Com mudanças na forma de tratar os registros de tentativas de suicídio, Pelotas, no sul do Estado, viu aumentar significativamente a quantidade de notificações de casos na cidade. Em 2016, foram registrados 19 casos de pessoas que tentaram colocar fim à própria vida; em 2017, até o final de outubro, o número aumentou 910%, chegando a 192 tentativas. Com um controle maior desses registros, o objetivo da prefeitura, através da Secretaria de Saúde, é entender melhor o problema a fim de encontrar soluções adequadas.
Desde julho, os serviços de saúde de Pelotas passaram a dedicar mais atenção às tentativas de suicídio, questionando se muitos dos casos de lesões que passavam para atendimento se deviam mesmo a acidentes. Na cidade, os casos são mais frequentes entre os jovens, mas também houve aumento considerável nos registros envolvendo adultos e idosos.
— Temos tentado fazer eventos de conscientização, promover palestras em escolas e prestar esclarecimentos à população, sempre colocando os serviços da Secretaria Municipal da Saúde à disposição — relata Gicelma Kaster, coordenadora de Saúde Mental em Pelotas.
Sabe-se, porém, que os números podem ser ainda maiores, já que muitos casos acabam não indo para atendimento e, assim, não são registrados. Gicelma explica que está sendo realizado um estudo aprofundado sobre as tentativas de suicídio na cidade, em parceria com a Vigilância Epidemiológica.
— Com certeza ainda hoje, como antes, há uma subnotificação. Muitas vezes o familiar chega e não diz, ou não sabe dizer, que aquele acidente foi uma tentativa de suicídio. Mas realmente os números estão aumentando, o que nos preocupa — afirma Maria Regina Reis Gomes, chefe do departamento de Vigilância Epidemiológica da prefeitura de Pelotas.
Coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Rafael Moreno Ferro Araújo informa que, em média, na estatística mundial, para cada suicídio registrado há entre 10 e 40 tentativas. Com cerca de 11,5 suicídios para cada 100 mil habitantes em 2016, Pelotas fica acima da taxa do Rio Grande do Sul (10) e próxima da taxa mundial (11). A cidade registrou 38 suicídios em 2016 e 36 até o final de novembro deste ano.
O psiquiatra explica que uma portaria publicada pelo Ministério da Saúde em 2014 tornou compulsória a notificação de tentativas de suicídio, mas que nem todas as secretarias de saúde e hospitais adotam a regra de maneira adequada.
No início do próximo ano, a prefeitura de Pelotas vai aderir à campanha Janeiro Branco, que planeja mobilizar a sociedade em favor da saúde mental.
ONDE BUSCAR AJUDA
> Centro de Valorização da Vida
> Oferece ajuda por telefone, chat, Skype, e-mail e presencialmente
> Telefones 141 e 188 (gratuito em 15 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, e no Distrito Federal)
> www.cvv.org.br
> facebook.com/cvvoficial/
SITES COM ORIENTAÇÃO
> Setembro Amarelo
> Movimento Conte Comigo
> Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio
> Cartilha Suicídio: Informando para prevenir
Produzida pela Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. Disponível no site do CVV, na aba Conheça Mais ou em zhora.co/cartilha-prevenir
COMO IDENTIFICAR UMA PESSOA COM DEPRESSÃO
Se alguém apresentar cinco dos sinais abaixo por duas semanas ou mais, pode estar precisando de ajuda:
> Tristeza profunda
> Choro fácil
> Sentimento de vazio interno
> Irritabilidade (principalmente em crianças e adolescentes)
> Pessimismo
> Sentimento de culpa
> Falta de interesse (por lazer, esporte, sexo etc)
> Falta de energia
> Problemas de memória e atenção
> Insônia ou fadiga
> Mudança de apetite e peso
> Irritação
> Dores de cabeça
> Pensamentos sobre morte
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO COMPORTAMENTO SUICIDA
> Doenças mentais
> Depressão
> Transtorno bipolar
> Transtornos mentais relacionados ao uso de álcool e outras substâncias
> Transtornos de personalidade
> Esquizofrenia
Aspectos psicológicos
> Perdas recentes
> Pouca resiliência
> Personalidade impulsiva, agressiva ou de humor instável
> Ter sofrido abuso físico ou sexual na infância
> Desesperança, desespero e desamparo
Condição de saúde limitante
> Doenças orgânicas incapacitantes
> Dor crônica
> Doenças neurológicas (epilepsia, Parkinson, Huntington)
> Trauma medular
> Tumores malignos
> Aids
Pontos de alerta
> Tentativa anterior de suicídio
> Ter familiares que tentaram ou se suicidaram
>Ter planos de suicídio
Fonte: Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, Associação Brasileira de Psiquiatria, Movimento Conte Comigo