Em um tempo em que nos acostumamos e nos limitamos à comunicação digital, a proposta do projeto The Dinner Party é resgatar o olho no olho e as conversas reais, entre pessoas reais, sobre dramas reais. Sua missão é transformar a experiência solitária da vida depois da perda através de apoio mútuo, com encontros solidários e conversas sinceras que as ajude a seguir adiante. O foco do grupo são pessoas mais jovens, mas eles não excluem ninguém pelo critério de idade e promovem jantares em mais de 50 cidades nos Estados Unidos e Canadá, além de alguns países da Europa (os participantes se inscrevem e são reunidos pelo site).
Apesar da distância geográfica da iniciativa, quis falar sobre ela aqui por se tratar de uma linda ideia, algo simples de ser replicado e servir de inspiração para quem se dispuser a criar algo semelhante. Como seus organizadores definem, não se trata de grupos de luto ou sessões de terapias conduzidos por profissionais ou mediadores capacitados. Não há entre eles, como também sempre reiteramos aqui no nosso site, a pretensão de curar, tirar a dor ou ditar regras a ninguém, apenas de promover aproximação e a oportunidade de “falar o que realmente se sente entre pares”. Seus anfitriões não promovem os encontros como uma alternativa a qualquer prática terapêutica, mas como complemento afetuoso ao que possa trazer conforto a quem sofre.
Para os encontros, previamente agendados, os convidados levam seus pratos e se dispõem a ajudar na arrumação do jantar, antes e depois. Não há regras nem roteiro, apenas a conversa fluida e natural sobre o que tiverem vontade de falar. Como nunca falta assunto e o bate-papo costuma se prolongar, alguém fica de olho no relógio para garantir que os convidados saibam a hora de ir embora, auxiliem na arrumação e não deixem os pratos e a bagunça para trás.
A experiência dos grupos rende, além do acolhimento mútuo, a troca de conhecimento que pode ser divulgado e, assim, ajudar outras pessoas. O site Option B, uma plataforma destinada a promover a resiliência para quem vive o luto ou outras adversidades – iniciativa da executiva do Facebook, Sheryl Sandberg, depois da trágica perda do marido – pediu aos fundadores do The Dinner Party para perguntarem aos seus freqüentadores quais eram as melhores e as piores coisas que podem ser ditas para alguém em um processo de luto.
Reproduzimos aqui os conselhos e dicas apurados por eles:
1- Não espere que alguém diga como você pode ajudar
As frases “Me diga o que eu posso fazer por você” ou “Não hesite em me pedir qualquer coisa que você precise” são muito bem intencionadas mas pouco efetivas. Poucas pessoas, na hora de um profundo sofrimento, se sentem animadas para pedir algo ou sabem expressar o que precisam. Ao invés de oferecer “qualquer coisa”, faça “alguma coisa”. Seja específica: compras no supermercado, brincar com as crianças, fazer uma sopa ou um bolo, organizar rodízios de amigos para fazerem companhia, etc.
2-Lembre que o luto é um processo – e é diferente para cada um
Todos queremos fazer algo para tirar alguém do sofrimento, apontar uma luzinha na sua escuridão ou consertar o que não tem conserto. Mas afirmações como “tudo acontece por uma razão” não apenas não resolvem, como aprofundam o sentimento de isolamento depois de uma perda. Reconheça a dor de seu amigo e esteja o mais presente possível durante seu luto. Ao invés de fugir do desconforto, sente-se ao seu lado. Você não tem que preencher cada minuto de silêncio, mas não se intimide em fazer perguntas, mesmo que tenha medo das respostas. Apenas assegure sua presença ali para ouvir. Evite projetar suas próprias experiências no outro. A maior parte das generalizações sobre o luto fracassam por não considerar as diferentes culturas, formações, religiões. Deixe que seu amigo seja seu próprio especialista em como seguir adiante.
3-Não tenha medo de falar sobre as pessoas que seus amigos perderam
É importante dar espaço para lembrar das pessoas queridas que partiram. Muitas pessoas querem evitar mencionar seus nomes ou fazer com que o amigo relembre esse capítulo trágico da sua vida. No entanto, ninguém esquece seus próprios capítulos. E ver que outras pessoas lembram é reconfortante. Faça perguntas sobre eles: “fale-me sobre sua mãe”, “gostaria de ter conhecido seu filho: qual sua história favorita sobre ele”. Não tente forçar estas conversas, respeite o interlocutor mas lembre-se que nem todas as memórias são tristes e nem todas as conversas sobre elas devem ser também.
4- Esteja presente imediatamente. E também muito tempo depois
Perder alguém que amamos é perder o mundo tal como o conhecíamos. De repente tudo fica diferente. Nós olhamos ao redor para nos certificar de que não perdemos tudo o que tínhamos até então. Estar presente nesse momento é fundamental para o seu amigo. Ofereça-se para agradá-lo, mimá-lo e levá-lo para um passeio ou qualquer programa que vocês costumavam fazer antes. Pode ser que queiram ou não conversar. Algumas pessoas preferem se manter ocupadas, outras não: não tente demovê-las do que desejam. Siga, sobretudo, as “pistas” sobre o que gostariam de fazer. Mantenha-se presente depois dos primeiros tempos do luto. O luto intenso inicial é apenas parte da história. A forma com que as pessoas se relacionam com ele pode mudar mas não existe algo como superação. Anos depois as pessoas podem não mais ser identificadas como enlutadas mas continuam afetadas pela experiência de ter perdido alguém amado. Seus amigos vão precisar de suporte constante enquanto navegam por sua perda. Certifique-se de oferecer apoio e pequenos atos generosos para lembrá-los de que continua pensando neles.