Matéria de 2013 que traz reflexões necessárias sobre o suicídio na população idosa
O suicídio do ator, diretor e produtor Walmor Chagas, no dia 18 de janeiro, trouxe à tona um assunto espinhoso, mas de suma importância: a depressão na terceira idade. Aos 82 anos, Walmor vivia praticamente isolado em um sítio no interior de São Paulo. Enxergava mal, tinha dificuldades para andar, se alimentava pouco e contava frequentemente com a ajuda de empregados para executar tarefas cotidianas. Um de seus amigos disse à imprensa que o artista teria comentado que desejaria partir, caso se tornasse uma pessoa dependente.
As limitações típicas da velhice são o principal detonador dos casos de depressão entre idosos, conforme pesquisas da psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “O sistema imunológico, a visão e a capacidade motora e de locomoção ficam comprometidos. Em alguns casos, a pessoa requer auxílio até para fazer a própria higiene. É uma fase de difícil aceitação, e há quem jamais a aceite”, afirma a especialista.
Outros fatores que devem ser levados em consideração são o isolamento social e o sentimento de inutilidade, em geral decorrentes da ausência do mercado de trabalho.
“Hoje em dia, a maioria das famílias não tem tempo ou estrutura para cuidar dos idosos. Todos têm de trabalhar e os deixam sós. A solidão, a falta de dinheiro e a dependência entristecem”, explica Sônia Fuentes, psicóloga com especialização em geriatria e mestre em Gerontologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “E mesmo em circunstâncias em que as condições monetárias são boas, há casos em que a depressão e as limitações os atrapalham, impedindo-os de fazer suas escolhas e tornando-os apáticos demais”.
A perda de parceiros e amigos de toda uma vida pode contribuir para o surgimento da depressão. “Quando morre alguém querido, morre também uma parte sua. Para um idoso isso é ainda mais grave, porque ele sabe que foi embora um pedaço de sua vida que nunca mais vai poder viver de novo”, declara Denise Diniz.
De acordo com o cardiologista Thiago Marchini Naves, diretor-administrativo da Casa Vita – Moradia Assistida para Idosos, em São Paulo, a depressão ainda costuma surgir associada a doenças de grande incidência na terceira idade, como pressão alta, diabetes, infarto, artrose, derrame e câncer. Certos remédios também podem provocar quadros depressivos.
Sinais de alerta
Boa parte dos sintomas é a mesma dos casos de depressão em qualquer faixa etária: distúrbios do sono e do apetite, fadiga, tristeza, choro, dificuldade de concentração e memória falha. O que define a doença é a intensidade e a frequência desses sinais. Mas os idosos, de acordo com a psicóloga Denise Diniz, costumam se entregar com mais facilidade.
“Os idosos têm sentimentos de culpa e inutilidade. Dificilmente vão falar abertamente que querem morrer, porém começam a usar frases como ‘Seria melhor seu eu desaparecesse’, ‘Não queria dar tanto trabalho’, ‘Velho não serve para nada’ etc. A desesperança revelada por essas palavras é um caminho perigoso rumo ao suicídio”, diz a médica.
Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que as taxas de suicídio é maior entre os homens. “As mulheres também sofrem com os problemas típicos da velhice, claro, mas costumam encarar a vida com mais realismo e menos passividade, talvez porque tenham uma noção mais nítida da mortalidade e se cuidem mais, sob os pontos de vista estético e da saúde”, afirma Thiago Naves.
Velhice feliz
A maneira com que cada pessoa investe na qualidade de vida ao longo dos anos tem tudo a ver com o que vai colher na terceira idade, obviamente. Racionalmente, o que você faz hoje repercutirá no futuro, mas nem sempre as coisas saem conforme o planejado. E apesar do aumento da longevidade e dos avanços tecnológicos ninguém pode nem deve contar com a garantia de que chegará aos 90, 100 anos, com saúde e vigor.
Além dos medicamentos específicos e das sessões de psicoterapia, para enfrentar a depressão é preciso coragem, motivação e vontade de se adaptar às necessidades de mais uma fase do desenvolvimento humano. A família e os amigos têm papel fundamental para ajudar o idoso a atravessar a doença, mas ele também tem de encontrar os próprios mecanismos de defesa e procurar se manter ativo.
Seja na companhia de parentes, amigos ou em centros de convivência, é fundamental não descuidar da socialização e cultivar algum hobby. Se existe algum tipo de limitação, vale procurar outras formas de atividade. Quem sempre adorou ler ou escrever, por exemplo, mas agora tem a visão debilitada, pode gravar suas memórias ou narrá-las para alguém.
Lembrar acontecimentos antigos e contar histórias para a nova geração são atitudes importantes, porém, o idoso não deve ficar preso somente ao passado. “Ter objetivos é fundamental para ter disposição e mandar bem longe a impressão de que o tempo está acabando”, diz a psicóloga Denise Diniz.