A Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp) registrou, até abril deste ano, 60 casos de suicídio no Estado, o que dá uma média de 15 por mês.
O dado revela um aumento superior a 50% na média mensal, se comparado com os números do ano passado. Nos doze meses de 2015, houve 109 casos no Estado, o que dá uma média inferior a dez por mês.
Num intervalo de dez dias, a Polícia Civil registrou quatro suicídios na região metropolitana de Cuiabá, durante os últimos dias.
De acordo com estudos, o principal meio de se tirar a própria vida continua sendo o enforcamento. O índice é de que três homens para cada duas mulheres cometam suicídio. A taxa de mulheres adultas e jovens, porém, tem aumentado.
Tabu
O tema ainda é tratado como um tabu entre as pessoas e até mesmo profissionais da área médica. Tudo porque muitos psiquiatras acham que perguntar à pessoa se ela pensa em se matar já pode induzi-la a cometer o ato.
A psiquiatra Andréa Fetter Torraca, de 42 anos, que lida com pacientes com depressão (principal causa de suicídio) todos os dias, discorda e incentiva as pessoas a não tratar a doença como “frescura” ou uma atitude covarde.
Em entrevista ao MidiaNews, a médica chama atenção para os profissionais falarem mais sobre o assunto.
“O suicídio sempre existiu, mas ultimamente tem tido um aumento bem evidente, nas mais diferentes culturas. E, em cada cultura, o ato é encarado de uma forma diferente. A cada 100 pacientes no Brasil, 17 tiveram pensamentos suicidas, cinco têm planos de se suicidar, três tentam e somente um é atendido no pronto-socorro”, disse.
“Na maioria das vezes o paciente procura ajuda e os próprios profissionais acham que estão manipulando, ou que é frescura, e que se trata apenas de uma atitude covarde. O desejo de suicídio não é frescura. Se não soubermos o que a pessoa está pensando, não teremos como ajudar. Os profissionais, principalmente nos pronto-socorros, têm dificuldade em perguntar se a pessoa tem pensamentos suicidas. Isso deve ser investigado e ser tratado para que não aconteça o pior. Só assim conseguiremos diminuir o número de casos. É um problema de saúde pública”, disse.
Depressão
A pessoa que pensa em atentar contra a própria vida quer acabar com algum tipo de sofrimento. Na grande maioria das vezes, o suicídio é ocasionado pela depressão.
A depressão é uma doença provocada por alterações de neurotransmissores em algumas áreas do cérebro, levando a pessoa a ter certos sintomas, como: alterações no sono, perda de apetite, perda no prazer em realizar atividades do dia-a-dia. A pessoa simplesmente não tem disposição para fazer nada. A parte cognitiva de pensamento também se altera, o indivíduo não consegue se concentrar ou tomar decisões próprias. E em casos mais graves cometer um ato suicida.
Segundo Fetter, até 10% da população geral vai ter depressão em algum episódio da vida. Ela pode ser desencadeada por vários fatores sociais, psicológicos e genéticos.
“Nem todo suicídio é só desencadeado por depressão. Existem estudos mostrando que 92% a 100% dos comportamentos suicidas estão relacionados a transtornos mentais. Os mais comuns são os transtornos de humor: bipolaridade, o abuso de substâncias e a esquizofrenia. Em alguns casos que não psiquiátricos, existem também as doenças incapacitantes, desfigurantes, perenes da vida. As dores crônicas também podem contribuir para um comportamento suicida”, explicou.
Sinais de alerta
Os familiares e amigos do círculo de uma pessoa que suspeitam que podem estar com depressão devem ficar atentos a alguns sinais de alerta, como o abandono das atividades, instabilidade emocional, agitação ou irritabilidade, consumo de álcool, drogas e a mudança drástica no comportamento.
Alem desses sinais de alerta, a médica afirma que existem sempre três perguntas necessárias: Você tem planos para o futuro? A vida vale a pena ser vivida? Se a morte viesse agora, ela seria bem vinda?
“A Associação Brasileira de Psiquiatria elaborou uma cartilha para combater o suicídio junto com o Conselho Federal de Medicina. Os pronto-socorros em geral têm que estarem habilitados e treinados para isso, juntamente com as assistências psiquiátricas”, disse.
A psiquiatra afirma ainda que, na maioria das vezes, o que acontece que é a nossa realidade com relação a suicídio é diferente, uma vez que existem poucos profissionais na rede pública para atender doença comum, o que dirá para orientar pacientes que tendem a se suicidar.
“Diante da nossa realidade, a família fica com o papel importante de estar sempre atenta. O apoio familiar é muito importante, até mesmo se chegar a internar algum ente querido”, explicou.
Prevenção
É importante saber que quanto mais informações sobre o suicídio forem divulgadas, maiores as chances da pessoa não cometer o ato de tirar a própria vida.
Andréa ressalta alguns pontos que podem ser significamente importantes na vida de uma pessoa, promovendo qualidade de vida, educação, proteção e recuperação de saúde.
“Quanto mais as pessoas souberem sobre o assunto, através de ações de comunicação e informações de que o suicídio pode ser prevenido, mais chances de combater as mortes vai haver. Temos que falar mais sobre o assunto, isso é um tabu que precisa ser quebrado pela sociedade”, disse.
“Essa cartilha sobre o suicídio devia ser distribuída, assim com certeza já estaria ajudando. O que vai levar a diminuição nos casos são informação e esclarecimentos. Tudo isso já deixaria a pessoa mais atenta”, afirmou.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) de Mato Grosso oferece apoio 24 horas pelo 141 (Cuiabá e Várzea Grande) e (65) 3321-4111 (interior de Mato Grosso).