprometido neste nível com a saúde dos habitantes. Nenhum sinal mais animador. No entanto (e como sempre) são a solidariedade, a generosidade e a compreensão de cada um que devem ser usadas como tábua de salvação por quem rema contra a corrente. Não pode haver humanidade maior do que se colocar ao lado daquele que se debate entre a depressão e o desejo de por fim a tudo.”
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure ajuda de alguém de sua confiança, de um profissional da saúde (psicólogo ou psiquiatra) ou ligue para o número do CVV: 141 ou 188.