Pesquisa da USP revela que a ocorrência é mais comum entre solteiros, migrantes e pertencentes a estratos econômicos extremos – nesse caso moradores de distritos de maior renda. O suicídio é considerado problema de saúde pública.
São Paulo – Alto de Pinheiros, Morumbi, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Pinheiros, Perdizes, Vila Mariana, Consolação, Bela Vista, Barra Funda, Bom Retiro, Cambuci, Liberdade, Brás, República, Santa Cecília e Sé. É nesses bairros localizados nas regiões central, centro-sul e centro-oeste da capital paulista, que concentram a população de maior renda, que estão as maiores taxas de suicídio da cidade: 6,3 ocorrências para 100 mil habitantes. O dado é do pesquisador Daniel Hideki Bando, que estudou o tema para seu mestrado em geografia pela Universidade de São Paulo.
Já nos distritos de Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Santo Amaro, Socorro, Pedreira, Raposo Tavares, Vila Andrade e Vila Sônia, na zona sul, é de 3,3 casos para 100 mil habitantes.
Esta é a primeira vez que as taxas de suicídio foram mapeadas na cidade e, segundo o autor, não há estudos recentes sobre os fatores de risco. “O objetivo da minha pesquisa foi identificar as áreas de risco, por distrito administrativo, e estimar os principais fatores associados para embasar políticas públicas principalmente de prevenção”, explica Bando. Embora ele não tenha pesquisado os meios, sabe que o enforcamento é o mais comum.
O estudo, feito a partir de dados da Prefeitura de São Paulo e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados no período de 1995 a 2006, levou em consideração também um trabalho do sociólogo Émile Durkheim (1858-1917). Os fatores de risco ao suicídio encontrados na capital paulista são semelhantes aos achados pelo francês no final do século 19.
Do estudo de Durkheim, Bando aproveitou sua teoria sobre integração social para explicar os fatores de risco encontrados: “Uma das idéias da teoria diz que o suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais dos quais a pessoa faz parte”, explica o pesquisador da USP.
Segundo ele, alguns fatores encontrados se encaixam nessa explicação, como a situação da pessoa solteira, que está mais suscetível por não estar integrada a uma família, por exemplo.
A pesquisa também associou altas taxas às migrações e à religião, no caso o catolicismo. Contudo, a identificação dos católicos diverge de um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta o protestantismo como fator de risco ao suicídio. “A explicação se adapta à peculiaridade de São Paulo. No nosso caso, se observa que os evangélicos estão mais unidos entre eles”, ressalva Bando.
Sua orientadora, a professora Ligia Vizeu Barrozo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, completa que esse aspecto dos protestantes funciona como uma “ajuda social” contra o suicídio. “Já os católicos são mais dispersos, o que os coloca, de acordo com a tese de Durkheim, numa categoria de risco”, explica.
O suicídio é considerado problema de saúde pública. Segundo a OMS, cerca de 900 mil pessoas se suicidaram em todo o mundo, em 2003. É mais comum entre os 15 e 35 anos e está entre as três maiores causas de morte. A tentativa de tirar a própria vida, entre os 15 e 44 anos é o sexto motivo que leva à incapacitação.