Vamos começar com uma estatística dura e fria.
Quando pensamos nos homens na meia-idade, podemos vê-los como independentes e capazes de cuidar de si mesmos, mas não é essa a realidade. O suicídio é hoje a principal causa de morte em homens com menos de 50 anos na Grã-Bretanha. Pense nisso por um tempo. Não é o câncer ou doença cardíaca ou um acidente de carro a causa mais provável de morte de jovens, ou mesmo de homens de meia-idade, mas o suicídio.
O Escritório Nacional de Estatísticas também nos diz que, enquanto em 1981, 63% dos suicídios eram do sexo masculino, agora esse valor pulou para 78%.
Pense também nisso por um tempo. Há algo acontecendo em ser um homem em 2016 que está levando muito mais homens a tirar sua própria vida. Isso fica mais surpreendente quando você tem em mente que muito mais mulheres que homens são diagnosticadas com depressão.
Como o suicídio geralmente é um sintoma de depressão, isso sugere que os homens não estão procurando ou recebendo a ajuda de que precisam. Como as taxas de suicídio são muito elásticas, variando maciçamente entre as épocas e os países, deveria ser uma urgente e grande preocupação o fato de que tantos homens estejam morrendo sem parar todos os anos. Os homens deveriam, no mínimo, ser encorajados a falar sobre seus problemas.
Mas estamos fazendo isso? Eu realmente não penso que estamos. Pense em como a sociedade impõe como um homem adulto deve se comportar! Pense na frase sempre repetida ‘você é forte’, usado em qualquer situação quando um homem reclama por sentir-se mal ou preocupado ou com problemas. As sugestões por trás dessa frase são terríveis quando você para e olha. Ele coloca a ideia de masculinidade em algum patamar muito alto, implicando que por ser um homem é necessário ser sempre forte, estóico, capaz de sempre se dar bem e resolver todas as situações.
Conversar sobre um transtorno mental que se tenha é quase impossível, dado o estigma que ainda envolve essas doenças. Ainda há a ideia burra de que a depressão é uma ‘fraqueza’, uma ‘frescura’, ‘falta de vontade’, ‘falta de caráter’, e todas essas bobagens. E para os homens, é duplamente difícil porque não são realmente encorajados, principalmente por outros homens, para falar sobre estar doente.
Estamos no século 21, com todo avanço médico e de pesquisas na área da saúde e ainda temos pessoas por aí que duvidam que a depressão seja mesmo uma doença e que está entre os problemas mais graves de saúde pública no mundo. E também temos a ideia tosca de que o machismo é uma coisa completamente boa para os homens. Não é!
Precisamos compreender de uma vez por todas que o machismo é errado, não só porque limita as mulheres economicamente e socialmente, mas também porque limita os homens emocionalmente. O machismo nos impede de falar sobre nossos problemas, e mata pessoas.
Quando fiquei doente com depressão há 15 anos, meu círculo social diminuiu muito rapidamente. Havia muito poucas pessoas – certamente e não amigos do sexo masculino – com as quais eu senti que podia falar abertamente. Eu tive a sorte de poder conversar sobre o que estava me acontecendo com minha namorada e meus pais, e essa foi uma razão pela qual eu não tirei minha vida como eu queria desesperadamente fazer. Algumas pessoas nem têm isso.
Limitar as possibilidades de expressão emocional por machismo pode levar muitos homens a não reconhecerem que o que eles têm é uma doença. E que a visão de mundo desesperadoramente negativa que passa a ser dominante quando descem ao fundo do vale não é um reflexo da realidade, mas sim de uma doença. Por isso, muitas vezes, os homens encontram outras maneiras de enfrentar, de forma não saudáveis, os seus problemas, lançando mão do uso abusivo do álcool e de outras drogas. (De acordo com o ONS, por exemplo, 67% dos britânicos consumem álcool em níveis “perigosos” e 80% dos dependentes dele são homens).
Muitos copos de cerveja ou uma garrafa de uísque não irão substituir sua desesperança de que as coisas possam ser mudadas, mesmo que você beba até destruir o seu fígado!
Precisamos mudar a forma como pensamos não apenas a respeito das doenças mentais, mas também quanto ao que significa ser um homem, porque na verdade estamos nos impedindo de obter a ajuda de que precisamos.
E a coisa fica ainda mais horrível porque, realmente, a depressão – com os graves pensamentos suicidas dela decorrentes – é uma doença em que falar, falar e falar, sobre o que está acontecendo realmente ajuda a aliviar os sintomas. A depressão é uma doença dos pensamentos tortos e sombrios e se nós envenenamos o ar com ideias de que os homens, por serem homens, deveriam se calar sobre suas doenças, especialmente as invisíveis, então eles acabarão não só em silêncio, mas também se culpando e punindo-se por ficarem doentes, quando, por serem homens, de forma nenhuma poderiam ficar.
Então, vamos tirar os homens da caixa emocional estreita em que se encontram. Vamos falar abertamente sobre o que sentimos, especialmente quando o que sentimos pode nos matar.
Vamos falar!
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141