Quase 25% de todas as crianças e jovens encaminhados para um especialista em saúde mental no Reino Unido estão sendo recusados, segundo um chocante relatório divulgado no início de abril.
O centro de pesquisas britânico CentreForum revelou que, assim como os cerca de 23% de pacientes que estão sendo recusados, alguns chegam a enfrentar uma espera de dois anos e meio para conseguir acesso a tratamentos.
Em vez de priorizar a intervenção precoce, muitos pacientes foram informados que seus desequilíbrios não eram graves o suficiente e, por isso, o tratamento foi recusado.
Cerca de um a cada dez jovens, com idades de 5 a 16 anos, apresenta algum tipo de problema mental no Reino Unido — o equivalente a três em cada sala de aula.
O relatório, cujo objetivo é proporcionar um quadro dos serviços de saúde mental para jovens, também revela a maneira chocante pela qual pessoas com sérias doenças são tratadas.
1. Cerca de 25% das crianças e jovens no Reino Unido são recusados por serviços de saúde
Os serviços de saúde mental para crianças e adolescentes (CAMHS, na sigla em inglês) no Reino Unido estão recusando cerca de um quarto (23%) de todas as crianças e jovens encaminhados para tratamento por pais, clínicos gerais, professores e outros adultos. A ocorrência é frequente porque suas doenças não são consideradas sérias o suficiente ou adequadas para tratamento com um especialista em saúde mental.
2. O acesso ao tratamento com especialistas pode ser negado caso o IMC não seja baixo o suficiente
O instituto britânico observou que, em alguns casos, o tratamento para anorexia é negado a menos que o jovem esteja com um Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo do recomendado.
3. Jovens podem não conseguir um especialista caso estejam ouvindo vozes
Os critérios em uma área sugeriam que aqueles que estivessem “ouvindo vozes no contexto de ansiedade moderada, baixa autoestima ou mau humor” deveriam consultar um clínico geral ou um serviço de aconselhamento do setor voluntário e apenas serem encaminhados ao CAMHS se estivessem “escutando vozes que ordenassem comportamentos específicos”.
4.O acesso a um especialista pode ser negado caso o jovem tenha tido pensamentos suicidas apenas uma vez
O CentreForum revelou que uma unidade do CAMHS encaminhava as pessoas para um atendimento mais generalizado a menos que tivessem “ideação suicida duradoura” (ou seja, sentiram que tiveram intenção de cometer suicídio em mais de uma ocasião).
5. O tratamento pode ser negado caso a doença não tenha atingido um alto grau de gravidade
Em algumas áreas, os encaminhamentos não são aceitos a menos que o problema mental do jovem esteja “tendo um grande impacto na vida da criança, como a incapacidade de ir à escola ou represente uma grande perturbação para os relacionamentos familiares”.
6.O máximo tempo de espera para os serviços mais do que dobrou nos últimos dois anos
A análise do CentreForum sobre os dados da ONG NHS Benchmarking, que presta assessoria e monitora a qualidade do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido, mostrou que a média do tempo de espera máximo para todos os serviços mais do que dobrou desde 2011/2012.
7.O tempo de espera máximo e médio varia muito
Os entrevistados relataram que o tempo de espera máximo variava de quatro semanas até dois anos e meio. A média do tempo de espera máximo para cada serviço era de aproximadamente dez meses para o começo do tratamento.
A média do tempo de espera entre diferentes provedores também variava muito, de duas semanas no condado de Cheshire, na Inglaterra, a 19 semanas em North Staffordshire, região no oeste do país.
O tempo de espera médio em Gateshead é cinco vezes maior do que na vizinha Tyneside. Da mesma forma, a espera na região metropolitana de Londres varia de dois meses em Kensington e Chelsea a até seis meses em Brent, na região noroeste.
8.Há também “esperas escondidas” no tempo médio de espera
O CentreForum revelou que a mediana do tempo de espera máximo para todos os serviços era de 26 semanas (6 meses) para uma primeira consulta e quase dez meses (42 semanas) para o começo do tratamento.
Alguns órgãos nem sequer medem o tempo de espera, o que significa que alguns pacientes podem estar esperando mais do que isso.
9.O local de residência pode afetar o custo dos tratamentos
A análise do CentreForum sobre a despesa regional com saúde mental também revelou uma divisão entre o norte e o sul do país, com as regiões do norte mostrando gastos maiores com serviços enquanto foram identificados problemas de capacidade no sul.
O presidente da Comissão do CentreForum e ex-ministro de Saúde Mental, Norman Lamb, comentou: “Esta pesquisa confirma a verdadeira extensão dos problemas dos serviços de saúde mental prestados às crianças e jovens”.
“Muito frequentemente a ajuda às nossas crianças é recusada ou elas são forçadas a esperar meses por um tratamento. Isso vai contra o que todos nós sabemos — a intervenção precoce pode prevenir que a doença chegue a um nível crítico.”
O ex-ministro continuou: “Este é um escândalo que tem existido por muito tempo.
É inaceitável. Se vamos finalmente atingir a igualdade entre a saúde física e mental, como o governo tem defendido, essas deficiências devem ser abordadas com urgência”.
O presidente-executivo do CentreForum, David Laws, disse: “Esta nova análise revela um quadro gritante das pressões sobre os serviços de saúde mental de crianças e adolescentes”.
“A intervenção precoce com jovens é essencial para prevenir que os problemas de saúde mental piorem. No ano que vem, o CentreForum vai expandir sua pesquisa para os desafios enfrentados pelos serviços de saúde mental.
É vital que melhoremos nosso entendimento do sistema atual, que sofre com a escassez de dados claros, e avaliemos se houve progresso para transformar os serviços.”
Um porta-voz do Departamento de Saúde disse: “Estamos cumprindo nossos compromissos em relação à saúde mental das pessoas. Um total de 1,4 bilhão de libras esterlinas [cerca de R$ 7 bilhões] será disponibilizado, como prometido, nos próximos cinco anos, financiando a maior transformação já vista do setor, com todos locais no país revolucionando seus serviços.
Isso inclui 28 milhões de libras [R$ 140 milhões] para continuar a proporcionar terapias da fala para crianças, expandir capacidade e ajudar mais crianças a conseguir a ajuda que necessitam antes de atingirem um nível crítico.”
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost UK e traduzido do inglês.