Através das redes sociais, estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) demostram preocupação com os casos de suicídio na universidade. Apenas nas últimas duas semanas, foram duas mortes e uma tentativa de suicídio de alunos da instituição.
Dois dos casos foram de alunos que residiam na moradia estudantil da universidade. Um desses alunos sofria de problemas psicológicos e chegou a receber tratamento e medicamentos contra depressão. Segundo relatos de amigos, ele havia parado de tomar os remédios. “Ninguém sabia a dimensão do que se passava com ele. Era uma pessoa muito reservada”, disse um dos amigos, que não quis se identificar.
O aluno em questão havia se envolvido em um caso polêmico no início deste ano. O rapaz teria sido pego se masturbando na porta de um banheiro feminino da Faculdade de Farmácia. As alunas do curso chegaram a fazer um boletim de ocorrência.
A UFMG acompanhou o caso na época e o ajudou com auxílio psicológico. Em conversa com pessoas mais próximas ao jovem, foi revelado que o estudante havia perdido a mãe há dois anos e que não era próximo do pai.
Em um relato no Facebook, uma estudante que já viveu na moradia, desabafa. “Já vivi nessa tal moradia universitária e a minha vida se tornou um inferno. É um lugar onde você acha que tem inclusão e é completamente ao contrário. Não generalizo, porque existem pessoas boas, mas tive o desprazer de conhecer seres preconceituosos, egocêntricos, que julgam e excluem o próximo sem dó, que saem falando da vida alheia sem o menor respeito. Um dos resultados é esse aí… (ainda bem que não preciso de passar mais por isso!)”, conta a estudante Danielle Carvalho no relato.
“Não conheço o rapaz, nem a história dele, mas casos assim devem servir para inspirar a todos a cuidarem mais dos amigos e colegas, escutarem mais, ouvirem mais. Não é o momento de propagar o ódio ou de culpar os outros. Respeitem o luto da família”, diz outra estudante, também em relato no Facebook.
Os relatos acima são de uma postagem anônima feita em uma página do Facebook que repercutiu bastante entre os alunos da universidade. Muitos se manifestaram e comentaram a respeito do assunto.
Outro caso de suicídio foi de um estudante que também residia na moradia estudantil, mas cometeu suicídio em sua cidade natal. Ainda houve uma tentativa de suicídio por parte de uma estudante da Faculdade de Medicina da UFMG. Porém, a graduanda conseguiu ajuda de amigas após desistir do ato e foi levada a um hospital para tratamento. Segundo relatos de alunos da faculdade, não seria a primeira tentativa de suicídio na Faculdade de Medicina. “Foram pelo menos seis ou sete tentativas. Todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. É preciso programas de conscientização e um acompanhamento realmente de perto”, conta um aluno da Faculdade Medicina da UFMG que também não quis revelar sua identidade.
UFMG se posiciona
Em nota enviada ao Bhaz sobre o caso mais recente, a UFMG disse que “o estudante vinha sendo acompanhado por uma assistente social e uma psicóloga da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), executora da política de assistência estudantil da Universidade. De acordo com a UFMG, o estudante apresentava quadro de sofrimento mental e estava em tratamento em uma das unidades do Centro de Referência de Saúde Mental (Cersam). O jovem ingressou na UFMG em 2012 e desde então residia na Moradia Universitária. Seu corpo foi encontrado já sem vida pelos colegas por volta das 10h da última quarta-feira (17). Funcionários da Fump se encarregaram de comunicar e amparar os familiares e de tomar as providências necessárias junto às autoridades competentes”, diz trecho da nota.
Em outra parte da nota, a universidade diz que há mais de um ano a UFMG constrói uma política institucional de saúde mental “da e para a UFMG” como resultado da atuação da Rede de Saúde Mental, que é ligada à pró-reitoria de Extensão. Na avaliação da vice-reitora, Sandra Almeida, a existência da Rede é muito importante para pensar institucionalmente os caminhos possíveis a serem trilhados”. Na nota, a universidade informou, ainda, que possui vários programas de apoio aos estudantes:
Assistência psicológica
Em Belo Horizonte e em Montes Claros, a Fump oferece a todos os estudantes de graduação, classificados nos níveis I, II e III, acesso à psicoterapia breve individual e em grupo, na sede da Instituição e na Gerência de Montes Claros. Os atendimentos têm foco na psicoterapia de curta duração. Se for necessário ampliar esse tratamento, o estudante será encaminhado à rede pública de saúde ou para clínicas sociais.
Assistência médica
No Programa Saúde do Estudante (PSE) em Belo horizonte, o estudante assistido terá sua primeira consulta médica focada na escuta ativa para criação de um plano terapêutico individualizado. Após o acolhimento inicial o estudante é acompanhando pelo médico da Fump e, se necessário, pelo psicólogo, de acordo com sua necessidade. O estudante poderá também ser encaminhado para atendimento de um especialista na rede do SUS.
Assistência psicológica e médica na Moradia Universitária de BH
Nas dependências da Moradia Universitária em BH os residentes têm acesso ao atendimento psicológico uma vez por semana. O atendimento médico também é realizado uma vez por semana. Já o atendimento com os assistentes sociais acontece de segunda a sexta-feira. O objetivo desses atendimentos é que o morador tenha mais comodidade, não precisando se deslocar para a sede da Fump, pois os serviços prestados na moradia são os mesmo que os da sede.
Ajuda
O Centro de Valorização da Vida (CVV) também ajuda com suporte a pessoas que precisem. Você pode entrar em contato pelo número 141 ou pelo site da CVV, o atendimento é feito via chat, email, Skype, 24 horas por dia. Tudo feito sob sigilo.