Desde 2014 ocorre em todo o mundo a campanha Setembro Amarelo, que tem como objetivo a conscientização da população acerca do suicídio. A campanha consiste na identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela com intuito de mobilizar a atenção para informações epidemiológicas e clínicas sobre o suicídio. Assim, espera-se alertar sobre a importância de falarmos sobre o assunto e ajudarmos aqueles que precisam, evitando a prática do autoextermínio.
De acordo com dados de 2014 da Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. No Brasil, 32 pessoas se autoexterminam por dia, o que nos rende a 8ª colocação entre os países com as maiores taxas de suicídio. Há que se dizer, contudo, que dos 194 países da OMS, apenas 68 coletam dados sobre o assunto e somente 28 possuem políticas de prevenção.
O suicídio mata mais que o câncer e que a Aids no Brasil. Segundo a OMS, até 9 de cada 10 casos poderiam ser evitados por meio de estratégias de prevenção. Estima-se que para cada caso concretizado há pelo menos 20 tentativas fracassadas. São dados alarmantes e que alocam a questão como um problema de saúde pública. Ao mesmo tempo em que a implementação de políticas pode ser compreendida como ocasião de redução desses índices, a ausência das mesmas pode implicar num crescente galopante.
Assunto oportuno para o momento em que o país atravessa, no qual as taxas de desemprego não param de subir e a crise financeira, como sabemos, é caminho aberto para a crise psíquica. A incerteza diante da vida, da capacidade de gerir o próprio sustento e o da família, sem dúvida pode ser um disparador para ideações suicidas.
A pergunta “por que, afinal, alguém comete suicídio?” não pode ser respondida, pois haveria tantas respostas quanto tentativas e ideações de autoextermínio. A morte autoinfligida é um ato, assim como o é todos os outros, e os sentidos que rodeiam esse ato são múltiplos, complexos e singulares. O fato de não termos uma resposta única para essa pergunta, porém, não significa que não há nada que possamos fazer, ou que não seja possível prevenir a prática e evitar que alguém chegue ao ponto de provocar a própria morte. Há sim o que fazer!
A primeira coisa que todos devemos saber é que, para chegar ao momento de concretização de extinção da própria vida, todos passaram, necessariamente, por um processo que pode ter sido mais ou menos silencioso, mais ou menos alarmante. A experiência clínica aponta para o fato de que geralmente há uma gradação para que o suicídio se concretize. Tudo começa com as ideações suicidas, quando a pessoa se imagina morrendo ou mesmo se matando. Esses pensamentos são involuntários. A pessoa simplesmente se pega pensando, e não que pense deliberadamente. Não é controlável. Posteriormente ocorrem os planejamentos. Este é o momento em que as ideações difusas começam a ganhar corpo e são imbuídas de procedimentos. A pessoa planeja: quando eu estiver sozinho em casa, quando o sol se pôr, vou me trancar no banheiro, vou me jogar da ponte tal, e assim por diante. A partir de então vêm as tentativas e/ou ameaças de suicídio muitas das vezes fracassadas. E por fim a concretização do autoextermínio. Acreditamos que um olhar atento possa identificar tal sofrimento e o grau de perigo que uma pessoa corre em qualquer fase do processo.
A verbalização dos sentimentos ocorre na maioria dos casos. As pessoas dizem que vão se matar, muitas vezes num tom de ameaça ou mesmo de “chamar a atenção”. O problema é que criou-se a cultura de que quando uma pessoa está supostamente chamando a atenção deve-se ignorá-la. Quando alguém diz que vai se matar ou mesmo que está pensando nisso é de extrema importância acreditar que sim, há verdade naquilo. Pode apenas ser uma ideação suicida, mas a ideação não cuidada, o sofrimento negligenciado, pode sim evoluir para a tentativa e a concretização do ato.
Portanto, devemos aprender a valorizar o sofrimento psíquico e prestar muita atenção quando alguém nos diz frases como essas: “não aguento mais, estou pensando em desistir de tudo”, “não aguento mais a minha vida”, “acho que a única alternativa seria morrer”, “eu pensei até em cometer uma loucura”, “peço todos os dias para Deus me levar”, “eu tenho vontade de morrer”, “nada mais faz sentido, não quero mais viver”, e aquela que não deixa dúvida: “eu vou me matar!”.
Quando alguém próximo disser algo do tipo, e sobretudo diante de uma tentativa de suicídio, nunca devemos ignorar ou simplesmente achar que a pessoa não tem coragem ou está mentindo. A coragem um dia chega e a “mentira” pode estar mais próxima do que imaginamos da realidade em que aquela pessoa vive. O mais indicado é ouvir a pessoa e buscar entender o que a faz sofrer. O sofrimento do outro pode parecer bobo para quem ouve, mas não é para quem sente. Essa aproximação e essa valorização do sofrimento será fundamental para que se possa procurar por ajuda especializada. Um profissional de psicologia deve ser procurado o mais breve possível. Assim, de modo aparentemente simples, salvamos vidas!
Procure um psicólogo de confiança. Afinal, o que na vida cada um de nós tem de mais valioso senão a própria vida e a vida daqueles que amamos? A vida vale ouro e por isso é a cor amarela que representa a campanha.