“Tive amigos que cometeram suicídio por não ter com quem conversar ou pelos pais acharem que aquela tristeza não era nada. Já tive de ligar para a mãe de uma amiga e explicar a gravidade da situação antes que algo ruim ocorresse. Então, é claro que pensei em cometer suicídio também, mas a força que recebi da minha família sempre me impediu de cair nesse poço sem fundo”, relata a jovem de 17 anos, L.A*.
O caso da estudante do ensino médio é mais comum do que, infelizmente, podemos supor. Um relatório inédito sobre suicídio no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde, tem números que acendem o sinal de alerta: entre 2011 e 2016, foram registradas 62.804 mortes por suicídio.
A média nacional é de 5 suicídio para cada 100 mil habitantes. Mas um dado chama atenção – até pela falta de conhecimento sobre o assunto – é que na comparação entre raça e cor, o maior número de novos casos está ocorrendo entre a população indígena.
A taxa de mortalidade neste grupo é de 15 óbitos para cada 100 mil habitantes, número três vezes maior do que o registrado entre brancos e negros. E quando o foco está sob os jovens indígenas, esses números são mais expressivos, porque a faixa-etária de 10 aos 19 anos concentra 44% deste total.
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
Então para tentar combater essa realidade, a Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (SESAI) lançou a Agenda Estratégica de Prevenção ao Suicídio entre Povos Indígenas.
De acordo com o secretário da SESAI, Marco Antônio Toccolini, o objetivo é “fortalecer e ampliar a atuação das equipes de saúde nas aldeias, por meio de um conjunto de ações, uma política permanente de prevenção ao suicídio, em especial nos 16 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) apontados como prioritários por apresentarem maiores incidências”.
Estabelecer uma política permanente de prevenção ao suicídio nas populações indígenas é trabalho importante para identificar, avaliar e eliminar esses fatores de vulnerabilidade que possam provocar o suicídio entre indígenas. A expectativa de resultados para essa estratégia é uma redução gradativa no número de suicídios e de tentativas de suicídio nas comunidades.
A psicóloga Maria Cristina de Lima trabalha em uma das equipes de saúde que atuam diretamente nas aldeias, no interior da Amazônia, e afirma que a população indígena sofre com casos graves que levam ao suicídio.
“Nas aldeias existem as mesmas problemáticas das grandes cidades. A gente tem problemas com a questão do uso de álcool, drogas, problema de depressão, problemas de violência e a questão do suicídio. Existem muitas tentativas de suicídio. E uma das formas que temos para combater essa questão é o trabalho psicológico com os indígenas”, avaliou Cristina.
As estratégias da Agenda também preveem parcerias entre ministérios, para ampliar a forma de trabalhar uma melhor qualidade de vida como, por exemplo, através dos Ministérios da Cultura e do Esporte, para a realização de ações lúdicas e esportivas nas aldeias indígenas.
AVANÇOS
A primeira estratégia desse tipo adotada pelo Ministério da Saúde em relação à população indígena foi a implantação da vigilância epidemiológica nos DSEI, a partir de 2007. Nessa iniciativa foi realizada a coleta, organização e análise de dados que vão colaborar na compreensão do problema e na busca por estratégias de prevenção e intervenção.
Entre 2015 e 2016, a SESAI lançou o ‘Material Orientador para Prevenção do Suicídio em Povos Indígenas’, direcionado para profissionais de saúde que atuam nas aldeias. Na época também foram implantadas as ‘Linhas de Cuidado Locais para Prevenção do Suicídio na Atenção Básica à Saúde Indígena’, que realizou a capacitação de 240 profissionais que atuam na assistência de comunidades indígenas.
DSEI PRIORITÁRIOS: Araguaia, Mato Grosso do Sul, Vale do Javari, Alto Rio Solimões, Médio Rio Purus, Médio Rio Solimões e Afluentes, Tocantins, Alto Rio Purus, Yanomami, Litoral Sul, Leste de Roraima, Alto Rio Juruá, Maranhão, Alto Rio Negro, Minas Gerais e Espírito Santo.
*L.A. são iniciais as iniciais da jovem, que por ser menor de idade, preferiu não se expor.
Janary Damacena para o Blog da Saúde