Dados obtidos pela reportagem do O Olho, apontam que pelo menos 50 pessoas tiram a vida todo ano em Teresina. Precisamos falar sobre isso.
Pressão. Sete letras, inúmeras significações. Segundo o contexto da física ela corresponde a uma grandeza, uma força exercida sobre alguma coisa. Ato de comprimir, pressionar. Pressão hidrostática, pressão atmosférica, pressão absoluta, pressão arterial…
Ela faz parte da vida, até para conseguir nascer. No entanto, a medida que o tempo passa, a maturidade vai chegando, ela começa a aparecer mais e mais. Quando adoecemos, aferem-nos a pressão… Quando temos que terminar um trabalho, o vestibular, o emprego, o tempo, o sucesso, os outros, nós mesmo, pressão…
Você começa a sentir a pressão de todos os lados? Dos amigos, da família, da escola, da sociedade. Essa pressão por algum instantes tirou sua alegria, tirou sua convicção sobre sua própria identidade e todo o sentido daquilo que você faz?
É dessa pressão que iremos tratar.
Recentemente uma onda de suicídios chocou o Piauí, talvez você não esteja sabendo, pois a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a mídia trate o assunto com cautela, no entanto, é consenso entre os meios de comunicação não noticiar casos desse tipo. Entretanto, nas redes sociais virtuais não há espaço para regras, a não ser as do próprio Facebook.
No Piauí, especificamente dois profissionais de comunicação e um estudante tiraram a própria vida em menos de um mês e meio. Virou notícia, gerou questionamentos, reflexões e uma série de debates. No entanto, dentro dessa tribuna, dentro desse tabu, surgiram mais e mais porquês.
O que leva uma pessoa a tirar própria vida? Preconceito? Crise? Depressão ? Ou fato de sempre observar o sucesso alheio e as próprias realizações nunca chegarem?
TERESINA: MÉDIA DE 54,8 PESSOAS TIRAM A VIDA TODO ANO NA CAPITAL
A OMS revela que tirar a própria vida é segunda maior causa de óbitos entre pessoas de 15 a 29 anos; no Brasil, índice nessa faixa aumentou mais de 10% desde o ano 2000.
Na capital piauiense, em cinco anos os números de casos de suicídio cresceram exponencialmente. Os dados mostram uma escalada de 28,2% de 2010 à 2015. Em comparação ao ano anterior (2014) mostra uma variação de 5,3%. A faixa etária onde há o maior número de registros em Teresina vai de 25 a 49 anos. Só ano passado 35 pessoas se suicidaram dentro dessa faixa, a maior em cinco anos.
Em 2010, 46 pessoas cometeram suicídio em Teresina. Em 2015, foram 59, ou seja, o maior número em cinco anos.
COMO A PSICOLOGIA EXPLICA
A reportagem de O Olho buscou a psicoterapeuta Ilana Arêa Leão que desenvolve pesquisas relacionadas aos transtornos relacionados ao comportamento suicida para compreender de fato como Medicina explica esse tema tão complexo.
egundo ela, os hábitos humanos são muito subjetivos, mas existem pequenos “gatilhos” que podem levar a identificação do comportamento suicida em estágio inicial. Podem ser sutis como mudanças no ambiente familiar ou escolar, passando por crises de identidade sexual. A recomendação é prestar atenção nesses sinais iniciais.
“Alguns indícios inicias são levantados para suspeitar que aquele indivíduo pode estar em estágio inicial de suicídio. Depressão individual, uso de substância, como drogas, o indivíduo que verbaliza de maneira clara está que está descrente com vida, que não tem mais planejamento de vida. Podem ser indicio de um possível pensamento suicida, um relance”, afirma a especialista.
O alerta vermelho deve ser ligado quando há sinais como queda do rendimento escolar, não mais conseguir frequentar o ambiente de trabalho, desânimo, vontade de comer de forma compulsiva, sono demais ou não dormir de jeito nenhum. Situações como essa mostram uma alteração no comportamento do indivíduo, “temos que ficar atentos isso”, pontua.
DA IDEIA A EXECUÇÃO
A especialista afirma que há três passos que um indivíduo passa até tirar a vida e as perguntas são feitas na hora de uma investigação clínica: ideação, planejamento, ação.
“A ideação é quando o indivíduo têm a ideia de se matar por que não quer mais viver com aquela angústia. O Planejamento é como ele vai se matar. É neste momento que ele pensam em uma corda ou um revólver. E a ação é o estágio final”, frisa.
Leva um tempo dá ideação até o planejamento, esse é o momento ideal que os profissionais de saúde mental conseguem ter como agir e prevenir.
DEIXOU RECADO
Indivíduos com estruturas de personalidades impulsivas, são pessoas que tem dificuldade de avaliar seus atos e que não param muito para pensar. Querem se livrar imediatamente da daquela dor existencial. Por isso, a pessoa que pensa tirar a própria vida manda inúmeras mensagens. “É uma máxima que dizem por aí de que, quem quer se matar não manda recado. É mito. Quem quer se matar manda recado sim”, afirma a especialista.
OLHO NO OLHO
As recomendações passam desde uma relação mais próxima de afeto até a consulta com um psiquiatra. “As vezes a pessoas fica dois dias isolados no quarto e não vai ninguém da família lá. Você respeita até certo ponto. Mas quando você perceber que o estado está passando de um simples momento de tristeza é necessário estabelecer relações de afeto, de cumplicidade, olhar no olho e dizer: ‘Eu tô aqui para te ajudar’, ‘Eu tô aqui para colaborar no que você precisar de mim’. E caso houver necessidade buscar um profissional de saúde mental”.