Na Área Metropolitana de Lisboa há uma associação significativa entre o risco de suicídio e a privação material, concluiu um projeto de investigação coordenado pelo Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (GEGOT) da Universidade de Coimbra.
Um dos estudos integrados no projeto Smaile (Saúde Mental – Avaliação do Impacte das condicionantes Locais e Económicas), que analisou a relação entre a privação material e social e o risco de suicídio nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, identificou uma associação significativa entre privação material e mortalidade por suicídio na capital.
Segundo o estudo, na Área Metropolitana de Lisboa, a população “que reside em freguesias com maior privação material tem um risco de mortalidade por suicídio 18% superior quando comparada com a população a residir em freguesias com menor privação material”, disse à agência Lusa a coordenadora do projeto, Paula Santana.
Face a este resultado, a especialista defende uma “adequação das intervenções às características dos diferentes territórios, definindo como prioridade a atuação nos determinantes da pobreza, nomeadamente em intervenções que pretendam promover a literacia, o emprego e a melhoria das condições de habitação”.
Em Lisboa, identificou-se um maior número de freguesias com elevado risco de se morrer por suicídio, apesar de ser mais difícil criar um “padrão geográfico” das mesmas.
Nesta área metropolitana “existem municípios cuja maioria das freguesias possuem risco elevado de mortalidade por suicídio”, sublinhou, apontando para freguesias nos concelhos de Mafra, Loures e Lisboa, na margem norte, e Montijo, Palmela, Setúbal e Sesimbra, na margem sul.
Já no Porto, o risco elevado localiza-se “sobretudo em freguesias de maior ruralidade, interiores e limítrofes, nomeadamente nos municípios de Santo Tirso, Paredes, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e Arouca”.
Na Área Metropolitana do Porto, deveriam ser encetadas ações “direcionadas aos grupos que se encontram em grande vulnerabilidade social, como os idosos que vivem sós e a população em situação de pobreza”.
As câmaras municipais poderão ter um papel relevante na diminuição das desigualdades em saúde, nomeadamente através de intervenções intersetoriais e enquanto agentes na alteração da relação entre os contextos de privação e o suicídio”, concluiu o estudo.
O índice de privação material foi construído para este estudo com base em três variáveis: analfabetismo, desemprego e alojamentos familiares de residência habitual sem retrete.
Outro estudo do mesmo projeto, que analisa internamentos por doença mental nas duas áreas metropolitanas, também identifica uma associação positiva entre o número de internamentos e os níveis de privação, “tanto material como social”, das áreas de residência dos utentes.
O efeito da crise não se faz sentir de modo uniforme em todas as áreas, mas é mais intenso em áreas contextualmente mais vulneráveis”, refere.
O projeto Smaile reúne diversos estudos centrados no impacto da crise na saúde mental em Portugal, tendo sido financiado pelo Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)