Quando uma pessoa opta pelo suicídio, todos os familiares e amigos, muitas vezes, são pegos de surpresa e relatam que a pessoa não havia dado nenhum indício de que estaria a ponto de cometer tal ato. Entretanto, estudos mostram que de cada dez pessoas, oito dão sinais de que vão cometer suicídio, apesar de muito desses sinais não serem fáceis de detectar.
Para o psicólogo Carlos Henrique Aragão, é preciso que a família fique atenta a alguns comportamentos de possíveis suicidas. “O isolamento, a perda do prazer em atividades que eram prazerosas, despedidas, desfazer-se de objetos ou bens significativos, tristeza profunda, comportamentos de risco, falas como “a vida não tem mais sentido, sinto um grande vazio, não vejo uma luz no fim do túnel” ou coisas do gênero, além da queda brusca no rendimento escolar, faltas frequentes no trabalho ou mudanças de comportamento sem justificativas aparentes, são alguns desses sinais”, pontua o psicólogo e também pesquisador do assunto. Vale ressaltar que nem todo mundo que manifesta algum desses sinais, necessariamente vai cometer o suicídio.
Apesar desses sinais, que podem servir como alerta, deve- se ter consciência de que isso é um tema difícil e requer cuidado em todos os sentidos. “Precisamos saber que um suicídio é fruto de uma série de fatores sociais, biológicos, culturais, ambientais, religiosos, psiquiátricos e psicológicos. É um fenômeno extremamente complexo e multideterminado”, pontua Carlos Aragão, acrescentando que: “decodificar esses sinais, na maior parte dos casos, não é tarefa simples para quem está convivendo cotidianamente com alguém que está nesse processo. Não se deve banalizar o termo “chamar a atenção” e negligenciar um pedido de ajuda. É importante estendermos a mão, darmos os ombros, emprestarmos os ouvidos a quem está em sofrimento”, orienta.
Para o psicólogo, ninguém comete suicídio “ao acaso”. O que acontece é que as pessoas que são mais impulsivas têm um importante fator de risco a mais. “Sempre existe um processo anterior ao ato, que se inicia com a ideação suicida, depois segue para um planejamento da própria morte e culmina com o ato em si”, finaliza.
Fatores de risco
Apesar de todos esses sinais que um possível suicida possa manifestar ao longo do tempo, existem alguns fatores de riscos destacados pela Organização Mundial de Saúde que podem acentuar a probabilidade da ocorrência de casos de suicídio em que também se precisa ficar atento: a tentativa anterior, o transtorno mental e o histórico de suicídio na família.
Teresina é uma das cidades com maiores taxas de suicídio
“Os suicídios vêm crescendo à sombra de dois gigantes de nossa mortalidade violenta: a dos acidentes de trânsito e a dos homicídios, com taxas entre quatro e seis vezes maiores”, é o que afirma o relatório do Mapa da Violência de 2014, que realizou um panorama da evolução da violência dirigida contra os jovens no período compreendido entre 1980 e 2012. De acordo com o relatório, as taxas de suicídio no mundo cresceram 62,5% entre os anos que foram analisados.
No Brasil, entre os anos 2002 e 2012, o total de suicídios no país passou de 7.726 para 10.321 – o que representa um aumento de 33,6%. Esse aumento foi superior ao crescimento da população do país no mesmo período, que foi de 11,1%. No mesmo espaço de tempo, o Piauí ocupou o quarto lugar no ranking do crescimento das taxas de suicídio, com 69,7%, ainda de acordo com o Mapa da Violência.
Esse relatório aponta ainda que, as unidades federais Florianópolis e Teresina apresentam as maiores taxas totais de suicídio do país, com 9,5 e 8,9 suicídios por 100 mil habitantes, respectivamente, no ano de 2012. As menores taxas encontram-se em Salvador e Belém.
Entre os jovens, Boa Vista e Teresina lideram o ordenamento das capitais, com 11,8 e 10,4 suicídios por 100 mil jovens. Belém e Salvador são as capitais de menor incidência. Recentemente, a população teresinense foi acometida por casos seguidos de jovens que optaram interromper a própria vida, o que comprova os dados presentes no relatório do Mapa da Violência. Os casos demonstram que os debates sobre o tema devem ser fortalecidos e despertam a necessidade de se prevenir e combater o suicídio.
De acordo com o psicólogo Ricardo Costa, existem várias hipóteses que explicam porque Teresina possui elevadas taxas de suicídio. Para ele, os números crescentes podem estar relacionados às questões culturais da região. “A ideia é que estamos inseridos em uma cultura que valoriza alguns aspectos das relações sociais que deveriam ser mais leves”, afirma ele, acrescentando que uma dessas principais questões é o modo como a educação é tratada no Piauí, sobretudo, em Teresina.
“Parece que aqui, a educação, principalmente no ensino médio, tem uma força na formação da subjetividade no sentido de aprovação social. Então a gente vê casos que não são muito divulgados, inclusive hoje, de adolescentes que cometem suicídios por não passarem em determinado curso, ou por passar em um curso que não queria por conta da aprovação da família”, pontua.
O psicólogo afirma que a lógica social da cidade não favorece a qualidade da saúde mental de seus moradores. “A gente não encontra em Teresina muitos projetos ou até espaços onde você possa estar desenvolvendo o que a gente chama de saúde mental, que ela é desenvolvida de várias formas, inclusive com o lazer. A cidade não propicia muita cultura, muito lazer, muito contato social. É claro que isso é uma leitura pessoal, mas eu acredito que até o clima também deve favorecer ou impedir de alguma forma algumas questões”, esclarece Ricardo.