Desde que nosso site está no ar, há um ano, temos falado com muitas pessoas, ouvido centenas de histórias de luto e recebido milhares de mensagens lindas e comoventes (que tentamos responder, com a brevidade possível, uma a uma). Nosso aprendizado até aqui é o de que estamos no caminho certo. Abrir este canal e permitir que mais gente converse, se expresse livremente e abra seu coração sobre a dor de perder alguém querido, comprovou-se uma forma simples e bem-vinda de promover empatia e conforto. Ao longo deste trabalho, constatamos o que os estudiosos e terapeutas do assunto já nos haviam alertado: todo luto é singular, pessoal e intransferível. A dor, no entanto, é comum à maioria dos enlutados. Se queremos ajudar podemos, sim, evitar que ela seja amplificada pela prática, muitas vezes inconsciente, de gestos e atitudes “convencionais” em direção ao enlutado. A intenção pode ser boa, o resultado é muito ruim. Já sugerimos por aqui o que deveria ou não ser dito a quem perdeu uma pessoa amada. À essa lista, acrescentamos esta relação de ações que NÃO AJUDAM, colhida através dos depoimentos recebidos aqui.
1- Reprimir as lágrimas alheias. É difícil ver alguém de quem gostamos muito se debulhar em lágrimas. Mas o choro que nos incomoda pode fazer muito bem a quem está chorando. Quanto quiser, por quanto tempo quiser. Se for no seu ombro, melhor.
2- Impor um limite de tempo ao sofrimento pelo luto. Ninguém pode delimitar por quanto tempo aquela dor vai doer no outro. Mesmo que a gente queira que passe logo e que aquela pessoa em sofrimento volte a ser o que era antes, não adianta marcar uma data no calendário. Se o luto prolongado for do tipo complicado (o termo luto patológico foi substituído por esse porque, de fato, luto não é doença, mas pode ser gatilho para uma depressão) deve-se indicar ajuda terapêutica. Enquanto for tristeza, falta de vontade de voltar a freqüentar festas, se divertir e retomar a vida antes do luto, o melhor a fazer é companhia, conversar e deixar que a pessoa decida quando está pronta para voltar. Em tempo: não há um tempo certo para estar pronto para voltar.
3- Fazer qualquer comparação (para melhor ou pior) da reação da pessoa ao luto com o luto de outra. Mesmo que duas pessoas tenham perdido o mesmo parente, filho, amigo, marido, mulher, é cruel dizer que ela está se comportando de forma mais ou menos “adequada”do que a outra. Mesmo quando a intenção é parabenizar a “força”de uma em detrimento da “fraqueza”de outra diante da morte de um ente querido, o efeito é o de banalizar o sofrimento de ambas. O aparentemente “forte”pode estar em frangalhos por dentro. E vai se obrigar a manter essa aparência para não perder a admiração de pessoas como você.
4- Tentar confortar o enlutado dizendo que a pessoa que partiu estava, afinal, sofrendo muito. Nesse caso, o efeito é fazer com que, além de muito triste pela perda, o enlutado se sinta culpado pelo “egoísmo”de estar pensando mais em si do que naquela pessoa amada que partiu.
5- Impor uma “hierarquia do luto”. Perder um filho é uma dor sem fim, mas não serve de parâmetro para quem está dilacerado pela morte do pai, da mãe, ou dos avós velhinhos. Comparar dores para minimizar a de quem está sofrendo é uma atitude inútil e muitas vezes cruel.
6- Esperar que a pessoa decida do que precisa neste momento difícil. Ela está tão desorientada que dificilmente vai saber dizer do que está realmente precisando. Mas saiba, ela precisa de conforto e solidariedade: comida caseira, carona pra casa, dividir um chá ou uma taça de vinho. Bolo, sopa e brigadeiro nunca são demais. Melhor oferecer algo concreto e positivo do que dizer a frase protocolar: conte comigo para o que precisar.
7- Evitar falar sobre a morte ou sobre a pessoa que faleceu. O assunto pode ser difícil para quem está de fora, mas falar, contar histórias, mostrar fotos e reviver a memória do ser amado é, para a maioria das pessoas, uma forma de trazê-lo para perto e preservar a vida de quem partiu.
8- Obrigar a pessoa enlutada a falar sobre quem perdeu se não estiver disposto. Da mesma forma que deixar que se expresse faz bem ao coração, impor a prática a quem não está a fim não ajuda em nada.
9- Excluir o enlutado de convites para situações sociais festivas. A vida continua e quem deve decidir se quer ou não participar de festas e reuniões é a pessoa que está de luto. Tomar essa decisão por ela reforçará sua sensação de ter se tornado um incômodo social.
10- Pretender saber o que o enlutado está sentindo. Ninguém sabe. Todo luto é singular, lembra? Mesmo que tenhamos perdido o mesmo parente, a empatia consiste em admitir a dor do outro, e não achar que porque vivemos a mesma situação, sabemos o que é e como o outro deveria reagir.
11- Julgar. Ninguém pode dizer o que está certo e o que está errado no comportamento de alguém que está sofrendo. Impor um julgamento moral ou social sobre quando se deve chorar ou não, quando e como voltar a sair e se divertir, retomar a vida de antes, apenas torna mais difícil o percurso. Não há uma etiqueta ou um código de boa conduta para o luto. Não julgue.